O sonho acabou: o estúdio Magic Shop vai fechar

25/02/2016

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Por: Fabiano Post

Fotos: Divulgação

25/02/2016

“CLOSING TIME: After an amazing 28 year run, I will have to close…” assim começa o post em tom de despedida e gratidão escrita e postada, na terça-feira dia 23/02, na página oficial do mitológico estúdio Magic Shop, no facebook, por seu fundador, o produtorzão Steve Rosenthal – vencedor do gramofone de melhor álbum histórico por Charlie is My Darling – Ireland 1966, dos Stones, em 2014, entre outros.

Inaugurado em 1988, após vinte e oito anos memoráveis e grandiosos, na agourenta e vindoura quarta-feira dia 16 de março de 2016, para a música de NY e do mundo, o estúdio localizado na 49 Crosby Street no Soho, encerrará suas atividades. A grandiosidade e significância do Magic Shop ficam por conta de todos os trampos cabulosos de estrelas do rock e da cena independente que usaram o ambiente envolvente, criativo e tecnológico do estúdio para criarem suas joias preciosas. O estúdio é um sonho, os campos elísios para quem procura um registro de trato fino e sempre foi o queridinho de gente graúda. Nas mãos dele se entregaram Lou Reed, Norah Jones, Kurt Vile, Arcade Fire, RamonesMondo Bizarro, o naipe é nessa linha fina e com toques de magnitude como os dois últimos registros de Bowie, os álbuns The Next Day, manufaturado pela casa em 2013 e o aclamado masterpiece final Blackstar de 2015!

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O estúdio também é mestre em digitalização, restauração, remasterização e todo o trampo que for necessário para dar novo folego nos sons de mestres que já ascenderam a outros níveis de existência, como Elvis, Sam Cook e Jelly Roll Morton. Nem é preciso dizer que com essa abóboda estrelada Grammys pipocam por todos os lados, in tha house.

O Magic Shop é um loja de doces para mestres, iniciados e iniciantes. Um espaço para gravação de aproximadamente 185 metros quadrados onde músicos se lambuzam e tem a sua disposição o que há de melhor no quesito humano e tecnológico. De sua sala de controle uma imponente, clássica mesa, analógica, 1970, NEVE 56 serie de entrada 80 com automação Flying Fader, expandida em 1996, para 55 faders, pelo próprio Rupert Neve – em uma entrevista para Anderson Cooper em 2014, no 60 Minutes, Dave Grohl defina a NEVE analógica como o Rolls Royce das mesas de gravação.

Uma série de microfones fodões vintage, outboard Neumann, API, EMI/Chandler, GML, Sontec, Focusrite, etc e tals. O Staff “cream de la cream”, além de Rosenthal, conta com o engenheiro Kabir HermonBowie, Billy Joe ArmstrongGreen Day, Norah Jones; o produtor e também engenheiro Brian ThornRolling Stones, Arcade Fire, Cold Play e o produtor/ engenheiro Ted YoungSonic Youth, Andrew WK. E parceiros peso-pesado como o produtor Tony ViscontiDavid Bowie, The Moody Blues.

A treta entre Rosenthal e os proprietários do prédio do MS, notícia devidamente registrada, é apontada como uma das causas do fechamento. Em mais um desses episódios de estrangulamento ganancioso do mercado imobiliário em prol da grana e foda-se o resto. Apesar desse disse que disse não ser apresentado como motivo oficial, pelo menos ainda não. Seja como for, as finanças para manter o espaço, na localização cara pra dedéu do Soho, encurtou e a manutenção do espaço foi se inviabilizando dia após dia nos últimos anos.

Entre o help financeiro nos últimos tempos fomentado por Dave Grohl – um entusiasta e bem feitor do Magic – para ajudar a cobrir despesas de locação; e uma tentativa frustrada de oferta de compra do espaço do estúdio feita ao conselho co-op da edificação, também apoiada por Grohl, todos os planos de Rosenthal naufragaram, que inclui todo o abecedário de possibilidades. Aparentemente não restaram opções, se não fechar.

Sejam quais forem os motivos ou motivações – sufocamento voraz imobiliário, falta do “me faz sorrir”, tretas interpessoais ou o que o valha – o fechamento de uma referência de altíssima estirpe da produção musical mundial, antes de ser um business fechando, é uma perda cultural irreparável e lastimável. O fechamento do Magic Shop deixa como colateral uma tremenda ferida aberta na verve musical de Nova Iorque, desde já enlutada, que levará tempos para cicatrizar, quiçá se cicatrizará algum dia. Projetos órfãos serão remanejados para outros estúdios.

Apesar dos pesares, Rosenthal diz que continuará seu trabalho na música, com restauração e arquivamento. O fundador do Magic Shop explana, nas linhas finais de seu post de adeus, de forma apropriada e profética, e nos oferece, quem sabe, um norte subliminar a respeito do fechamento do estúdio: “Enquanto a cidade se torna cada vez mais uma ilha cheia de corporações e “condos”, algum de nos anseia por um equilíbrio melhor entre dinheiro e arte, progresso e preservação, e esperamos que um dia vejamos uma reversão da destruição da consciência e da comunidade que estamos testemunhando. Ou talvez não…afinal sou só um cara do Bronx.”

O sonho acabou ou algum milagre desses de última instância poderia salvar o Magic Shop?! Vai na fé! Seja como for, o seu legado estará eternizado em alguns dos magníficos registros sonoros saídos de suas entranhas.

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25/02/2016

Gaúcho, de Porto Alegre, vivendo a 15 anos no Rio de Janeiro. Colaborador da Vice Brasil e autor lusófono do portal de mídia cidadã Global Voices.

Fabiano Post