“O álbum é uma afirmação das belezas que brotam das dúvidas, das sombras e das mazelas de um país”, afirma o grupo Pietá sobre Nasci no Brasil, lançado em 18 de abril. Com nove faixas, o disco cria pontes entre o passado e o presente da música nacional, e propõe elos entre ritmos, regiões e gerações.
“A banda quer dar voz ao tempo em que vive e à sua trajetória, revelar raízes musicais estruturantes, olhar para as convicções e não esquecer os sonhos”, o trio explica em nota à imprensa. Os artistas Juliana Linhares, Fred Demarca e Rafael Lorga somam 13 anos de estrada, e dois discos – Leve o que quiser (2015) e Santo Sossego (2019).
No faixa a faixa, Pietá comenta o processo de composição das músicas de Nasci no Brasil:
“Temquitê”: A música foi uma das primeiras a fincar bandeira no repertório do álbum, e também por isso, norteou os caminhos que trilhamos em busca das outras canções que comporiam essa dramaturgia. Desde sempre, ela se colocou como a faixa que abriria o disco, e assim permaneceu por uma imposição natural. Primeiras palavras do disco entoadas em coro, cantando sobre o que queremos e o que não queremos na construção de uma nação possível de se imaginar. Com participação emblemática do cantor paraibano Pedro Indio Negro, “Temquitê” inicia a viagem pelo nosso terceiro álbum Nasci no Brasil. A música é uma parceria do nosso Demarca com Renato Frazão. A dupla compôs “Perto de mim” do disco Leve o que quiser (2015), e “Pietá” e “Iara Ira” do segundo álbum, Santo Sossego (2019).
“Cantoria do Acará”: Essa música saiu de dentro de uma fogueira. Rafa estava com Ju em Paraty, numa casa na beira de um rio forte e no meio da mata. Fred tinha voltado pra cidade no dia anterior. A melodia pulou da fogueira e Lorga correu para gravar. Convocou Thiago Thiago de Melo, compositor de “A Vingança de Cunhã” (do primeiro disco), pra decifrar essa mensagem. E ele, como sempre, foi certeiro: “Quem vai nos abrigar no chuvaral, é um peixe de rio”.
“O Ronco Da Cuíca”: Composição de João Bosco e Aldir Blanc, uma das primeiras músicas que a banda começou a cantar em meados de 2011, quando a gente passou a se encontrar para experimentar sons e vozes. Nessa época, tocávamos algumas versões de clássicos da MPB dentro das nossas autorais, era momento de trazer cada um suas referências, compartilhá-las, para descobrir o que seria a sonoridade do grupo. Nos conhecemos na faculdade de Teatro da Unirio e gostávamos de investigar canções que nos provocavam cenicamente. Essa era uma delas. Fizemos um arranjo de vozes especial, Ju sempre dançava ao vivo nos shows e ela acabou se tornando praticamente a única versão que fazemos nas apresentações hoje em dia. Depois desses anos todos, e de sempre gravarmos em nossos álbuns canções autorais, decidimos celebrar os mais de dez anos da banda com uma gravação do “Ronco”. Um presente pra nós e pra galera que nos acompanha desde o ínicio da banda.
“Espanta Assombração”: Essa nasceu numa esquina da Lapa, já querendo se inserir no repertório. Da mesma dupla de compositores de “Leve o que quiser”, Rafael Lorga e Elvis Marlon, “Espanta Assombração” versa sobre toda dor que se cura ao se celebrar e cantar em roda. É um samba de otimismo, sobre nossa criatividade e resiliência em reconhecer nos tropeços possibilidades para novos caminhos. A roda espanta toda a assombração.
“Quem é de quê?”: Era o aniversário do Rafa e alguém ja veio anunciando com o pratinho do churrasco na mão: “Quem é de comer?”. Nosso Demarca já com o tambor, porque o som estava rolando, lançou o ritmo e os primeiros versos da música, Ju emendou e depois foi só lapidar. Veio da festa, é festa, com uma crítica quase escondida no desenrolar da letra.“Farinha pouca meu pirão primeiro, subdesenvolveu-se o Brasil, para garantir o feijão do teu tempero, tem que rebolar o quadril”. Em “Quem é de quê? ” é na festa e na dança que se lida com o ser brasileiro.
“Perfume de Araçá”: O dengo em forma de canção, quando a paixão deságua no amor. Já havíamos lançado em single, a versão que chegou à novela No rancho fundo (2024), e conhecíamos a força da música. Pensamos que valeria a pena trazê-la para o álbum, agora com outra roupagem. Se na primeira versão, o caminho foi por uma condução mais contemplativa e acústica, na versão do álbum trouxemos elementos rítmicos e eletrônicos, e ainda tivemos a alegria de ter o Jota.Pê como participação. Ficou uma delícia, mais uma vez. Dá vontade de se apaixonar de novo. A música é mais uma parceria de Demarca com Iara Ferreira. A dupla compôs “Suçuarana”, do álbum Santo Sossego, e já é um clássico no repertório da banda.
“O tempo é uma pessoa”: O tempo que move o jeito que se pensa, que relativiza o dito e o feito, que reinventa a língua e o sujeito. Aqui o tempo é uma personagem curiosa, que nos observa à distância, que se diverte. “O tempo é uma pessoa” é uma parceria de Rafael Lorga com Tomás Braune, e nasceu durante o processo de criação do espetáculo teatral “O pensamento desimpedido”.
“Nasci no Brasil”: Uma parceria inédita entre Ju e Olivia Munhoz, que além de compositora, é iluminadora cênica com um currículo especial. Como está na sua vida dar luz às coisas, ela trouxe a ideia da canção para Ju e as duas desenvolveram esse enredo. Uma canção bastante poética, escrita a partir do sentir do que do compreender. Nascer no Brasil tem a ver com nascer e com o Brasil e com as duas coisas juntas. Tem a mátria, a mãe e a terra extensa que nos une. Acabou se tornando o nome do álbum porque é um título que inicia algo e ao mesmo tempo nos une, apesar de tantas enormes diferenças, numa característica em comum.
“Chama da Criança”: É a primeira parceria entre Demarca e Juliana Linhares dentro da banda. A música surgiu ainda no período da pandemia, à distância, Fred mandou a melodia e Ju colocou a letra. A gente sempre busca ter nos discos umas canções meio orações, para cantar em coro, canções que tragam esperança. Essa música tem essa força de roda, de resgate da criança e do sonho em nós num mundo tão desacreditado do futuro.
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