_por Marcelo Valadão
_fotos: Yann Vadaru
Entramos na área reservada na frente do palco, destinada aos jornalistas e convidados. Do lado de lá da grade que nos separava do público, a multidão estava ensandecida e ansiosa. O ambiente estava pronto para explodir e o Suicidal Tendencies não havia nem começado.
Às 9h30 da manhã do domingo, quando soaram os primeiros acordes de “You Can’t Bring Me Down” , tivemos a certeza de que nossa tranquilidade dentro daquela área havia realmente acabado.
Não foram garrafas ou cusparadas que vieram em nossa direção, mas sim aquela manada de lunáticos possuídos pelo som dos caras. A grade estava tombada e o nosso espaço completamente tomado. O caos estava apenas começando e nós amamos. A banda também.
Eles continuaram com “Institutionalized”, “Join The New Army”, inflamando cada vez mais aquele povo descontrolado, que nessa altura começava a ganhar espaço no palco, garantindo um espetáculo de pessoas se jogando e fãs que gritavam atulhados em montes humanos.
Logo, um minuto de calma e Mike Muir, vocalista da banda, começou a comparar São Paulo a Venice Beach, origem dos caras, e todo mundo sacou que mais um ponto alto de destruição estava para acontecer. Quando o baixo introduziu “Possessed To Skate”, nos jogamos no meio do povo: impossível não sentir-se como um bárbaro guerreiro e skatista, curtindo o som que é um dos maiores hinos do esporte.
Depois, continuamos em ritmo de guerra, gritando e acompanhando a música como irmãos de batalha. Sim, irmãos. Por mais que o ambiente estivesse repleto de fúria e descontrole, havia uma preocupação inusitada com o próximo.
Carteiras e celulares perdidos eram deixados no palco e as rodas punk eram feitas com cuidado, ou seja, poucos desferiam golpes que pudessem causar sérios danos a alguém. Tudo como uma dança em homenagem à selvageria, que culminou com “Cyco Vision”.
Lá por umas tantas, Mike nos indagou: “eu percebo que vocês perderam a missa para estar aqui, mas esta é a igreja suicida”. E nós, alegres por não estarmos ouvindo sermão de padre nenhum, dissemos amém gritando as iniciais da banda em uníssono.