Se você pôde aderir ao regime de isolamento social e quarentena caseira desde o início da transmissão comunitária do novo Coronavírus aqui no Brasil, e se ainda persiste nessa, você está há 6 meses recluso/a em casa. Esse é o caso da cantora e compositora Marina Melo, que tem lançado mão da música para atravessar os dias pandêmicos. Desse processo coletivo e particular ela lança o íntimo EP “o mundo acabou mas continua girando”, que conta com a participação de Naná Rizinni.
Tem música para vizinha, composições que em uma linha dão conta de resumir o que estamos vivendo no âmbito global e até uma faixa dedicada à exaltar as icônicas lives de Teresa Cristina. Melhor do que eu escrever é a própria Marina comentar, né? Abaixo, solte o player, confira um breve papo com ela e o faixa a faixa exclusivo.
Marina, onde você está cumprindo seu isolamento social?
Em São Paulo, capital. Comecei a quarentena na vila onde morei os últimos anos. Agora, me mudei – tanta gente nesses deslocamentos, né? Me somei aos versos da minha própria composição.
Já se passaram 6 meses desse regime. No começo, rolaram os booms de lives e mil táticas para fazer o tempo ser produtivo e interessante em casa. Agora, a gente tá até com fadiga de tela e encontros virtuais. Como atualmente isso tá batendo em você?
A fadiga da tela realmente bateu. Com tanta força que tenho desligado com frequência meu celular, e os melhores dias são aqueles em que consigo passar algumas horas de manhã também sem me conectar. A cara do dia muda. Mas ainda acompanho algumas lives que têm me ajudado a atravessar os dias. Sobre a necessidade de ser produtiva… acredito que ela nunca me abandonou, rs. Tanto que temos aí um EP saindo!
E quais tem sido seus rituais de autocuidado pra seguir com o mundo assim em suspenso?
O cuidado mais importante tem a ver com o celular. Os momentos de maior ansiedade te levam ao celular, que por sua vez só aumenta a ansiedade. Então, desligo o telefone em alguns momentos, adoro acordar sem ele, e deslogo do Instagram nos momentos em que sinto que estou conectada demais. De resto, faço exercícios, estudo música, tento me alimentar bem sempre que possível (risos), deixo a casa bonita, e peço ajuda quando preciso.
Faixa a faixa de “o mundo acabou mas continua girando”
1.”O mundo acabou mas continua girando“
Fiz essa música em 2018, a partir de uma harmonia proposta pelo Sérgio Molina na pós-graduação em canção popular da Santa Marcelina. A música ficou adormecida e, mexendo nas minhas gravações antigas, a reencontrei. Achei essa frase tão pertinente ao momento que vivemos que resolvi colocar a música no EP dizendo apenas isso: o mundo acabou, mas continua girando / o mundo acabou, mas continua. E o que fazer com esse mundo que continua, apesar de tudo?
2. “Cara vizinha,“
Fiz essa música como presente para uma vizinha desconhecida que, no início da quarentena, todas as noites presenteava a vizinhança. Ela vivia no prédio ao lado da vila onde eu morava na época e, diariamente, depois do panelaço, escolhia a dedo uma música para tocar em alto e bom som. Era um ritual bonito realizado entre desconhecidos: cada qual na sua janela dançava segurando a lanterna do celular e no fim dava um jeito de aplaudir o mais alto que conseguisse e gritar um “muito obrigado” para ela. Essa música foi meu jeito de dizer a ela que as músicas escolhidas nos banhavam e faziam o medo – tão presente agora – desaparecer por alguns instantes. A fala no início da canção foi gravada no dia em que coloquei o amplificador na porta de casa e cantei para que ela me ouvisse lá da janela dela. Parece que ela ouviu. E também se banhou. E a música nos banha, e esquecemos do medo…
3. “Segura firme na live da tt”
Essa música nasceu da vontade de não deixar a tristeza e o desânimo se instaurarem em mim. É uma missão que não é simples quando se atravessa uma pandemia no Brasil governado por Bolsonaro, e quando essa pandemia além de forçar mudanças (e mortes) mundiais, também te obriga a abrir mão de coisas que são muito importantes na sua vida particular. Fiz essa música, então, para me dar força nesse intuito de não me deixar desabar, por mais que a vontade tenha sido essa. E é por isso que a música, por mais que enumere tantas coisas que estão em queda, também busca pontos de apoio (as lives da Teresa Cristina, por exemplo, têm sido essencial nesse sentido) e canta: eu olho pra imensidão da vida, quero inventar alegria / eu olho pra imensidão, quero inventar… A Naná Rizinni entrou com contribuições harmônicas que mudaram bastante a música, e a música acabou se tornando nossa primeira parceria.