Resenha | Radiohead concede um espetáculo histórico ao público brasileiro

23/04/2018

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Aline Pellegrini

Por: Aline Pellegrini

Fotos: Stephan Solon/Divulgação

23/04/2018

A transposição das músicas do Radiohead, claramente concebidas em estúdio, parece impossível ao palco. É aí que a banda, que voltou a São Paulo depois de nove anos desde seu primeiro show na cidade, executa o extraordinário.

Foram raros e passageiros os vazios sentidos em comparação às versões de estúdio entre as 26 canções que o grupo tocou neste domingo (22), no Allianz Parque, durante o Soundhearts Festival, que contou ainda com shows do Flying Lotus, Junun (projeto paralelo do guitarrista do Radiohead, Jonny Greenwood) e Aldo, The Band. Não é pouco o esforço para isso: há um vai-e-vem de instrumentos em toda pausa para os aplausos – piano, percussão, teclados, guitarras e violões desfilaram no palco dezenas de vezes. Com isso, a banda atingiu no show o mesmo vocabulário soturno de beleza e esquisitice que permeia boa parte dos seus discos. A inquietude de cada música só é aliviada pelas desajeitadas, porém graciosas, danças do vocalista Thom Yorke.

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Yorke requebra e dá risadas maníacas entre um música e outra, mas, assim como seus colegas de banda, não é habituado a conversar com o público. Na única manifestação que não envolvia agradecimentos, o vocalista lamentou após a performance de “No Surprises” que, mesmo passados 20 anos do lançamento da canção, ainda não há alarmes e surpresas: “Um coração que está cheio como um aterro / Um emprego que lentamente te mata / Feridas que não irão cicatrizar”.

Radiohead (Foto: Stephan Solon/Divulgação)

Esta plateia composta de cerca de 30 mil pessoas, que encheu, mas não lotou o estádio, parecia realizar algo inédito em qualquer concerto desse tamanho: permanecer muito tempo absorta e em silêncio. O público se envolveu em uma espécie de transe pedido por cada música: “Exit Music (for a film)” e “Pyramid Song” foram ouvidas com atenção e mudez enquanto “Idioteque” e “2 + 2 = 5” foram ovacionadas com remelexos delirantes.

Radiohead (Foto: Stephan Solon/Divulgação)

Radiohead (Foto: Stephan Solon/Divulgação)

Em quase duas horas e meia de show, o Radiohead conseguiu uma unidade balanceando tanto canções delicadas, como “Daydreaming”, com batidas estridentes e distorções eletrônicas, presentes em “15 Step” e “Ful Stop”.

Apesar de estar divulgando seu último álbum, A Moon Shaped Pool (2016), a banda exibiu um catálogo de composições das duas últimas décadas de carreira. Não faltaram clássicos como “Paranoid Android”, “There There” e “Fake Plastic Trees”, esta última que encerrou a apresentação carregada com a melancolia de um público que sabe que não deve ter a chance de assistir a um show do grupo tão cedo.

Radiohead (Foto: Stephan Solon/Divulgação)

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23/04/2018

Aline Pellegrini

Aline Pellegrini