Review | Roger Waters no Beira Rio, em Porto Alegre

26/03/2012

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Por: Revista NOIZE

Fotos:

26/03/2012

Foto: Lucas Carneiro Neves

_por Tomás Bello

“Cara, o que é isso? P*** que o p****, o que é isso?!”, exclamava um sujeito logo ao lado. Cabeça de poucos cabelos, barriguinha saliente, talvez uns 38 anos. Algo assim. À minha frente, cerca de dois passos e meio, não eram os palavrões ou gritos exaltados que chamavam a atenção. Mas esse cara, fios brancos, mais uma vez barriguinha saliente – uns 48, não muito mais, também não muito menos -, fechava os punhos e comemorava cada acorde como se fosse um gol.

Eu estava no gramado do Beira Rio, o estádio do Internacional de Porto Alegre. Não era dia de jogo, Leandro Damião não metia a bola nas redes a cada 10 segundos. Torcida? Sim. Cantos, palmas, olhos marejados pela emoção? Também. Mas para Roger Waters e o seu universo político-psicodélico-progressivo de The Wall.

*

Fotos: Tomás Bello

The Wall chegou as prateleiras em 1979. Logo foi transformado em espetáculo. Virou filme, rodou o mundo, traduziu uma época. E isso pesa.

Quando “In The Flesh” abre o show, o que se vê (e ouve) são cenas como as do primeiro parágrafo deste texto: um gritando aqui, outro chorando ali, mais um eufórico acolá e mais outro vibrando junto. E com razão: é um dos maiores eventos roqueiros do planeta. Vem “The Thin Ice”, na cola “Another Brick in the Wall Part 1”… E o visual é mesmo incrível, o som quadrifônico faz com que aviões e helicópteros voem sobre seus ouvidos e as crianças da ONG Canta Brasil no palco ao lado de Waters de fato é algo que emociona. Fico imaginando a alegria desses 15 meninos e meninas ao serem aplaudidos por cerca de 50 mil pessoas.

Mas aí o tempo passa, as imagens se repetem, os gestos entram em loop. A sensação que se tem é que o filme é antigo, a mensagem já foi dita, não tem mais o mesmo efeito. Tipo remake hollywoodiano que atualiza forma, cores e sons. Deixa o velho com cara de novo. Não muda a essência da coisa.

Claro que as projeções são impecáveis, que o muro sendo construído, destruído e reconstruído de canto a canto do estádio, bem em frente aos olhos de cada um, é uma imagem magnífica. Claro que os bons momentos são muitos – “Comfortably Numb” é outra que faz Roger Waters ganhar algumas dezenas de backing vocals (afinal, a canção é linda). No entanto, requer um certo esforço – ou algo mais, vai saber – viajar em direção a The Wall sem lembrar a todo momento que estamos em 2012.

Sim, ainda não nos livramos das guerras. Sim, muitas famílias ainda perdem seus entes queridos em conflitos infindáveis. E, sim, o mundo não mudou tanto assim, ao menos em sua essência, desde a criação de The Wall.

Mas experimente colocar o velho John Lydon e o seu Sex Pistols cantando “Anarchy in the UK” no centro de Londres: você daria início a um movimento, assim como aconteceu em 1976? Dificilmente. Não porque os problemas acabaram, sim porque o discurso precisa ser renovado.

Assistir a The Wall com esse detalhe colado na testa faz dele um lindo espetáculo. Uma banda extremamente profissional, projeções e direção de palco irrepreensíveis, uma coleção de pérolas sonoras e um ícone rocker comandando a festa. Um puta show. Ponto.

Agora, ao final de duas horas de apresentação e vinte minutos de intermission, lindo mesmo é chegar em casa e atender aos insistentes bocejos que não arredavam pé desde o gramado do Beira Rio.

@eusoutomasbello é editor da NOIZE

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26/03/2012

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