Entre faixas perdidas e outras insuperáveis, muito som foi produzido no Brasil de 1970. Sabendo da limitação humana de não poder voltar no tempo, deusas e deuses, quando criaram a música, conferiram a ela o poder de ser atemporal e atravessar gerações. De lá pra cá, 50 anos se passaram e, aqui, revisitamos sete discos lançados no ano de 1970 e que você deveria (re)ouvir. Atenção: a lista a seguir não é, de forma alguma, definitiva, mas sim uma sugestão. Confira, concorde e discorde à vontade.
Novos Baianos – É Ferro na Boneca
Foi com É Ferro na Boneca que uma das bandas nacionais mais icônicas e carismáticas debutava. Lançado na época pela RGE Discos, o registro apresenta uma sonoridade bem diferente das canções emblemáticas de Acabou Chorare (1972) ou Novos Baianos F.C. (1973). Na estreia dos Novos Baianos, há canções que flertam com o mambo, o tango e o forró. Na formação, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Moraes Moreira e Baby Consuelo. Um disco no mínimo interessante para lembrar de onde os agora nem tão Novos Baianos partiram.
Elis Regina – Em Pleno Verão
Dona de uma das vozes mais inconfundíveis da música brasileira, Elis mantém o alto nível no disco lançado no ano de 70, mas surge com menos intensidade. Tal qual como o título Em Pleno Verão indica, o álbum revela a artista em uma roupagem mais solar, ótima para dar boas-vindas a manhãs ensolaradas e com tempo de sobra para cafés lentos e estendidos. Na tracklist, um time de compositores do quilate de Jorge Ben, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Gilberto Gil, Caetano Veloso e o à época novato Tim Maia, no dueto “These Are the Songs”.
Tim Maia – Tim Maia
No mesmo ano em que colaborou com Elis Regina e com recomendações de Os Mutantes e do jornalista Nelson Motta, Tim Maia fez seu debut solo e homônimo pela Polydor. Entre as faixas, alguns de seus sucessos imortais, como “Eu amo você”, “Primavera [Vai Chuva]” e “Azul da cor do mar”. Um dos grandes registros do soul brasileiro, o álbum foi sucesso de vendas.
Jorge Ben – Fôrça Bruta
Se alguns estavam recém começando, Jorge Ben iniciava a década lançando seu sétimo álbum solo de estúdio. Com selo da Phillips, a gravação foi acompanhada pelo Trio Mocotó e oferece um samba suave, cadenciado e marcado pelas improvisações e pelo entrosamento entre Ben e banda. Pitadas de soul, rock, funk pulverizam a sonoridade acústica. Já entre as temáticas presentes, letras sobre paixão, sensualidade, mas também reflexões sobre a herança escravocrata que marca o Brasil. Clássicos insuperáveis como “Oba, lá vem ela”, “Charles Jr.” e “O telefone” pontuam o disco.
Milton Nascimento – Milton
O quarto disco de estúdio de Milton Nascimento é concebido com os instrumentais da banda Som Imaginário e com contribuições dos parceiros constantes Lô Borges e Wagner Tiso. A primeira faixa do álbum, “Para Lennon e McCartney”, já denota o caráter clássico da obra. A capa é uma das mais emblemáticas da trajetória de Milton, no qual o autor, Kélio Rodrigues, representa o artista como um rei negro.
Chico Buarque – Chico Buarque de Hollanda Nº 4
O álbum de Chico começa a ser desenvolvido em meio ao seu exílio em plena Ditadura Militar. Iniciado na Itália, de acordo com matérias veiculadas na época, voz e violão foram gravados por Chico em Roma e as bases já de volta ao Brasil, no Rio de Janeiro. Assinando todas as composições, há a parceira com Tom Jobim em “Pois É”.
Os Mutantes – A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado
O trio abraça com mais intensidade as influências brasileiras em seu terceiro álbum de estúdio. Em sua formação original, com Rita Lee, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista, o registro apresenta a sonoridade com background de rock psicodélico, mas incorporada aos moldes da tropicália. Distorções, órgãos elétricos, vocais experimentais e uma capa na qual os integrantes encenam a ilustração do Inferno de Dante, um das partes da obra A Divina Comédia, de Dante Alighieri. A canção que abre a tracklist é nada mais, nada menos que “Ando Meio Desligado”.