O belíssimo cenário criado, à mostra mesmo antes do início do show, com tapetes persas, abajures e lustres retrô e um magnético baixo acústico (difícil, pra uma fã do instrumento, tirar os olhos dele), já anuncia o que nos espera no Teatro do Sesi, em Porto Alegre. Hugh Laurie e sua The Copper Botton Band, claramente, prepararam um espetáculo requintado.
E ele começa numa quase pontualidade britânica, com Laurie adentrando o palco, dançandinho e com um bom drink na mão. Já ao microfone, o brinde vai para a plateia. “Saúde”, diz, em bom português. Pronto, o público estava ganho, e o show abre com “Iko Iko”, de The Dixie Cups.
A partir dali, o que se viu foi um espetáculo impecável, com uma banda do mais alto nível, afinadíssima, que ainda abre espaço para que todos brilhem igualmente. Há solos incríveis, e em um deles, Jean McClain assume a voz principal em “Send Me To The ‘Lectric Chair”, de Bessie Smith, proporcionando um momento especialmente emocionante. Ao meu lado, um fã de música, porém não muito conhecedor da obra de Laurie, permite que lágrimas escorram diante de tamanho talento e entrega da divertida backing vocal.
Entrega também há, é claro, do próprio Laurie, que traz não só seu talento e amor pela música, mas também sua experiência nos palcos da comédia teatral inglesa. Ele brinca, faz piada, interage com o público, que não se acanha e tenta chamar sua atenção.
Aos elogios, ele agradece – e devolve, mostrando sua declarada admiração pela beleza brasileira; ao pedido por “Unchain My Heart”, fora do set list, ele pergunta “é pra eu tocar ou fazer isso com você?”; ao desejo da fã, ele atende e chega a se deitar no palco para autografar sua costela que, a esta altura, já deve estar tatuada. Laurie é apaixonante, muito mais do que seu famoso Dr. House, responsável por levar boa parte do público ao teatro para vê-lo ao vivo.
Mais de duas horas depois, a deliciosa “Green Green Rocky Road” encerra o show. O público não arreda o pé. Ao contrário, vai se aglomerando ainda mais em frente ao palco, à espera da volta de Laurie. O bis acontece com “Go To The Mardi Gras”, “Changes” e “You Never Can Tell”, que poderia ter finalizado em grande estilo, mas não. Tem mais, e é “Mas Que Nada”, de Sérgio Mendes – que não estava no set list, mas vem sendo tocada em todos os shows do Brasil – que coloca o ponto final nesse inesquecível espetáculo.
P.S.: Numa próxima, não faça selfie de costas para o palco, ainda mais durante um dos solos de baixo mais lindos que já ouvi. Obrigada.
Set-list:
“Iko Iko”
“Let the Good Times Roll”
“Evenin’”
“Buona Sera”
“What Kind of Man Are You”
“Day and Night”
“Kiss of Fire”
“So Damn Good”
“Send Me to the ‘Lectric Chair”
“Mystery Train”
“You Don’t Know My Mind”
“The Weed Smoker’s Dream”
“Lazy River”
“Didn’t It Rain”
“Careless Love”
“Get Out My Life Woman”
“My Journey to the Sky”
“Wild Honey”
“I Hat a Man Like You”
“I Wish I Knew How It Would Feel to Be Free”
“Green Green Rocky Road”
“Go to the Mardi Grass”
“Changes”
“You Never Can Tell”
“Mas que Nada”
Fotos: Ariel Fagundes