Já havia sido comentado aqui que 2015 seria o ano do novo álbum do Tame Impala. Desde então, podem ser encontrados na web pequenos “spoilers” de Currents. A divulgação desse novo trabalho é marcada por diversos ~vazamentos~ e inclusive, devido ao um bug no iTunes, a tracklist já era de conhecimento de todo mundo que tivesse o mínimo interesse pelo assunto.
Finalmente Currents foi liberado e causou comoção geral, já que sua estreia oficial seria, em tese, apenas dia 17. Quanto a isso, a banda ainda não comentou nada. Poderíamos esperar mais surpresas, ou esse disco já basta?
O fato é que todo mundo já ouviu o terceiro álbum dos australianos e ele se difere por ser um dos mais inventivos e dançantes de todos até então. Os caras conseguiram se recriar dentro do seu próprio jeito de fazer música e Currents SÓ poderia ser melhor. Pelo menos é o que se espera do perfeccionismo de Parker. Talvez os fãs de Elephant fiquem um tanto quanto decepcionados, mas em entrevista ao The Guardian, o frontman do trio afirmou não se importar com isso, pois existe uma dura cobrança dele com ele mesmo para não ser um homem de um hit só. Uma necessidade de se reinventar artisticamente.
Currents se torna um dos grandes presentes de 2015 por que através dele é perceptível o amadurecimento pessoal de Parker, que se reflete em sua composição musical. Além de toda a psicodelia, que é a marca registrada da banda, o álbum traz uma mensagem de amor e desapego, tema recorrente em tempos líquidos. Mas, contrário à fugacidade dos relacionamentos modernos, Parker abre seu coração e não tem medo de mostrar seus sentimentos. Na mesma entrevista ao The Guardian, ele fala o quanto as composições são autobiográficas. Ainda que diga que toda essa reflexão feita em Currents em torno de um rompimento (sobre os erros, os acertos, as coisas que poderiam ser e não foram) em nada tenham a ver com o fim do seu namoro com a francesa Melody (pausa para o momento “Gossip”).
Currents é sobre o amor, é sobre a vida, é sobre relacionamentos, sobre solitude e sobre ser você mesmo. Sobre o quanto é necessário um momento de reflexão na vida. Assim, Parker convida você a se pegar pela mão e se levar pra dançar. Com “The Less I Know The Better” e a sensacional “Past life”, a impressão que fica é de que você está na fase pós “break up” em que você “just let it happen”.
Mas, além de toda essa casca de subjetividade, o terceiro álbum é envolto de uma estética muito anos 80. Ouvir todo esse disco do começo ao fim, de cabo a rabo, de trás pra frente e de modo aleatório, faz lembrar muito o conceito do filme Blade Runner, que tem uma proposta subjetiva e inspiracional, de gozar eternamente com a criação dos humanos robotizados. Assim, pode ser feita a analogia entre a tecnologia disponível em 2015, que, no filme, é representada pela criação dos “robôs-replicantes”, e a criação analógica que move o álbum (representado pelos “humanóides caçadores”) em busca de uma sonoridade mais pura. Ou seja, é uma busca pela essência.
Currents também bebe da fonte dos anos 80, que na primeira audição de “The Moment”, logo nos primeiros minutos, lembra Tears for Fears com sua “Everybody Wants to Rule The World”.
Fica a dúvida se Kevin foi um gênio e pensou na construção dos seus álbuns baseado em uma linha do tempo referenciada por décadas, onde os anteriores foram dedicados aos anos 60 /70 e agora reverencia os anos 80, ou se foi uma das epifanias que ele teve depois de ingerir cogumelos ao som de Bee Gees.
(O que não tira o mérito desse trabalho).