Folk e poesia na nova fase de Júpiter Maçã

05/02/2015

Powered by WP Bannerize

Pedro Jansen

Por: Pedro Jansen

Fotos: Lucas Neves

05/02/2015

Eu nunca havia assistido a um show do Júpiter Maçã. Fã dele há pelo menos uns 8 anos, mas morando longe demais das capitais, só podia ficar com os relatos dos amigos que o viram em grande fase em São Paulo, ou que cruzaram com ele em shows nada animadores e até catastróficos, lá onde não existe amor, e aqui em Porto Alegre. Ontem foi a minha noite de batismo nas loucuras e expressões e manifestações de Flávio Basso, agora um senhor sem barba, de “cabelo meio revoltado”, nas palavras dele, e proeminente barriguinha de ex-roqueiro. E que noite, senhoras e senhores.

Que noite.

*

Jupiter Maçã volta aos palcos

Com apenas violões, piano e uma gaita de boca, mas também com as participações especialíssimas de Lucas Hanke e Leonardo Boff, “They’re All Beatniks” invadiu o Teatro Bruno Kiefer sem cerimônia alguma. As luzes eram chapadas, a cenografia se resumia a bule e xícara de café bem bonitos e Júpiter estava sóbrio, bem humorado, visivelmente nervoso e muito querido. A falta de cerimônia fez muito bem para o espetáculo, a começar já na primeira canção, “Beatle George”. Um mal-contato no cabo do violão perturbou a execução da música, então que outra solução senão recomeçar o show? Recomecemos o show.

E como acontece quando se trata de um artista que passeou bastante pela psicodelia e pela lisergia e pela chapação, é no subtexto das coisas que estão as demais mensagens que suas músicas carregam. Não há sutileza alguma em abrir o par de shows que Júpiter faz depois da internet se assustar com uma entrevista sua concedida a Rogério Skylab justamente com sua canção mais confessional, na opinião deste modesto escritor. “Ah! Eu deveria parar de beber, porque (ah!) não estou fazendo bem a quem me ama”. Então, com essa introdução, todos sabemos o que estamos fazendo aqui. Todos sabemos quem estamos vendo. E ficamos de boca aberta.

Jupiter Maçã volta aos palcos

Junto com execuções intimistas e muito, muito sentimentais do seu repertório consagrado – “Mademoiselle Marchand”, “Welcome to the Shade”, “Eu e Minha Ex”, “Essência Interior”, “As Tortas e As Cucas”, “Querida Superhist”, “Marchinha Psicótica de Dr. Soup” – sobrou espaço para um cover de “House of Rising Sun”, improvisos, piadas, historietas e dois poemas de sua autoria (sendo o segundo, “Incêndio de Roma”, realmente muito bom).

Se o artista dizia numa matéria na Zero Hora que nenhuma de suas personas estaria no palco, mas que atravessaria os dois shows como uma Chapeuzinho Vermelho, querendo saber se iria “conseguir chegar ao final da floresta com todas as amoras na cestinha”, pela noite de ontem posso afirmar que os passos estão firmes, o Lobo Mau não deu as caras e que existe um lugar do caralho esperando por Júpiter Apple ou Maçã, por Flavio Basso ou por quem quer que ele seja quando ressurgir.

Estamos todos ligados na sua essência interior, man.

Quem perdeu o show de ontem, tem uma segunda chance. Hoje, 5/2, Júpiter Maçã faz uma segunda apresentação às 20h, no Teatro Bruno Kiefer, em Porto Alegre.

Tags:, , ,

05/02/2015

Me interesso por música desde muito jovem, e de ouvinte acabei passando a músico (claro) e escritor (que surpresa). As bandas até que deram certo, mas escrever sobre música tem sido muito mais recompensador. Sou fã de post-rock e de Deize Tigrona, de Caetano hippie e rap nervoso. Meu refrigerante predileto é Fanta Uva. Adoro morar no futuro.
Pedro Jansen

Pedro Jansen