Sua vida daria um livro? Não? Aposto que você vai mudar de ideia quando ler Suzy, Led Zeppelin & Eu (Edições Ideal), cuja história gira em torno de apenas um momento da vida de Martin Millar. Ok, não estamos falando de um momento qualquer, mas de um show do Led Zeppelin (!!!) em plena tour de IV (1971), basicamente o álbum que nos presenteou com hinos como “Stairway To Heaven”, “Rock And Roll” e “Black Dog” (!!!).
Não pense, porém, que Millar transforma o que poderia ser só um review em um livro. O que ele faz é muito melhor: ele simplesmente nos leva a dar um rolê pela tão maravilhosamente intensa fase da adolescência, quando os hormônios estão a mil, os amores são platônicos e a música é, de fato, salvadora.
Em Suzy, Led Zeppelin & Eu, o autor conta como foi a passagem de sua banda favorita por sua cidade, Glasgow (Escócia), em 1972, ao mesmo tempo em que relembra seu amor por (adivinha!) Suzy, a garota mais pop da escola (e, claro, namorada do garoto mais pop da escola), e a amizade com Greg, tão nerd e apaixonado por Suzy quanto o próprio Millar.
Não vou contar mais nada, apenas te mostrar um trechinho desta história cativante e do tipo perfeita pra ser devorada em poucas horas (o que é um ótimo atrativo, certo?).
Curtiu? Agora, leia a entrevista que fiz com Millar, hoje um morador de Londres de quase 60 anos, que prefere assistir a séries em vez de shows e que já escreveu vários livros. As Boas Fadas de Nova York é um deles e também foi lançado no Brasil no ano passado.
Pra ler ouvindo o set list do show:
Você ainda ouve Led Zeppelin? O que sente ouvindo a banda hoje?
Sim, ainda ouço Led Zeppelin. Ainda gosto de sua música, embora não tanto como quando eu era jovem. Eles eram meus heróis da música, mas hoje eu já não tenho heróis da música. Então, também me sinto nostálgico quando ouço Led Zeppelin, porque lembro que, quando eu era jovem, podia sentir mais emoção do que posso agora. É uma sensação boa quando você ama uma banda e não pode esperar para vê-los tocar, não pode esperar para ouvir seu novo álbum, mas quando fiquei mais velho, eu perdi esse sentimento.
Que bandas atuais fariam você enfrentar uma fila gigante para ver um show, como aconteceu com o Led?
Nenhuma. Eu não vou mais a shows. Não acho que eu gostaria do barulho e da multidão. É estranho o quanto eu mudei em relação a isso ao longo dos anos. Ainda me lembro claramente do quanto eu gostava de ver bandas, mas eu não quero mais fazer isso. Eu ainda escuto muita música em casa, mas eu não quero mais sair para shows.
Suzy e Led Zeppelin causavam muita emoção no jovem Martin. O que provoca emoção no Martin de hoje?
Nada. Eu gosto de um monte de coisas – mangá, jogos de PlayStation, livros, filmes – mas nada na vida me dá a mesma emoção que eu costumava sentir com a música quando eu era jovem.
Poucos anos depois do Led Zeppelin, o punk rock chegou na Grã-Bretanha. Isso teve uma grande influência sobre mim e sobre a minha escrita. Eu sempre lembro disso. Eu aprendi as lições dos Sex Pistols. Lembro da excitação do punk também, embora agora eu já não sinta mais isso.
O livro As Boas Fadas de Nova York foi lançado em 1992 e Suzy, Led Zeppelin & Eu, em 2002, mas eles estão sendo lançado no Brasil somente agora. Como você se sente?
Estou muito satisfeito que eles estão sendo lançados. No entanto, sempre desejo que meus livros mais antigos tenham sido melhor escritos. Se eu olhar para eles agora, sinto que eu poderia ter escrito melhor. Provavelmente, Suzy, Led Zeppelin & Eu tenha sido o primeiro livro meu que eu realmente gostei.
O seu mais recente livro, The Anxiety of Kalix the Werewolf, saiu em 2013. Existe alguma previsão de algo inédito?
Meu novo livro, The Goddess of Buttercups and Daisies, acaba de ser lançado na Grã-Bretanha. É uma novela curta e divertida, que se passa na Atenas Antiga. Eu venho tentando escrever um livro em Atenas Antiga há um bom tempo. Levei muito tempo para obter o direito. Eu gosto deste novo livro, estou satisfeito com ele, mas em poucos anos eu posso não estar tão satisfeito com ele.
Suzy, Led Zeppelin & Eu daria um bom filme. Já pensou sobre isso?
Na minha carreira, eu vendi opções de filmes dos meus livros muitas vezes, mas nenhum produtor jamais foi capaz de fazer o filme. É muito difícil para eles levantar dinheiro suficiente para fazer um filme. Eu vendi uma opção de filme para Suzy, Led Zeppelin & Eu, mas isso só significa que um produtor foi à procura de financiamento. Não acredito que aconteça. Lonely Werewolf Girl está mais perto de ser filmado, mas, novamente, eu não sei se isso vai acontecer.