“O povo quer o que você mostra”, diz Rodrigo Suricato sobre TV, fama e mainstream

10/12/2014

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

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10/12/2014

Participar de um reality show musical na TV aberta pode alavancar a carreira de uma banda ou enterra-la de vez. O grupo carioca Suricato ficou em 4º lugar no programa Superstar da TV Globo e, agora, luta para manter acesa a popularidade que as ondas televisivas lhe ajudaram a conquistar. Amanhã eles tocam no bar Opinião, em Porto Alegre, e nós aproveitamos a ocasião para trocar uma ideia com o vocalista e frontman Rodrigo Suricato. Entre uma reflexão e outra, o músico alfineta o circuito de música alternativa e solta pérolas como: “a música clássica já foi a Ivete Sangalo de outros tempos” e “o povo quer o que você mostra”. Veja o papo abaixo:

Essa série de shows que vocês estão fazendo é a primeira após o Superstar. Como foi participar de um programa desse tipo? Você já disse que o clima de um reality não era muito favorável pra banda, mas foi proveitoso?

*

Foi super proveitoso, cara. Eu acho que na verdade a Suricato foi a zebra do programa, chegamos até longe demais porque a gente “competiu” com estilos que são muito populares… A gente foi super bem e foi uma grande surpresa.

O primeiro disco, Pra sempre primavera (2012), saiu antes do programa e o segundo, Sol-te, depois. De que maneira a experiência do programa influenciou a sonoridade do disco?

A gente já tinha 85% desse repertório pronto e ele já sairia de qualquer maneira. Uns três ou quatro domingos antes do programa terminar, a gravadora [Som Livre] sondou a gente. E aí foi legal porque a gente pôde gravar da maneira que queríamos. Mas na verdade, não interferiu. A única coisa que o Superstar pode ter nos dado foi a presença de duas músicas, “Um Tanto” e “Pra Tudo Acontecer”, que é uma parceria minha com o Paulinho Moska.

Agora vocês conquistaram um certo patamar na carreira e muitas pessoas já conhecem vocês. Mas como era a relação da banda com os fãs no início? Rolou aquele trabalho de formiguinha de divulgação?

Ah, foi uma loucura. Durante a primeira parte do programa eu fazia a divulgação das redes sociais e atendia pedidos de shows junto. Depois, a gente assinou com o escritório de interesse da gravadora e conseguimos organizar bem as coisas. É difícil um músico conseguir ter pleno domínio de todas as áreas, sabe? Criar bem, se promover bem e ser ainda um excelente administrador. É bem difícil isso pra grande maioria dos músicos. Nossa relação com os fãs sempre foi muito boa no sentido de que a gente vê os fãs como amigos, eles trocam sons com a gente, vem um monte de compositores interessados em fazer parcerias com a gente…

Saber circular nos meios certos e se relacionar bem com as pessoas é um grande desafio pra qualquer artista, como foi o trabalho da Suricato para se inserir nesse lado mais hard da indústria da música?

Eu já vinha sendo guitarrista da banda do programa The Voice e tô acostumado a tocar com muitos artistas há muito tempo. Nando Reis, Lulu Santos, Erasmo Carlos… Trabalhei acompanhando e gravando com esses artistas, então tive uma proximidade com eles. Por ter participado do The Voice, eu trabalhei com praticamente todos os produtores do Superstar e eles já eram fãs da Suricato. Aí chegaram e disseram que seria maravilhoso ter no programa uma banda como a nossa. Eu fiquei muito receoso no início por não saber como isso seria abordado. É uma cara a tapa muito grande que você coloca na televisão… Mas depois eu vi um programa do Chacrinha, e pensei: “O que pode ser pior do que ir no Chacrinha?”. A pessoa tava lá tocando sua música de trabalho e passavam um bacalhau na cara delas. Então, cara, se a gente não tentasse, nunca ia saber como seria. A gente já tava gravando uns vídeos em casa nessa época aí pensei: “Porra, vamos fazer um vídeo na Globo”. Na pior das hipóteses, a gente ia ter um vídeo gravado na Globo, um monte de gente ia saber o que é a Suricato e, se não desse certo, tudo bem. Aí na primeira apresentação, tivemos uma votação enorme. Depois disso, só foi.

Rodrigo e Lulu Santos gravaram juntos uma versão para "Um Certo Alguém"

Rodrigo e Lulu Santos gravaram juntos uma versão para “Um Certo Alguém”

Hoje, mais do que nunca, existem muitos caminhos possíveis para uma banda seguir. Vocês estão trilhando um caminho bem ligado ao mainstream, como tem sido isso? Que portas têm se aberto para vocês? Será que alguma porta se fechou por isso?

A gente nunca se contentou em ficar em guetos. Sou contra isso. Tem muita banda alternativa que se vangloria de ser alternativa e isso não deixa de ser uma zona de conforto. Porque aí a banda não arrisca, toca só pra aquele mesmo público num sentido de não querer se vender pro Sistema, ou algo assim. Isso que existe em algumas bandas alternativas é muito infantil. Todo mundo sonha em prosperar. A gente nunca quis fazer parte desses guetos fechados, sempre quisemos nos comunicar com muita gente. A gente acha que a música clássica já foi a Ivete Sangalo de outros tempos, o jazz já foi a Claudia Leitte de algum tempo, a bossa nova, que é um estilo completamente complexo, já foi o mais popular do Brasil. Acho que esse é o grande trunfo do Suricato: ver que o povo quer o que você mostra. Se for bacana, o povo vai gostar. As bandas deveriam aproveitar as grandes janelas, fazer parcerias com artistas mais populares, eu acho que a música não pode ter fronteiras nesse sentido. Eu acho um desperdício ficar preso a guetos.

Hoje mesmo vocês divulgaram uma música com a Claudia Leitte.

Exatamente! Particularmente, eu não gosto das canções natalinas, acho elas muito cafonas. Mas por que não transformar as canções natalinas botando uma outra onda? A gente deu uma “suricateada” na música e chamamos a Claudia Leitte, com quem eu já tinha trabalhado no The Voice. Pra mim é uma besteira dizer que tal banda é a salvação do rock ou salvação do folk… Não é salvação de nada não. Acho isso uma perda de tempo absurda.

Mas você não vê nenhum tipo de preço a pagar ao seguir esse caminho?

Eu não sei, cara. Eu ainda não vi nenhum tipo de preço. Todo mundo na banda toca pra caramba, a gente sempre quis servir à música, nunca começamos pra fazer sucesso. Todo mundo pensa muito nos arranjos e se preocupa em tirar um timbre melhor do instrumento. Esse segundo disco da Suricato é um disco muito sincero, são canções que saem do fundo do coração mesmo. Agora, quando trata-se de canções feitas a régua e compasso buscando sucesso com um público A ou B, isso pra mim é publicidade e não tem a ver com música. E a gente não tá muito interessado em publicidade agora. A gente quer se comunicar com o grande público sim, mas fazendo as coisas que a gente acredita. Eu não sei o preço a pagar… A gente tá preocupado mesmo e se esforça pra ser melhor a cada dia, não é tudo uma farsa. Mas a gente se vê popular.

Deve ser difícil essa responsabilidade de precisar se afirmar para pessoas que às vezes já chegam com um preconceito.

É… Mas sinceramente até agora a gente não recebeu críticas negativas, pelo contrário. Tanto a crítica especializada quanto o grande público abraçaram a gente. É uma linha muito tênue conseguir fazer uma música popular com uma preocupação com letra e arranjos e isso ter realmente uma qualidade. É muito difícil. Acho que a gente conseguiu nesse disco, não sei se vamos conseguir nos outros porque agora é um momento muito especial de vida pra todos nós. Talvez seja difícil sim, eu entendo perfeitamente o ponto em que você quer chegar. Talvez as pessoas fiquem com preconceito com a música com a Claudia Leitte, mas eu convido elas a escutarem a música original e a nossa versão. É divertido trocar com essas pessoas.

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10/12/2014

Editor - Revista NOIZE // NOIZE Record Club // noize.com.br
Ariel Fagundes

Ariel Fagundes