Masego fala sobre shows no país, feat com a IZA e conexão entre Brasil e Jamaica 

04/09/2023

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Isabela Yu

Por: Isabela Yu

Fotos: Divulgação

04/09/2023

Nascido em Kingston, na Jamaica, Micah Davis – nome de batismo de Masego – cresceu imerso em música. Quando era criança, observava os pais se apresentarem na igreja até ele mesmo arriscar a tocar alguns acordes. Mais velho, já na faculdade nos Estados Unidos, ele começou a tocar bateria, que o levou a produção musical e a discotecar em festas.

“Quando eu era mais novo, estava apenas tocando instrumentos e fazendo festas. Aos 21 anos, comecei a descobrir a minha voz e a escrever músicas”, lembra o multi instrumentista em entrevista à NOIZE. Hoje, aos 30 anos, ele viaja o mundo tocando as canções dos seus quatro discos, que somente no Spotify, reúnem mais de seis milhões de ouvintes mensais. 

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Conhecido por fundir o jazz, o house e o trap na sua música, Masego conta que o seu processo criativo parte da fluidez do improviso e que se sente à vontade independente do estilo musical. Essa flexibilidade também aparece nos projetos em que colabora, então ele soma feats com Kaytranada, Kehlani e Yussef Dayes

No ano passado, esteve no Brasil em duas ocasiões e pode costurar algumas parcerias. Quando tocou no festival Afropunk em Salvador, ele se uniu ao Afrocidade para uma versão de “You Never Visit Me”, música do último disco, Masego (2023). 

“Para mim, as colaborações surgem quando um artista pertence a um mundo no qual eu não tenho acesso, mas tenho curiosidade sobre ele. Estava falando com um amigo sobre a IZA, como acho interessante o seu desejo em experimentar diferentes gêneros musicais. Ela me ligou justamente para falar sobre essa abertura e vontade de arriscar outros estilos, então acho que essa é a receita para eu aceitar colaborar com alguém”, divide o músico. 

Para acompanhá-lo nas turnês, Masego conta com Cedric Mitchell na bateria e Jonathan Curry no baixo. Além de cantar, ele toca saxofone, violão e pode incrementar com alguma novidade dependendo do dia. Nesta semana, se prepara para se apresentar no Circo Voador na terça-feira, 5/9, e no palco The One, do The Town, na quinta-feira, 7/9, em São Paulo. 

O que os fãs podem esperar do show? “Gosto da participação do público. Acho que é uma das minhas coisas favoritas sobre a música brasileira: tudo é muito espiritual, parece quase como uma igreja quando milhares de pessoas cantam juntas. O meu objetivo é fazer com que as pessoas cantem comigo”, reflete o artista. 

Quando nasceu o seu amor pela música brasileira? Foi um gosto adquirido com a idade ou há uma influência familiar?

Cresci em Kingston, na Jamaica, assistindo futebol brasileiro. A primeira pessoa que o meu pai me mostrou foi Djavan. Recentemente, voltei a casa dele e vi como essas coisas me formaram. Não foi um gosto adquirido. Do ponto de vista rítmico e melódico é familiar para mim. Sinto similaridades entre o reggae e algumas das melodias do samba ou da música brasileira. 

Você tocou duas vezes no país no ano passado. Como foram essas experiências? 

Passei um tempo em Salvador, Rio, São Paulo e Minas Gerais. Eu gosto de explorar. Sinto que a percepção geral dos americanos é ir para o lugar onde já se conhece tudo, mas eu quero encontrar onde as pessoas realmente vivem para uma apreciação profunda da cultura. Gosto de falar e aprender com as pessoas. E estar onde os meus amigos DJs e músicos estão. 

Em que lugares os seus amigos te levaram? Você descobriu alguma novidade através deles? 

Na Discopédia e em outras festas que me levaram, está tocando hip hop americano ou r’n’b da década de 1990. Do Brasil, escutei coisas de Gilberto Gil, Djavan e Tasha & Tracie. Eu sou o cara que vai às lojas de discos para conhecer música. No momento, estou tentando descobrir coisas da década de 1970. 

No ano passado, você gravou uma versão de “You Never Visit Me”, faixa de seu último disco, com o Afrocidade. A colaboração aconteceu de forma espontânea ou você desembarcou com ela em mente? 

Eu já conhecia a música deles então estava tentando uma conexão com eles através de amigos em comum. Foi tudo no freestyle. Nós só fomos lá, tentamos e gravamos. Esse é o jeito mais natural para mim. Todas as minhas músicas começam da improvisação, acho que me soa mais autêntico. Você deve estar tão preparado e confiante em si mesmo que você pode entrar em qualquer ambiente e se sentir habituado com ele. 

Você passou os últimos três anos imerso no processo de Masego (2023). Quais músicas nortearam o trabalho? 

Criei o disco ao redor de “Black Anime”. Essa música é sobre eu perceber que a jornada que eu sonhei quando eu era jovem, eu já tinha alcançado. O disco parte de uma reflexão: o que eu mudaria no passado com o conhecimento que tenho hoje? Ao mesmo tempo em que reconheço as emoções vividas nessa jornada. Acho que essa música e “Eternal Sunshine (Fire Pit)” são as estrelas que nortearam o álbum. No início, eu lembro de como eu me sentia em relação a indústria, o sucesso e a fama. Já a última faixa medita sobre o que eu teria mudado ou feito diferente. 

Como você equilibra as novidades com os sucessos no setlist? 

É difícil, porque eu quero tocar músicas antigas, mas eu também quero as novas. Então eu tento fazer cada show um pouco diferente para ter o melhor de ambos os mundos. Porque eu amo as minhas músicas. Sinto que ninguém queria ouvir quando fiz “Tadaw”. O público queria “Girls That Dance” e “Love Be Like”, mas eu continuei tocando “Tadaw” até todo mundo perceber que também amava aquela música. Vou dar a oportunidade para o meu novo disco receber um amor similar, porque as pessoas não sabem que elas amam até experimentarem no ambiente certo ou na hora certa. 

Referente ao aspecto freestyle da performance ao vivo, como você costuma mudar os arranjos das músicas no palco? 

Depois que uma música foi lançada, eu costumo remixar muito. Até da perspectiva do meu signo, gêmeos, eu perco interesse em fazer a mesma coisa sempre, então quero adicionar um instrumento ou mudar o arranjo no show. Estou sempre buscando maneiras de interpretar ou experimentar as músicas do disco, tento colocar uma nova vida a elas. 

Você homenageia os geminianos em “Two Sides (I’m So Gemini)”. O que você pode dividir sobre a história dessa música? 

Ela faz parte da história do álbum. A música antes e depois dela dão mais contexto, mas ela revela a parte mais escura do geminiano, aquelas coisas que são conhecidas, que são percebidas como menos positivas. Acho essa música divertida porque é quase como ser um vilão em um filme, mas você está torcendo por ele, de certa forma. Os geminianos são polêmicos. 

No início da sua carreira, você trouxe à tona a mistura de trap, house e jazz enquanto um estilo musical. Como você enxerga esses gêneros no seu som hoje em dia? 

Eu posso me divertir com qualquer pessoa. Sinto o mesmo com a minha música. Me sinto tão confortável no hip-hop, quanto no r’n’b, no folk ou no jazz. Sempre me aproximei da música com a perspectiva da mistura. Depois de viajar pelo mundo, vejo quão similares e conectadas as coisas são. A música ajuda a contar essa história. Se uma pessoa de Washington D.C vier a uma roda de samba no Brasil, ela vai sentir vibrações semelhantes a que ele escuta na go-go music. Ou alguém da República Dominicana for a Jamaica, ela pode dizer que dancehall parece reggaeton. Você vai encontrar coisas similares. 

No momento, você tem alguma obsessão musical de lugares distantes? 

Ainda não fui para Etiópia, mas eles têm melodias e ritmos muito interessantes que eu preciso olhar de perto. Já a Coréia do Sul ama a cultura negra. Desde os grupos de K-Pop até o street style. Amo a interpretação deles, adoro ver como outras culturas interpretam movimentos criados em Nova York, Los Angeles e Atlanta. 

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04/09/2023

Isabela Yu

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