Eugene Hütz segura uma garrafa de vinho na mão, bebe um gole e dispensa a bebida. Para em frente ao microfone e começa a falar, em inglês. “Quando eu vim ao Brasil pela primeira vez…” A plateia já começava a gritar apenas por ouvir “Brasil”, mas ele continua. “Eu ouvi alguém falar uma palavra que eu não conhecia: ‘Malandro’”. Em meio ao barulho cada vez mais ensurdecedor do público, o principal vocalista, violonista e fundador do Gogol Bordello olha para todos e volta a falar. “A próxima música é um tanto quanto autobiográfica. Ela se chama ‘Malandrino’”. A canção começa devagar, mas logo a energia da banda irrompe e, como em toda música do set, palco e plateia interagem.
Apesar de não ter sido o momento mais agitado do show, “Malandrino” e o discurso do vocalista simbolizam bem o que é o Gogol Bordello e o que é a apresentação da banda. Em suas viagens pelo mundo, o grupo, principalmente seu vocalista e líder Eugene Hütz, absorvem culturas e doam um pouco de si para cada público. O que aconteceu em Porto Alegre na noite do dia 23 de setembro foi mais ou menos isso. Algumas palavras em bom português e o público na mão, feliz, pulando com o “punk cigano”.
O Opinião não estava completamente lotado, mas quem estava lá queria participar do show. O repertório misturou clássicos com músicas do novo álbum, “Pura Vida Conspiracy”, que já eram cantadas pelos fãs que se apertavam na frente do palco. Algumas músicas deram vida a momentos incríveis. “Wonderlust King”, “Break the Spell” e “Start Wearing Purple” fizeram o bar inteiro cantar em coro. Mesmo em faixas menos conhecidas, os vocalistas de “apoio” Pedro Erazo e Elizabeth Chi-Wei Sun estimulavam o público a participar. E não havia como negar o pedido.
No começo de “Sun is on my Side”, Eugene brinca: “isso parece sertanejo, não?” E depois de algumas poucas respostas, volta a falar. “Bom, vamos fazer punk-rock sertanejo então.” Mais uma vez é possível sentir a festa cigana acontecendo.
No fim da primeira parte do show o vocalista apresenta cada um dos integrantes. Pasha, bielorrusso, no acordeão; Sergey, russo, no violino; Elizabeth e Pedro, escocesa e equatoriano, nos vocais de apoio; Michael, americano, na guitarra; Oliver, também americano, na bateria; e Thomas, etíope, no baixo. Além da diversão, o Gogol Bordello tem uma ideologia de liberdade, de que somos, acima de tudo, seres humanos, iguais nas diferenças.
Mais do que uma festa cigana, um momento para dançar, pular e deixar de lado os problemas, a banda apresenta uma festa da diversidade. O Gogol Bordello passa a mensagem e faz um show em que todos nos sentimos iguais, em que, apesar da sempre presente idolatria aos músicos, nos sentimos iguais a eles.