O que esperar do livro do disco “Nara (1964)”, de Nara Leão

06/04/2022

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Gabriela Amorim

Por: Gabriela Amorim

Fotos: Reprodução/Reprodução

06/04/2022

Contestar publicamente o exército brasileiro durante a ditadura, em 1966, ter contato com a Bossa Nova ainda em sua casa e, depois, romper com o gênero musical, despertando para uma consciência política na cidade do Rio de Janeiro, são alguns dos muitos assuntos trabalhados no livro Nara Leão: Nara – 1964 (2022), da Editora Cobogó, escrito pelo jornalista, escritor e crítico de música Hugo Sukman.

Publicado no ano em que Nara Leão (1942-1989) completaria 80 anos, o livro aborda o que há por trás do seu primeiro disco, lançado em fevereiro de 1964, quando a cantora tinha apenas 22 anos, além de um faixa a faixa bem detalhado. “Cada uma de suas músicas narra um pouco da história daquela época, cada canção tem uma história. E todas elas se juntam para formar um painel da música brasileira no período”, explica Sukman em nota.

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Capa do livro do disco Nara Leão: Nara (1964). (Foto: Divulgação)

NOIZE Record Club apresenta “Opinião de Nara” (1964), de Nara Leão

Ao longo de 224 páginas, vemos um aprofundamento na trajetória da artista, com riqueza de detalhes e um olhar um pouco diferente da série prestigiada O Canto Livre de Nara, dirigida por Renato Terra, disponível no streaming da Globoplay. É claro que os dois modos de narração se cruzam algumas vezes, como, por exemplo, quando é contado que Cacá Diegues, com quem a artista teria um relacionamento amoroso, não enxergava Nara Leão no CPC (Centro Popular de Cultura), enquanto só foi percebê-la quando ela cantava uma marcha-rancho em uma festa. Porém, mesmo com algumas histórias que nós já tenhamos visto, ou ouvido falar, Sukman consegue amarrar o fio do contexto histórico ao da vida pessoal e profissional de Nara com muita fluidez, fazendo com que nada fuja da órbita de Nara.

Nara Leão com Odete Lara, sua aluna de violão, e Baden Powell. (Foto: Arquivo/ O Cruzeiro/Divulgação)

Para seu primeiro trabalho, Leão contou com um time de peso para a época. Na faixa “O sol nascerá”, de título tão simbólico, Nara, além de reapresentar Cartola ao cenário nacional, lançava Elton Medeiros. Zé Keti ressurgia como compositor, ao lado de Hortêncio Rocha, em “Diz que vou por aí”; “Luz negra”, de Nelson Cavaquinho, ganhava sua primeira versão com letra de Amâncio Cardoso.

Edu Lobo, antes de ser consagrado pelas interpretações de Elis Regina, aparecia em duas parcerias com Ruy Guerra (“Canção da terra” e “Réquiem para um amor”). Além disso, Vinicius de Moares vinha com três canções: dois marcantes afro-sambas em parceria com Baden Powell (“Berimbau” e “Consolação”) e “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas”, com Carlos Lyra.

Nara com Aloysio de Oliveira, Carlos Lyra e Vinicius de Moraes. (Foto: Divulgação)

Em sua trajetória ousada e original, é notável ver a transição da cantora que uniu a música e a arte a universos distintos de um Rio de Janeiro da década de 60 e 70, onde narrou sua própria transformação. “Esse primeiro disco, para mim, foi falar de uma coisa que eu achava muito importante, falar dos problemas brasileiros. Eu tinha muito a ideia de reportagem musical, mostrar ao pessoal de Copacabana o que o morro faz, uma coisa de reportagem mesmo”, contou Nara em depoimento citado no livro.

Sukman em 2018 havia escrito a peça Nara: A Menina Disse Coisas – cujo título foi extraído do poema de Carlos Drummond de Andrade, publicado na imprensa e endereçado ao Marechal Castelo Branco. Agora, o autor traz outro trabalho minucioso, exibindo Nara para o despertar do Brasil, mesmo que nunca tenha ligado seu nome a uma ideia fixa estética-política, mas que uniu seu trabalho a múltiplos polos, indo desde a luta estudantil, passando pelo Cinema Novo e o teatro político e chegando aos sambistas do morro.

NARA LEÃO: NARA – 1964

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06/04/2022

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