Por Lidy Araujo
“Você tem a vida inteira pra fazer isso”, dizia minha mãe quando, na minha adolescência, me respondia não. Ok, de fato, eu tinha a vida inteira pela frente, mas quem disse que, aos 20, eu assistiria ao show dos Ramones, por exemplo? (De fato, a banda se desfez dois anos depois do show que eu fui. Viu, mãe, eu não tinha a vida inteira pra fazer isso.)
Jovem é assim. A gente quer viver tudo, não perder um capítulo, varar a madrugada, só ir embora quando as luzes acenderem. E é justamente por isso que a juventude é tão encantadora. A gente vive, e vive com intensidade. Porque “não temos tempo a perder”.
Nossa redação está silenciosa hoje. Somos jovens, e não são raras as madrugadas que passamos em claro… De pequenas casas noturnas a grandes eventos, estamos lá, trabalhando ou curtindo (ou os dois juntos, pra sermos honestos). Portanto, não é nem um pouco difícil nos colocarmos no lugar daquelas pessoas que escolheram a boate Kiss como programa de sábado à noite.
Estamos comovidos, sim. Com os fatos e com a movimentação em torno deles. Estamos comovidos com pessoas como Mariana Camardelli e Gabriela Guerra, de Porto Alegre, que criaram uma Vakinha e correram às compras, enchendo carrinhos de produtos que estavam sendo solicitados em Santa Maria. “Ontem, a gente arrecadou R$ 500. Daí, gastamos este valor do nosso dinheiro”, conta Mariana. “Compramos café, biscoitos, barras de cereal, remédios, água, papel higiênico.”
De ontem pra hoje, a Vakinha cresceu. Até o momento da publicação deste post, o valor arrecadado estava em mais de R$ 10 mil, e ainda havia R$ 9 mil a serem confirmados. “Agora, estamos em contato com um voluntário de lá, pra saber direcionar esse dinheiro da melhor forma”, explica Mariana. “Acho que vamos doar boa parte para as famílias terem apoio psicológico. Também estamos vendo se alguém se opõe a doarmos uma parte pra Vila Liberdade.” (N.R.: Ainda no domingo, um incêndio destruiu mais de 50 casas em Porto Alegre. Saiba mais aqui.)
Carrinhos cheios saindo do supermercado
A empresa de transporte Planalto foi a responsável por levar, gratuitamente, os donativos enviados por Mariana e Gabriela, assim como voluntários da área da saúde, como psicólogos e enfermeiros. Bastava apresentar documentos que comprovassem a profissão para embarcar sem pagamento de passagem.
Mutirão pra levar as compras do carro para o ônibus da Planalto
Houve ainda quem disponibilizou suas casas para hospedagem de familiares nas cidades onde vítimas estão recebendo tratamento. Tudo através do projeto criado justamente para isso, o Somos Santa Maria. O Nós Coworking, onde fica localizada a redação da Noize, em Porto Alegre, está apoiando esta iniciativa.
Ficou a fim de ajudar de alguma forma também? Há várias maneiras. Veja só:
Doação de sangue
O Hemocentro do Estado diz que, somente hoje pela manhã, “os bancos de sangue receberam um grande fluxo de doadores, inclusive além de sua capacidade de atendimento”. Então, pede que, a partir de agora, somente pessoas com fator RH negativo procurem os hemocentros. Outras doações devem ser previamente agendadas pelo telefone (51) 3336-6755.
Acomodação de familiares
Especialmente em Santa Maria e Porto Alegre, onde está a maioria das vítimas em atendimento, o cadastramento pode ser feito através do projeto Somos Santa Maria, neste link, ou do telefone (55) 9979-2539.
Voluntariado
Profissionais da saúde devem entrar em contato com o telefone (55) 9155-2087, para saber quais as necessidades da equipe que está em Santa Maria.
Doações financeiras
Não há mais necessidade de mantimentos (como água e papel higiênico) nem equipamentos básicos (como luvas e máscaras cirúrgicas). Por isso, a Vakinha que falamos acima pensa em direcionar as doações para outras necessidades, como atendimento psicológico de vítimas e familiares. Para doar, acesse a Vakinha. Vale ressaltar que o site abriu mão das taxas normalmente cobradas pra realização das vaquinhas.