Este review não pretende fazer juízo de valor sobre a qualidade das músicas em um contexto comparativo. Nem com os trabalhos anteriores da própria artista e muito menos com qualquer outra coisa. Essa resenha analisa Art Angels como se o álbum estivesse sozinho no espaço.
Não dá pra prender a Claire. Eu queria sentar com os caras que fazem parte da “indústria da música” e contar pra eles que não dá pra prender esse espírito. E isso é bem óbvio, só eles não sabem. Art Angels é um disco incrível, uma resposta artística a um emaranhado de coisas que passam longe e abaixo do conceito de “arte”. Eles tentaram colocar umas limitações, mas ela é dona da própria música. E então foi fazer o disco sozinha. Escreveu as músicas, remixou e produziu tudo. Isso é lindo e não dá pra podar. É mais genuíno do que a sede por popularidade que acaba por render uns e outros. Dá um orgulho danado dela porque os problemas ao longo do percurso não foram poucos (vide álbum “jogado fora” e insatisfações com a indústria da música no geral).
É estonteante ver um trabalho tão bonito e sofrido. Mas esse sofrimento ela nem chega a compartilhar com a gente, que ouve, porque tá tudo enclausurado sob camadas de batidas contagiantes. Músicas que vão tocar em clubes e boates ao redor do mundo sem que o público desconfie da verdadeira essência. Ela não fez questão de deixar essa dor na superfície porque não é isso o que importa. O que importa é que o ciclo encerrado por Art Angels vai levar embora consigo esse aspecto ruim de revolta. Art Angels é um manifesto que se resume no título da primeira faixa do disco: “Laughing and Not Being Normal” (“Rindo e Não Sendo Normal”, em tradução livre).
A gente recomenda ouvir sem julgar, só sentir. A viagem fica mais interessante.