Como permitir que a música seja acessível ao público garantindo que os artistas recebam bem por sua arte?
Não há resposta fácil para essa pergunta que é o cerne de um debate que perpassa toda cadeia da indústria musical. Ontem, o criador do Tame Impala colocou lenha na fogueira dessa discussão com uma entrevista à emissora inglesa BBC Radio 6. A locutora Mary Anne Hobbs convidou Kevin Parker para refletir se a música deveria ser totalmente livre ou não.
Parker não chegou a se posicionar objetivamente sobre a questão da entrevistadora, no entanto, discorreu sobre o assunto com uma honestidade rara de se ver entre artistas tão em evidência quanto ele. Kevin explicou que, para ele, o valor da música não depende de ela ter sido comprada ou não nem de estar sendo ouvida em uma mídia física ou não:
– O valor da música, para mim, não está no valor que eu paguei por ela. Quando eu era uma criança, economizava três meses pra comprar um CD e, quando conseguia o CD, achava a coisa mais incrível do mundo. Um tempo depois, um amigo gravou um CD pra mim com músicas baixadas ilegalmente e foi uma experiência tão poderosa quanto, eu me apaixonei pelo disco apesar da sua qualidade sonora ser meio podre. (…) Então, pra mim, não tem tanto a ver com quanto você paga ou se é uma mídia física ou não, [a música] pode atingir o mesmo efeito em você. – comentou o artista.
Na visão do vocalista do Tame Impala, a música é algo tão importante que merece ser ouvida de qualquer forma possível:
– Pra mim, não tem nada que esteja no mesmo nível do que a música. Ela define quem você é e se torna a trilha de momentos da sua vida. De qualquer maneira que você puder, ouça. Se você tiver que encomendar um disco e esperar três meses até ele chegar pelo correio pra você botá-lo na agulha, essa é a sua experiência, e isso é incrível! Se você quiser ouvir em streaming, e é assim que você faz, tudo bem.
Kevin Parker diz que não tem nenhum problema com os fãs que baixam suas músicas ilegalmente:
– Eu não culpo eles, não. Eu costumava baixar músicas ilegalmente. Todo mundo fez isso, ninguém é inocente. Se alguém me diz: “Cara, eu amo seu disco, ele realmente me ajudou a superar o fim de uma relação”, ou algo assim, “mas eu baixei ele de graça”, eu vou dizer: “Que bom! Isso é muito bom!”. Talvez ele não tivesse dinheiro pra comprar o disco, mas ainda assim ele está escutando o disco, e significa algo pra ele, é uma parte importante da sua vida. Isso é tudo que eu posso querer. Eu não quero as vinte pratas dele!
O músico encerrou sua fala lembrando que há outras formas de se ganhar dinheiro com música, por exemplo, vendendo-a para anúncios e filmes. “Isso significa que as empresas estão pagando [por minha música]. E quem tem o dinheiro são elas!”.
– Eu não estou dizendo que eu acho que a música deveria ser de graça, mas eu acho que, se as pessoas podem conseguir ela de graça, não há nada que ninguém possa fazer para impedi-las. É meio que um gasto de energia tentar forçar elas a pagar por isso se elas não precisam fazer isso – comentou.
Ouça abaixo a entrevista dele na íntegra: