Um gigante entre os grandes tombou nessa madrugada. B.B. King, um dos pilares do blues, morreu aos 89 anos em sua casa, em Las Vegas, nos Estados Unidos. O músico estava recebendo cuidados médicos desde abril por conta da diabetes (tipo 2) de que sofria há 20 anos.
Riley B. King começou a gravar em 1949 e, após lançar seu primeiro disco, Singin’ the Blues (1957), vieram outros 43 álbuns de estúdio e dezenas de discos ao vivo e coletâneas. Em seus 66 anos de música profissional, King desenvolveu uma linguagem na guitarra que se tornou sua assinatura e fez dele uma referência eterna para a história desse instrumento. Já nos anos 1960, John Lennon declarou que queria tocar como ele. Faltou um encontro entre eles, mas King gravou com os Stones, Joe Cocker, Eric Clapton, U2 (veja abaixo), e participou há pouco tempo de um projeto em homenagem ao Paul McCartney.
A relação que ele tinha com suas guitarras beirava a sexualidade. “Gosto de ver minha guitarra como uma garota. Gosto de vê-la como algo que valha a pena lutar ou até morrer”, afirma B.B. King na sua autobiografia, B.B. King – Uma vida de Blues. O músico levava isso tão a sério que enfrentou um incêndio no bar onde estava tocando para salvar sua guitarra. Nesse livro, ele conta:
– Fico satisfeito em escapar com vida [do incêndio], quando percebo que estou sem minha guitarra. (…) Olho para o fogo e penso que devo ter um segundo para tomar uma decisão. Volto para dentro correndo. Alguém tenta me deter, mas já me fui. Tenho que apanhar minha guitarra. Há fogo por todos os lados, o calor é insuportável. As chamas queimavam como o inferno, lambendo meus pés, chamuscando meus braços. Eu encontro minha guitarra, bem na hora que uma viga cai na minha frente. Mas apanhei a guitarra. Seguro-a pelo pescoço, salto por sobre a viga bem quando as paredes colapsam, errando minha bunda e minha guitarra por poucos centímetros. (…) Abaixo a cabeça, agarrando a guitarra e dou um ensandecido mergulho rumo à saída. Minhas pernas estão queimadas, mas a guitarra está bem. (…) “Nossa”, diz uma pessoa pra outra, “você jamais diria que dois caras quase se matariam por causa de uma garota como Lucille”.
Foi assim que nasceu a lenda da Lucille, as guitarras favoritas de King. Na autobiografia, ele conta que 17 deles já passaram por suas mãos que procuravam nela conforto e alívio. Várias delas também foram roubadas, o que sempre deixou o músico com o coração partido como o de um garoto apaixonado. “Com a possível exceção do sexo com uma mulher de verdade, nada me dá uma paz mental tão grande quanto Lucille”, diz no livro.
Com sua namorada de seis cordas, B.B. King viveu décadas de fama, sucesso e reconhecimento. Lamentavelmente, foi sofrido o final de sua vida. Segundo foi publicado no site TMZ (que é um antro de fofocas), Patty King, a filha do músico, acusou os empresários do seu pai de estarem lhe roubando milhões de dólares e privando o guitarrista de cuidados médicos adequados. Cerca vez, Patty King precisou chamar a polícia para que seu pai pudesse ser levado a um tratamento, pois a empresária Laverne Toney havia se recusado a levá-lo. Junto com seu marido, Patty fez um relatório na polícia em 2014 acusando Toney de espoliar de 20 a 30 milhões de dólares do músico. Relógios de luxo e jóias também teriam sido roubadas pelos empresários.
No dia 1 de maio, a página de B.B. King publicou a mensagem: “Eu estou em tratamento médico domiciliar na minha residência em Las Vegas. Obrigado a todos pelos votos de melhora e orações”.
A Message From B,B,”I am in home hospice care at my residence in Las Vegas.Thanks to all for your well wishes and prayers.”B.B. King
Posted by BB King on Sexta, 1 de maio de 2015
Foi esse o último recado de um músico que dizia que não se dava bem com as palavras. “Nunca consegui me expressar da forma como queria”, afirma em sua autobiografia. Talvez não com as sílabas, mas com seus solos minimalistas B.B. King expressou os sentimentos de gerações. Fique com uma playlist em homenagem ao Rei do Blues: