O melhor da vida é de graça

26/12/2013

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Por: Revista NOIZE

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26/12/2013

Movido pelo ditado popular e desapegos amorosos, Marcelo Jeneci chegou ao seu segundo álbum solo. Recheado com músicas sutis e delicadas, o compositor paulista ressalta no sucessor de Feito Pra Acabar (2010) que ainda busca por novas sonoridades, sem abrir mão da sua própria personalidade e do pop.

Lançado pela Slap, braço indie da gravadora Som Livre, você pode ouvir o De Graça no site oficial de Jeneci. Foi para falar sobre o álbum e suas músicas confeitadas com saudade, sorrisos e um pouco de amor, que o cantor atendeu a nossa ligação.

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Quando você percebeu que o melhor da vida é de graça?

O “De Graça” fala mais sobre a amizade, sobre a intensidade da vida, sobre a troca, sobre o quanto é extraordinário viver, e quanto essas coisas, as mais importantes que a gente leva, elas de fato são de graça. Eu comecei a prestar atenção nisso porque eu tava vivendo um período sintonizado a essa percepção. Fugi aqui da minha casa, fui pra Pernambuco ficar com a minha família lá no interior, comecei a me religar aos amigos. Então eu tava com essa antena muito aberta pras coisas essenciais da minha vida. E aí, em janeiro desse ano, eu tinha um show pra fazer com o Curumin em São Paul, e ouvindo mais uma vez o disco “Arrocha” dele eu percebi, pela primeira vez no final no disco dele, uma música que ele fala algumas frases, se despedindo de quem ouviu o disco, e entre elas ele diz “vamos lá pra fora! O céu tá azul! O melhor da vida é de graça! Simbora!”. Aquilo ficou na minha cabeça. Eu já tinha ouvido o disco dele muitas vezes e nunca tinha percebido isso, acho que porque não tava nessa sintonia. É uma verdade que “o melhor da vida é de graça”. Mas a primeira vez que eu ouvi essa frase sintetizada dessa maneira foi no disco “Arrocha”, do Curumin, na última música.

Na capa do “De Graça”, a gente pode perceber dois Jenecis: um mais sério e outro mais despojado. Escolha duas músicas que representem essas duas personalidades suas.

“A Vida É Bélica”, pela agressividade do assunto e “O Melhor da Vida”, que é um pouco mais passional, mas também com uma novidade da viagem, da lisergia, do som, do tema instrumental que acontece no final da música. Acho que são essas músicas. Uma que a vida é bélica e outra que fala sobre as relações, a mulher, a pessoa amada, o casal. Essas duas juntas acho que representam bem isso.

A faixa “Alento” tem a participação de Arnaldo Antunes. Como foi essa parceria?

Eu e o Arnaldo moramos muito perto um do outro, em São Paulo, e somos amigos. Então, numa situação em que eu preciso mostra uma música pra ele, pra ver se ele se anima finalizar ela comigo, eu vo lá na casa dele e mostro. “Alento”, eu tinha feito essa música praticamente inteira com a Isabel Lenza e daí eu fui na casa do Arnaldo, mostrei alguns trechos pra ele e outros ele fez.

Você diz que tem algumas músicas suas que precisam de algo a mais. Em “De Graça” aconteceu isso?

Todas as seis que tem arranjos de orquestra eu via exatamente isso. Pra mim, antes de ter, é como se já houvesse. Eu ficava ouvindo no pensamento. A que mais representa isso é a música “Pra Gente se Desprender”. Eu já havia pedido o arranjo de cordas pro Eumir Deodato e mesmo assim eu ficava ouvindo a entrada de um coral lírico. Mas eu ficava ouvindo um coral que não existia e falava “meu, eu precisava de um coral nessa música! Eu sei que já tem cordas, já tem tudo! Mas nessa terceira volta do instrumental tinha que ter um coral!”. Mas todas as outras que tem um arranjo do Eumir Deodato e a primeira que tem arranjos do Jherek Bischoff eu senti que tinham a necessidade de ter elementos mais sinfônicos. Uma coisa que atravessa o disco inteiro é que quase todas as faixas tem tímpanos, que é um instrumento percussivo no sinfônico. Isso eu fiz questão que tivesse no disco todo. Tem tímpano do começo ao fim do disco e quem toca é o Tiago Calderano.

Tem alguma coisa que você gostaria de experimentar, musicalmente falando, mas ainda não conseguiu por falta de tempo ou de oportunidade?

As verdadeiras expressões, elas nascem de dentro pra fora, né? Eu tenho sido bem fiel e bem honesto na hora de criar um trabalho autoral, eu tenho sido bem honesto com a verdade da minha vida pessoal, com o que eu ouço. As vontades de experimentar foram essas. Tem um monte de ideia que eu ainda não consegui colocar na prática e eu acho que agora, na hora de fazer o show do “De Graça”, já vai ser a hora de fazer algumas coisas que não deu pra colocar no disco, saca? Coisas que funcionarão melhor ao vivo.

Você compôs alguma música para seu primeiro disco, “Feito Pra Acabar”, mas guardou ela para colocar nesse segundo álbum porque achou que ela não caberia em um disco de estreia?

Não, como eu disse: a gente já não cabe mais no lugar da onde a gente vem. Você, se mora só, não vai caber morando novamente com os pais. Então, obviamente o “De Graça” não cabe no “Feito Pra Acabar”. É que nem falar do filme “Bastardos Inglórios” e do “Django Livre”: como o cara depois de fazer esse mega sucesso manda um melhor ainda? Então eu fiquei sentindo na pele essa coisa de ter que fazer um novo disco e como eu vou fazer um segundo disco. Olhava pro repertório do “Feito Pra Acabar” e ficava feliz com aquilo. “Feito Pra Acabar” tem músicas bem feitas, com a ajuda de muita gente legal. “Como eu faço agora? Ainda mais agora que eu não quero fazer com tantos parceiros, quero fazer eu mesmo as letras?” Então tem essa preocupação de querer melhorar e eu acho que a ideia é ir melhorando com o tempo.

Que experiências que aconteceram entre o primeiro disco e o segundo que te acrescentaram de alguma forma?

Tiveram várias experiências que me ajudaram a fazer esse novo disco. Uma que vale a pena falar é minha ida ao Inhotim. Eu fiquei muito impressionado com aquilo tudo e com duas instalações da Janet Cardiff, instalações sonoras. Uma é uma peça litúrgica que foi escrita pra cinco coros de oito vozes, então são quarenta. E é meio barroca, bem religiosa. Então, em uma sala tem quarenta caixas, não sei se esse é o número exato, mas cada caixa toca a voz de uma pessoa do coro. E isso fica num círculo. Você vai andando, ouvindo o que você quiser, e se quiser pode sentar num banco que fica no centro da sala e ouve aquele som 360 graus. Eu lembro de ter ficado muito impactado com essa sensação de ouvir o som desse jeito, em 360 graus, e com o sentimento que esse coro trazia. E durante o disco todo eu fiquei preocupado que a mixagem do disco soasse um pouco mais 3D, com mais profundidade. Deu bastante trabalho mixar o disco pra trazer um pouco dessa viagem sensorial, de ouvir o som derretendo pra dentro da música.

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26/12/2013

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