#RBMSP, é preciso agradecer

07/12/2018

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Bruno Barros

Por: Bruno Barros

Fotos: Fábio Piva e Felipe Gabriel / Red Bull Content Pool

07/12/2018

Passada uma semana do encerramento de Red Bull Music Festival São Paulo, sigo no drop de seu impacto, com belas recordações. Em sua segunda edição, #rbmsp foi uma festa verdadeira, em nove dias de programação. Ao contar o encerramento do festival em Zonas Limiares no domingo pela manhã, chegamos ao décimo dia. O festival de música da Red Bull atua na lógica de celebrar o cenário local, relacionando com artistas do mundo. O destaque aos brasileiros, em maioria no programa, e a promoção do conteúdo a partir de suas plataformas e redes em escala global, é realizado pelo núcleo de música da marca e ganha corpo na equipe local de Red Bull.

O festival teve representatividade negra, feminina, gay, trans, lok’s e freak’s. Mas a representatividade não é um drop da marca. Está no espírito de Red Bull dar asas para pessoas, projetos e cenários com potencial de se tornarem fodas. A dificuldade em fazer um recorte de cena, ao olhar a programação do festival, entende se que pode se fazer a partir das ações e relações que a marca fomenta no dia a dia. Caso de Elza Soares, por exemplo, destaque absoluto de qualquer programa, e que teve no Red Bull Studios SP uma base para gravação de seus dois últimos discos. Com isso, é possível resumir que o festival teve representatividade de cena, essa sim, em uma sacada e de construção de valor da marca. Nesse caso, a (cena) brasileira. De ontem, de hoje e de amanhã.

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É preciso sim agradecer. Mais que torcer, desejo de coração, vontade e serenidade para que o ativo construído por esses dois anos de festival seja respeitado e ampliado. Sem receio, confio e aguardo pela continuação de Red Bull Music Festival São Paulo!

Não fui ao festival com o intuito de realizar uma cobertura e sim para vivenciá-lo. Por ser um festival novo, na megalópole São Paulo, entendo a importância deste registro para que mais pessoas atentem-se para o creme que é Red Bull Music Festival e o alcancem. Abaixo, você vê fotos incríveis do Felipe Gabriel para Red Bull Content Pool.

Escolhido para passar sua visão de cena e com isso dirigir a construção do line up e proposta do evento, Akin Deckard, mais uma vez atuou a partir de seu maior ideal: a construção e manutenção de um cenário abrangente, acessível e plural. “Essencialmente, como parte da viabilidade e êxito de tal perspectiva, há um fator fundamental: a confiança dos artistas locais em participarem de algo que os valorize em toda sua dimensão, do lugar de fala e escuta até as condições necessárias para que estes sejam notados e reconhecidos em toda sua importância” expressou o curador em um agradecimento pelo facebook após o festival.

Aos 88 anos, Elza Soares, maior artista brasileira em atividade, por força e real vontade, apresentou seu show mais recente Deus é Mulher com participação de sua “família” Ilú Obá de Min, além de uma conversa aberta mediada pelo jornalista Zeca Camargo, ambos transmitidos e registrados aqui e aqui.

A festa Zonas Limiares, que encerrou o festival às 6h da manhã de domingo, 2, manteve acerto ao reunir uma quantidade grande de artistas brasileiros ao lado de nomes expressivos do house, do techno e do trance mundial. A festa, que nasceu na primeira edição do festival, reuniu diferentes vertentes e direções da cena eletrônica mundial – do som das pistas a linhas mais experimentais. Foi o único ato da programação do festival com artistas internacionais. O duo londrino Rezett, a irlandesa Or;la, o italiano Lorenzo Senni e os norte-americanos Avalon Emerson, J. Albert e Hieroglyphic Being se juntaram ao line up que trouxe outros dez artistas brasileiros, divididos em três pistas na Fabriketa.


Foto: Fábio Piva/Red Bull Content Pool)

A organização dos horários de cada apresentação mostrou que a intenção de destacar os artistas nacionais se faz pela prática. Abertura e encerramento foram momentos de djs e produtores brasileiros, caso das djs Posada e Kika que abriram a festa e da banda Teto Preto que encerrou o festival em uma apresentação apoteótica e impecável. As duas djs gaúchas ao lado do mineiro OMOLOKO foram rachaduras dentro do cenário de São Paulo destacado no line up. Os jovens Ramenzoni, Martinelli e Benjamin Sallum são três nomes que me fizeram calar por ter alcançado ali, pela primeira vez, para ver, ouvir e sentir. Badsista, Kakubo, Lorac Issum (AKA Cashu & Amanda Mussi) e Xiao Quan completaram o estouro.

Poderia-se facilmente considerar Zonas Limiares como o festival em si. Mas a festa foi a cereja de um bolo que trouxe o lançamento de um documentário, shows, conversas e festas dentro da programação.


Foto: Fábio Piva/Red Bull Content Pool)

Na sexta-feira, 30, o místico álbum Krishnanda (1968) de Pedro Santos foi revisitado por uma big band capitaneada por Lúcio Maia. A noite foi abençoada por uma chuva torrencial que não impediu grande público de conferir o espetáculo. Capas de chuva eram entregues na entrada para auxiliar a permanência do público que mesmo sob cobertura na arquibancada montada, era atingido pela chuva.

Na quinta-feira, 29, uma transmissão de 12 horas pela Red Bull Rádio direto do Red Bull Music Studios no Station, recebeu o duo Selvagem. Além de relembrar fases da festa, reunir contos de participantes, Milos Kaiser e Augusto Olivani receberam Maria Rita Stumpf e conversaram sobre a descoberta do disco da cantora pelos produtores e o trabalho de re-lançamento do álbum Brasileira (1988) pelo selo Selva da dupla.


Foto: Fábio Piva/Red Bull Content Pool)

Na terça-feira, 27, rolou a premiere do vídeo protagonizado pela Batekoo para a série Inspire the Night, de Red Bull TV. Criada em 2014 em Salvador, a festa que hoje acontece também nas cidades de Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, aposta em gêneros que nasceram da cultura negra, como hip-hop, trap e funk. Com duas exibições para um público que se abarrotava no segundo andar da Void, no Largo da Batata, a noite seguiu com um fervo gostoso com os djs da Batekoo. Ainda bem que fui de shorts. Memorável. Assista ao doc abaixo:

Na busca por dar conta do que vivenciei, achei entre os comentários do vídeo acima, o de Ito Araújo que contempla me exatamente e que transcrevo aqui. “A Batekoo é o lugar mais democrático que eu já fui. Eu diria que o substantivo “festa” é só um plano de fundo para um espaço onde somos livres para sermos quem somos. É, portanto, um espaço para a liberdade de corpos, principalmente os marginalizados. Um lugar onde há reconhecimento e legitimação de identidade”.

A festa Concreto Som Sistema reuniu o pesadão Dubversão Sistema de Som, o produtor Buguinha Dub que recebeu Negu Edmundo, o primeiro sistema de som comandado só por mulheres, Sound Sisters, além do show da rainha brasileira do Dancehall Lei Di Dai. Jah sabe e abençoa. Energia redonda e maravilhosa na Fabriketa, que habitualmente recebe festas de música eletrônica e que foi um palco generoso para a reverberação dos graves da cultura soundsystem.

A festa Escutaê, abertura do festival, foi pesada no sentido de rimas e batidas. Um sistema de som de responsa ampliou um discurso urgente e importante: o questionamento ao patriarcado em todos os cenários possíveis. Cheguei à Praça do Patriarca com o evento já iniciado a tempo de ver Rosa Luz e seu discurso de prosperidade, respeito e espaço às travestis e da força do poderoso coletivo Rimas e Melodias.

Uma festa de rap. Comandada por mulheres. O clima não poderia ser melhor. Em um final de sexta-feira, no centro de São Paulo, transeuntes, talvez em maior quantidade que o próprio o público do festival, se cruzavam em um ambiente de convivência em paz e comunhão. A liberdade da rua respeitada. Pessoas aparentando situação de rua aproveitando um bom sistema de som e água de graça.


Foto: Fábio Piva/Red Bull Content Pool)

A Red Bull foi impecável em sua realização. Acertos notáveis, aos diferentes públicos, refletidos em sorrisos, abraços e o clima seguro com que o festival se passou. Para além da graça de vender seu produto por (menos da) metade do valor de outros eventos de porte, #RBMSP foi um festival acessível não só no bar, que distribuiu água gratuitamente em todos os dias da programação, como nos ingressos, acesso às locações e até na concepção do projeto. Ao optar destacar artistas e cenários dissidentes diversos, algo que, considerando um festival desse porte, se aplica também ao determinismo do protagonismo local. Algo que se reflete pela visão do Akin. “Eu acredito na música, especialmente aquela que produzimos aqui. Poder atuar proporcionando diálogos e, com isso, criar espaços mais expressivos para o desenvolvimento da cena local, se tornou mais do que um trabalho. Tem sido um mantra diário há tempos e, todas as dificuldades e esforços em fazer isso acontecer nos dias de hoje, são recompensadas quando as luzes acendem, o som aumenta e cada uma das pessoas que depositaram em mim sua confiança podem brilhar em um momento que é todo seu, por sua plena capacidade, trabalho, esforço e dedicação como artista”. pontuou o curador em seu agradecimento.

Agradeço a atenção dispensada enquanto público, não só pelo Akin, amigo, mas por toda equipe da Red Bull, em todas as locações. De verdade. ‘Comunicação e trânsito são direitos que poucos acessamos’, me disse Mayra Fonseca uma vez e guardo comigo. Alguém reconhecer seu esforço e auxiliar para tal é uma benção.

Extras #rbmsp
Os artistas Rodrigo Tamassia, Gabriel KOI e Dannyhell do coletivo NVVE MVE, responsável pela identidade visual do #rbmsp 2018, que também colaborou em visuais para live sets dos produtores americanos Jamal Moss, J. Albert e o brasileiro Xiao Quan como conteúdo do festival transmitidos pela página do Red Bull Station. Busca!

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07/12/2018

Bruno Barros é produtor de conteúdo independente. s.brunobarros@gmail.com | @labexp
Bruno Barros

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