O ano de 1988 foi um marco para o rap brasileiro. Naquela data, a gravadora Continental lançou Hip Rap Hop, o disco de estreia do Região Abissal, que foi o primeiro álbum completo de um grupo de rap lançado em todo Brasil.
A NOIZE produziu um mini-documentário em parceria com a Red Bull resgatando a história dessa banda histórica que havia ficado um tanto quanto esquecida pela maior parte do público. Thaide, OGI, KL Jay, Sharylaine (uma das primeiras rappers mulheres do Brasil), Nelson Triunfo – além dos próprios membros do Região Abissal – deram os seus depoimentos para o doc comentando a importância que o grupo teve. Lançado ontem dentro da programação do Pulso, o documentário motivou uma reunião dos membros do grupo – o que não acontecia há 22 anos.
Veja abaixo o primeiro e o segundo episódio, que conta com uma session exclusiva registrando a reunião da banda em frente à quadra da escola de samba Vai-Vai:
Ainda que a coletânea A Ousadia do Rap (1987) tenha sido lançada no ano anterior, os músicos que participam dela nunca se destacaram como os rappers lançados no ano seguinte. Foi em 1988 que saíram as coletâneas que lançaram os nomes mais conhecidos do início do rap nacional: Hip-Hop Cultura de Rua (com Thaide & DJ Hum e Código 13), O Som das Ruas (com Sampa Crew e Ndee Rap) e Consciência Black Vol. 1 (com Racionais MC’s e Sharylaine).
Formado por Athalyba-Man, Guzula, Bafé, Adilsinho, Marcelo Maita, DJ Gibass e DJ Kri, o Região Abissal se diferenciava de todos as bandas da época por uma característica básica. Enquanto os outros grupos trabalhavam rimando sobre bases de samples, eles produziam por si mesmos todas as suas bases usando as primeiras baterias eletrônicas que chegaram ao Brasil. “A gente era o Kraftwerk do rap”, brinca o DJ Gibass, que, ao lado do DJ Kri e do tecladista Marcelo Maita, foi o responsável pelas bases de Hip Rap Hop.
Infelizmente, os técnicos da gravadora Continental não possuíam nenhum conhecimento sobre o que era o rap – e muito menos know-how técnico sobre como gravar um disco de rap. Por isso, o Região Abissal não conseguiu registrar no álbum a sonoridade da banda ao vivo, que era mais pesada.
“Os parâmetros de equalização da Continental eram pra música sertaneja e a maioria dos técnicos se recusou a puxar o grave”, lembra Bafé. “Os caras falavam que não podia passar de 60hz porque se não abria um buraco no vinil. A gente não entendia isso aí”, lembra Athalyba.
Ainda que o resultado final de Hip Rap Hop tenha ficado um pouco abaixo das expectativas da banda, o disco se tornou uma obra histórica. Ouça abaixo: