Pode falar o que quiser de 2016, mas se teve algo de bom nesse ano foi que não faltaram discos incríveis. Uma enxurrada de LPs históricos, CDs com encartes incríveis e muitos plays nos streamings mantiveram os nossos ouvidos lotados de som pelos últimos 365 dias.
Reunimos o pessoal da NOIZE para escolher quais foram os discos favoritos do ano e, abaixo, mostramos nossas escolhas. Como resolvemos nos focar em apenas vinte lançamentos internacionais e vinte nacionais, muita coisa boa ficou de fora… Mas é assim mesmo, né? Qualquer lista é um recorte e já nasce incompleta, por maior que seja.
Os quesitos técnicos da produção do disco foram evidentemente considerados, mas, admitimos, o critério final de escolha foi passional. Nada mais justo, já que a música nasce das emoções dos artistas e é feita para provocar outras tantas em quem ouve.
Confira abaixo nossa lista de favoritos internacionais e nacionais:
10) Hinds – Leave Me Alone
Antes mesmo de lançar seu disco de estreia, as Hinds encerraram 2015 com grande destaque na maioria das listas de aposta para 2016. Leave Me Alone saiu no comecinho do ano e comprovou todas as expectativas sobre o poder que a espontaneidade consegue ter na música, sendo esse o principal ingrediente que faz as chicas de Madri tão singulares no contexto atual da música.
O álbum tem doze faixas que falam sobre a mistura entre festas e amores ao som do melhor estilo lo-fi caseiro. É como aquela história clássica de amigas que resolveram montar uma banda de garagem apenas por diversão e agora respiram essa brincadeira.
Por Tássia Costa
9) Wilco – Schmilco
O 10º álbum de estúdio do Wilco já começou a fazer barulho antes mesmo de sair, seja por conta da capa assinada pelo famoso ilustrador Joan Cornellà, ou pela irreverência do nome (uma referência ao álbum Nilsson Schmilsson, de Harry Nilsson). Lançado apenas 1 ano após o antecessor Star Wars, Schmilco mostrou que nunca se pode saber o que esperar dos caras. Com uma produção “displicente” e predomínio de instrumentos acústicos, as letras de Jeff Tweedy revelam o compositor cavando cada vez mais a fundo no âmago da própria alma, elevando a sua capacidade autocrítica a um nível passível de tornar belas as mais podres verdades humanas. “I hunt for the kind of pain I can take”. Durma-se com com um verso desses.
Por Rodrigo Laux
8) James Blake – The Colour In Anything
O último do James Blake não é um álbum pra ouvir – é um álbum pra sentir.
Sem muitos avisos e expectativas, The Colour In Anything foi lançado em maio, e eu ouço ele até hoje e ainda não consegui entender toda a grandeza desse disco.
James fez apenas mais do mesmo. E isso é genial.
Como em todos seus outros trabalhos, a voz e a intensidade do cara entra pelo ouvido e rebate pelo corpo. As faixas são tristes, inspiradoras e leves. Já em “Radio Silence”, a primeira da lista, a gente saca que o álbum vai ser uma surra de vibes. Mas, na minha humilde opinião, o ápice do sentimento se alcança em “I Need A Forest Fire”, track com o Bon Iver, que deixa a gente querendo chorar e sair correndo pulando ao mesmo tempo. Blake fez um dos álbuns mais densos e admiráveis do ano e pegou todo mundo de surpresa com essa obra.
Por Daniela Barbosa
7) Nick Cave & The Bad Seeds – Skeleton Tree
Disco pesadíssimo com uma produção mínima e detalhada de vocais, baixo, piano e violão fundidos com sintetizadores e a dor profunda que Nick sofreu com a morte prematura do seu filho Arthur. Aos 15 anos, o adolescente caiu de um penhasco em Ovingdean, perto de Brighton, a tragédia que aconteceu no meio das gravações do álbum e afetou o seu resultado sensivelmente. A realidade foi mais triste que a poesia, mas, pra mim, est trecho de “Antroce” explica porque esse é um dos melhores discos de 2016: All the things we love, we love, we love, we lose / It’s our bodies that fall when they try to rise / And I hear you been looking out for something to love / Close your eyes, little worm / And brace yourself”.
Por Cassio Konzen
6) Iggy Pop – Post Pop Depression
Post Pop Depression é o maravilhoso resultado da colaboração entre Iggy Pop e Josh Homme (Queens of The Stone Age) e chegou revelando algumas das melhores letras já escritas pelo líder do Stooges: “I’m not the man with everything, I’ve nothing but my name”, ele canta em “American Vanalla”. O próprio Iggy declarou que o álbum fala sobre quando alguém reconhece que sua utilidade está chegando ao fim e a pessoa tenta lidar com o seu legado.
Pop e Homme fizeram um acordo de experimentar coisas jamais antes testadas por ambos, e a premissa funcionou. Tanto que Iggy chegou a afirmar que estaria encerrando sua carreira depois dessa obra, e, caso isso se concretize, ele nos deu um ótimo final act para ser lembrado como um dos grandes ícones da música.
Por Tássia Costa
5) Anderson .Paak – Malibu
Não é preciso muito mais do que os primeiros segundos de “The Bird” – faixa que abre Malibu – para entender o nível absurdo de talento e soulful de .Paak. Com personalidade de sobra para cantar e tocar bateria (!), é possível sentir a emoção à flor da pele em cada segundo da sua mistura certeira de soul/funk/R&B com rap, além de estruturas e linguagens de produção inovadoras. E tudo isso sem deixar de se fazer entender: .Paak pode fisgar desde um músico exigente e atento, até aquele ouvinte mais eventual e descriterioso. O fato é que não dá pra passar batido por clássicos instantâneos como “Put Me Tru”, “Come Down” e “Silicon Valley”. Acredite quando ele diz: o seu coração não tem chance.
Por Rodrigo .Laux
4) Radiohead – A Moon Shaped Pool
É difícil conseguir se distanciar ao fazer uma crítica de um álbum de estúdio do Radiohead. Há sempre a dicotomia “ame ou odeie”, e felizmente eu me enquadro na primeira opção. Nesses 25 anos de carreira, houve uma construção de relacionamento sólida entre a banda e seus fãs, cultivada através da sonoridade única que o quinteto britânico adquiriu a partir de discos como Kid A e Ok Computer.
Foi em 8 de maio de 2016, num domingo de dia das mães, que começaram a surgir os primeiros indícios de que o disco novo do Radiohead estava de fato por vir. No mesmo dia já era possível tocar A Moon Shaped Pool na íntegra, apenas via Apple Music. Mais um do Radiohead em toda sua forma! De cara os timbres me chamaram a atenção. Orquestrações, muito cuidado, mistura do analógico com o som de baterias eletrônicas antigas (talvez por que tenha sido inteiramente gravado em fita, ao contrário de King of Limbs, álbum anterior). Tracks como “Decks Dark” e a abertura “Burn The Witch” se destacam. Na sequencia do disco, a belísssima “Identikit”, com seu groove e letra intensa e a (já conhecida dos fãs nos anos 90) “True Love Waits” fazem desse álbum um belo exemplar fonográfico dentro da discografia do Radiohead. Um álbum denso, com uma melancolia bela e presente em todas as suas faixas, provavelmente influenciado pelo fim do relacionamento de 23 anos de Thom Yorke e Rachel Owen, que deixou o mundo no último domingo.
Rafael Rocha
3) Kendrick Lamar – Untitled Unmastered
A partir de agora, um misto de sonoridades toma conta dos seus fones de ouvido. Kendrick Lamar lançou, de surpresa, Untitled Unmastered e merece um prêmio por isso, afinal de contas o cara é um gênio. Vai das raízes do rap e graves marcantes a uma mistura incrível de jazz, bossa nova, solos de saxofone e dedilhados de piano. Untitled Unmastered é assim: tudo junto e misturado, sem perder a essência e o conceito sonoro. É um disco que inspira pela sua qualidade, potência e relevância, sem falar das parcerias que ajudaram a construir esse trabalho, como Anna Wise e CeeLo Green. Mais uma vez, Kendrick Lamar gravou o seu nome na história do rap.
Sou fã assumida do Lamar e da sua música. Untitled Unmastered tem 8 faixas intituladas, ao que parece, pelas datas de quando teriam sido gravadas. Kendrick conseguiu transformar o simples em algo absurdo e genial. É, sem sombra de dúvidas, um dos discos de maior qualidade sonora e que coloca à prova todo o talento e originalidade do rapper.
Por Jéssica Teles
2) Frank Ocean – Blonde
Um dos álbuns mais aguardados e chorados de 2016 foi o Blonde, do Frank Ocean. Depois de ficar adiando o lançamento desde 2015 – Frank adora viver de mistério -, o segundo disco do cantor finalmente chegou. Antes dele, o Channel ORANGE (2012) já tinha feito todo mundo que curte um bom R&B morrer de amores pelo som sex vibes do cara, o que elevou até o infinito as expectativas pro tal segundo disco.
E, mesmo tendo feito todo mundo de palhaço por quase dois anos, dando data de release e não cumprindo, o Blonde finalmente saiu e Ocean não nos decepcionou.
As letras, os beats e os vocais são tão intimistas e matadores quanto seus outros sucessos. A cada refrão é um tiro novo que a gente leva. A cada track é mais uma história de bad que a gente se identifica. E, como 2016 foi um ano bem bad pra todo mundo, esse disco fecha perfeitamente como trilha sonora intensa e chorosa.
Por Daniela Barbosa
1) David Bowie – Blackstar
A história de Blackstar começa uns dois anos e meio antes do seu lançamento. Foi naquele momento, numa data ainda desconhecida de 2013, que David Bowie descobriu estar com câncer, doença que lhe levaria à morte apenas dois dias depois da chegada de seu álbum derradeiro – e ★ pode/deve ser levado como a representação sonora desse período entre o choque e o fim. O camaleão reservou seu último ato para uma contemplação lírica e sonora à sua biografia, especialmente seus últimos anos e suas reflexões sobre a morte – versos como “look up here, I’m in heaven, I’ve got scars that can’t be seen” ainda arrepiam. E ele fez isso acompanhado de músicos da nova geração do jazz americano que proporcionaram um acompanhamento acima da média do Bowie moderno, se destacando em trechos como o solo espetacular de “Dollar Days”. Houve até quem visse o álbum como parte de uma performance artística que envolvia também a própria morte, e tudo isso só é mais uma prova de como ninguém soube unir arte e espetáculo pop tão bem quanto David Bowie.
Por Leonardo Baldessarelli
10) MC Carol – Bandida
Tenho um imenso prazer em poder ver e ouvir essa nova fase de MC Carol. Não apenas entender o que ela representa, mas se apossar inteiramente de todos esses conceitos. Mulher, negra, moradora de comunidade, forte, independente e sem papas na língua. Tudo isso, se reflete em cada uma das nove tracks de Bandida, o primeiro álbum completo da artista.
Partipações de Leo Justi, Tropkillaz e Karol Conka abrilhantam as músicas com letras intensas e cheias de conteúdo, sem perder a irreverência debochada e a batida dançante tradicionais. Vida longa à todas nós, bandidas!
Por Joana Scarsi
9) Vitor Araújo – Levaguiã Terê
Levaguiã Terê é daquelas coisas que você só imagina surgindo no Brasil contemporâneo. Lançado depois de dois anos de trabalho do compositor Vitor Araújo, com apoio do Natura Musical, o disco duplo traz seis cantos, seis toques e duas vinhetas em 1 hora e 14 minutos de uma viagem musical entre Europa, África e América do Sul. O conceito que domina o disco é o sincretismo entre o clássico, o experimental, o rock e o nativo, indígena e africano – mais que afrobeat, é um olhar erudito e moderno para todas as sonoridades que moldam o jovem Vitor (que, aos 26, já tem 10 anos de uma carreira firme, começando ao piano e avançando para a composição clássica). Num momento, você acha que encontrou Villa-Lobos; noutro, parece estar ouvindo Radiohead; ao fim de uma música, você quase tem certeza de que caiu num dos labirintos cíclicos de Steve Reich. E assim o álbum vai se construindo, costurando elementos e timbres diversos em faixas que ou emocionam, ou fazem dançar, ou provocam os dois sentimentos. Há espaço para o clima tribal e contagiante de “Canto Nº 3: Vuto Flâmego” assim como a lindíssima “Toque Nº4: Caldi-Naguará”, levada pelo piano, coube muito bem no disco. Uma obra-prima que borra fronteiras, extremamente precoce para o seu estilo.
Por Leonardo Baldessarelli
8) BaianaSystem – Duas Cidades
Esse é um disco que fala muito sobre o Brasil atual. Além de ser a primeira cidade erguida em solo brasileiro, Salvador é a terra-natal do BaianaSystem e é interessante perceber como a capital da Bahia serviu de inspiração para o tema do álbum. Dividida entre a Cidade Alta e a Cidade Baixa, Salvador, no disco, se torna um grande símbolo do abismo econômico e social que divide a população brasileira. A especulação imobiliária que troca raios de sol na beira da praia por arranha-céus, a ausência crônica de dinheiro no bolso das pessoas e a rotina desumana do mercado de trabalho são alguns dos temas abordados nesse grito em forma de disco. Produzido e coarranjado por Daniel Ganjaman, é um álbum que flutua muito pelos timbres do reggae e do dub, mas não se deixe enganar pelo embalo canábico, Duas Cidades é um disco que conquista pelo poder de sintetizar a raiva.
Por Ariel Fagundes
7) Liniker e os Caramelows – Remonta
Liniker e os Caramelows chegaram de mansinho como quem passa só para dar um “cheiro” e conquistaram um grande espaço em nossos coracōes. Desde o lançamento de seu EP Cru, o público vinha aguardando ansiosamente o álbum completo. Remonta veio e não decepcionou, muito pelo contrário.
Veio recheado de soul (em todos os sentidos possíveis), músicas inéditas, participações super especiais – Tássia Reis, Tulipa Ruiz, Assucena Assucena e Xênia França, para citar algumas – além de trazer as músicas antigas em uma nova roupagem. É apertar o play e ser conduzido por quase uma hora de sentimentos e muita (mas muita) dança.
Por Joana Scarsi
6) Metá Metá – MM3
Levando em conta a trajetória e talento pessoais de Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França, o Metá Metá pode muito bem ser considerado um super-grupo formado por artistas completos. Em MM3, pela primeira vez, essas três forças criativas se uniram para compor em trio quatro das nove faixas que entraram no álbum e o resultado dessa união foi explosivo. A banda soa enorme do início ao fim do disco, que tem um clima muitas vezes tenso, por vezes até dançante, mas sempre bem intenso. MM3 é um álbum feito de encontros entre harmonias e ritmos nada óbvios, que diminuem e aumentam de intensidade de forma imprevisível e avassaladora. Essa atmosfera inquieta somada a um canto extremamente mântrico consegue levar o ouvinte até muito longe. A banda chegou a afirmar que houve influência da música do norte da África no álbum e, realmente, é como se houvesse um certo tempero oriental misturado entre a receita brasileiríssima de MM3, que traz ainda belas doses de jazz e de homenagens aos orixás. É um álbum feito para degustar com a alma.
Por Ariel Fagundes
5) Larissa Luz – Território Conquistado
Estamos muito, muito longe do mundo ideal, mas as pautas de quem luta contra as violências racial e de gênero conquistaram novos espaços em 2016 e o segundo disco da Larissa Luz celebra isso. Indicado ao Grammy Latino na categoria de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa, Território Conquistado é uma porrada, um álbum que denuncia os abusos sofridos diariamente pelas mulheres e negros ao mesmo tempo em que consegue envolver cada átomo do ouvinte com seu ritmo. Larissa mostra como os beats do trap dialogam naturalmente com os atabaques do candomblé abrindo os trabalhos de um terreiro de luta repleto de luzes neon. A cantora Thalma de Freitas está com ela em “Mama Chama” e Elza Soares também, na faixa que dá nome a esse disco que contou com a colaboração da antropóloga Goli Guerreiro na elaboração do seu conceito. Território Conquistado é uma belíssima ferramenta de luta feita para alimentar sua mente e seus quadris.
Por Ariel Fagundes
4) Mano Brown – Boogie Naipe
O primeiro disco solo do rapper é a prova definitiva de que Mano Brown é um artista em movimento. Se estivesse algemado à estética pela qual se notabilizou com os Racionais MC´s ou à cobrança de seu público, Brown jamais conseguiria lançar um disco tão festivo quanto Boogie Naipe. Aqui, há muito menos sangue derramado do que champagne, muito menos sirenes piscando do que globos de espelho. Convidando pesos pesados da música negra nacional como Hyldon, Carlos Dafé, Seu Jorge, Wilson Simoninha e Ellen Oléria, Brown criou seu próprio baile black futurista, onde os amores vem e vão e o groove não para. Boogie Naipe surge como se fosse a esquina entre o Tupac e o Tim Maia, logo ali onde faz a curva do Funkadelic. Depois que você parar de esperar pelo Brown dos Racionais e se acostumar com o canto durão do rapper, vai ser difícil parar de ouvir o disco uma vez atrás da outra.
Por Ariel Fagundes
3) Serena Assumpção – Ascensão
Com apenas 39 anos, Serena Assumpção foi uma das grandes pessoas que partiu em 2016. Filha do Itamar Assumpção, irmã da Anelis Assumpção, Serena lutou muito para garantir que a obra de seu pai obtivesse o devido reconhecimento e, em vida, ela não teve tempo de lançar nenhum disco seu. Ascenção chegou três meses após a sua morte, o que poderia debruçar um manto de luto sobre a obra. Porém, ao invés de tristeza, o álbum passa esperança. Com 13 faixas, 11 delas intituladas em homenagem aos orixás, Ascensão soa como uma oferenda de Serena e seus amigos ao grande mistério que é a vida. Ainda que tenha dirigido e produzido o disco, Serena Assumpção preferiu chamar mais de 50 músicos para lhe acompanhar do que criar um álbum que fosse apenas um holofote para si mesma. Céu, Tulipa Ruiz, Karina Buhr, Tetê Espíndola, Tatá Aeroplano, Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Thiago França, Curumin, Eduardo Brechó, Moreno Veloso, Bem Gil, Mariana Aydar, Xênia França, Filipe Catto e Anelis Assumpção se reuniram nesse que parece ser o disco brasileiro mais transcendente do ano.
Por Ariel Fagundes
2) Carne Doce – Princesa
Em Princesa, segundo disco do Carne Doce, a natureza psicodélica da banda foi preservada e as guitarras distorcidas se misturam e ajudam a revelar diferentes nuances da poesia composta por Salma Jô para cada uma das onze faixas que exploram o universo feminino. Essa temática pode ser percebida com muita clareza na poderosa faixa “Artemísia” – que traz o tema do aborto sob o ponto de vista da mulher, defendendo em meio a gritos ecoados a ideia de “o corpo é meu”. Em “Falo” o arranjo dos instrumentos ganha peso e as letras agressividade, com Salma colocando o dedo nas feridas (sempre femininas) ao denunciar machismos do dia a dia presentes nas relações entre homens e mulheres. As questões afetivas também aparecem no disco, seja na delicadeza da solidão retratada em “Amiga” ou no desgaste do amor e da intimidade em “Eu Te Odeio”. É um disco intenso e emocionante, que dá espaço e importância para questões das mulheres. É um grito visceral do universo feminino, que varia o tom entre delicado e belo, ao mesmo tempo que é melancólico e perturbador. Do início ao fim, emociona e mexe com alguma coisa lá dentro da gente.
Por Danielle Karnas
1) Céu – Tropix
Após três discos de estúdio capazes de desfazer um dia nublado com seus timbres solares, Céu surpreendeu os fãs ao mergulhar na noite sintética de Tropix. Aliada à produção de Pupillo e do francês Hervé Salters (mais pelo nome artístico de General Elektriks), a cantora criou um universo pós-industrial brasileiríssimo, onde os beats e as melodias envolvem o ouvinte a ponto de fazer qualquer um querer mexer o corpo fritando da primeira à última faixa. Ainda que faça referências ao passado, como no cover “Chico Buarque Song”, do Fellini, Tropix é um disco cuja relevância se impõe por sua contemporaneidade. Os jurados do Grammy Latino, que lhe premiaram nas categorias de Melhor Engenharia de Gravação e Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro, certamente concordam com isso. Com Tropix, Céu atingiu um novo patamar em sua carreira, consolidando-se como uma das maiores cantoras atuais do Brasil.
Por Ariel Fagundes