As canções de Young e White

30/04/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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30/04/2014

Lá no início de 2014, Jack White revelou em um chat com fãs que estava trabalhando em um disco de covers com Neil Young. Era bom demais para ser verdade. O provável maior guitarrista do século XXI gravando ao lado de uma das maiores lendas do folk e do rock americanos. Young acabou desmentindo o “lançamento” em março, falando que não seria um álbum “de verdade”, mas sim algo como um apanhado de grandes músicas em disco “que não soa como nada que você andou ouvindo recentemente”. Se Young pensa o álbum como um lançamento “de verdade” ou não, deixou de importar com a chegada do anúncio oficial de A Letter Home, nome da parceria entre ele e Jack White.

Depois do anúncio, uma característica do disco começou a chamar mais atenção do que a parceria em si: o modo como ele foi gravado. Young cantou e tocou para um Voice-o-Graph, um equipamento da década de 40 que consegue capturar o som e passá-lo para vinil quase instantaneamente. O estúdio de alta qualidade de Jack White garantiu a captação sonora perfeita, como já deu para perceber no vídeo de “Needle of Death”. Se você ainda não viu, confira.

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Logo que os boatos sobre o disco começaram a aparecer, muito se especulou sobre as faixas que fariam parte do trabalho. Jack e Neil deram dicas em algumas entrevistas, mas não chegaram a revelar toda a tracklist até o anúncio oficial. Assim como Young disse ao negar o “lançamento” do álbum, a lista é uma compilação de grandes canções, mas não apenas isso. São músicas que fizeram o folk, o country e o rock se estabelecerem dentro da cultura do ocidente. Os covers viajam  por uma época em que as características que vieram a compor a obra de Jack White começavam a se estabelecer como alguns dos padrões da música ocidental. Acima de tudo, A Letter Home deve soar como uma demonstração de respeito pelas origens, e cada faixa tem sua história e importância dentro da história da cultura popular. Saiba mais sobre elas abaixo.

Phil Ochs – “Changes”

Depois de uma introdução possivelmente inédita, o disco começa com “Changes”, composição de 1966 de Phil Ochs, contemporâneo obscuro de Bob Dylan. A maior parte das canções do cantor são de protesto e falam sobre casos isolados. Ele mesmo se definia um “jornalista musical”. A faixa gravada por Young acaba sendo justamente uma das poucas de Ochs a fugir dessa característica. “Changes” é uma composição introspectiva, em que o músico escreve sobre as diversas mudanças que abalam sua vida.

Bob Dylan – “Girl of a North Country”

Escrita pelo cantor em 1963 e baseada em uma música tradicional, a faixa fez parte da versão final do seu primeiro clássico indiscutível, The Freewheelin’ Bob Dylan. Nela, Dylan pede para uma outra pessoa pessoa falar sobre ele para uma mulher que já havia sido um grande amor, mas que agora estava no norte. Apesar de não ter sido lançada como single, a faixa se tornou uma das mais populares de Dylan graças à constante performance dela em shows.  Ela já ganhou inúmeras versões de nomes como Joe Cocker e Rod Stewart. O próprio Dylan regravou a canção ao lado de Johnny Cash durante as sessões do clássico Nashville Skyline.

Bert Jansch – “Needle of Death”

Uma das grandes figuras do folk britânico na década de 60, Bert Jansch tem em “Needle of Death” uma das suas canções mais melancólicas. A faixa, lançada em 1965, é um lamento poético do músico após um dos seus melhores amigos ser morto por uma overdose de heroína. A canção foi o primeiro single de Jansch e tem uma levada folk básica, com um simples dedilhado acompanhado de uma letra pesada, expondo o sofrimento do cantor na época da tragédia.

Gordon Lightfoot – “Early Morning Rain”

Mais uma canção lendária do folk que ganhou muitas versões diferentes, “Early Morning Rain” é a composição mais renomada do canadense Gordon Lightfoot. A música usa a base de violão e voz da música folclórica e fala sobre um homem que está longe de casa, sem conhecidos por perto e com pouco dinheiro. O estereótipo básico das canções folks é quebrado quando Gordon situa o personagem dentro de um mundo moderno, com aviões, carros e aeroportos, chegando a brincar sutilmente na passagem “you can’t jump a jet plane like you can a freight train”. Um clássico que promete ficar ainda mais marcante na voz de Neil.

Willie Nelson – “Crazy”

Nelson só foi virar o showman do country lá no meio dos anos 70, quando se tornou um dos grandes nomes do “country fora da lei” de Johnny Cash, mas ele já era conhecido desde o final da década de 50 como um compositor de grandes hits do pop tradicional. “Crazy” é uma dessas composições populares antigas de Nelson, se aproximando muito do easy-listening de Sinatra na sua versão original, gravada por Patsy Cline em 1961. A versão de Neil Young deve soar muito mais com a do próprio cantor, que aparece apenas em coletâneas e discos ao vivo. Willie toca ela com uma pegada mais voz e violão, mostrando o potencial folk que outros covers já mostravam. Alguns outros artistas que também fizeram versões da canção foram Kenny Rogers, Julio Iglesias e LeAnn Rimes.

Tim Hardin – “Reason to Belive”

Tim Hardin passou longe de ser uma super estrela do folk na década de 60, mas sua aproximação com o jazz, o blues e a psicodelia o tornou bastante influente durante os anos 70 graças ao seu “folk quieto”, lembrando contemporâneos como Leonardo Cohen e Simon and Garfunkel. “Reason to Believe” é um das suas composições mais belas, tendo sido um grande sucesso na voz do cantor pop Rod Stewart. De novo, Neil deve tocar uma versão extremamente folk da canção, mas já é interessante apenas imaginar o timbre do cantor dentro de “Reason to Believe”.

Willie Nelson – “On The Road Again”

Ao contrário de “Crazy”, “On The Road Again” mostra Willie Nelson em um de seus momentos mais country. A faixa foi composta para o filme “Honeysuckle Rose”, primeiro filme em que o cantor foi protagonista. Ela fala simplesmente sobre a vida na estrada, se relacionando bastante com o longa-metragem. A “On The Road Again” original é bem animada, o que deve fazer do cover de Young, só com voz e violão, bastante curioso.

Gordon Lightfoot – “If You Could Read My Mind”

Se “Early Morning Rain” é a canção mais renomada de Gordon por causa das versões de outros artistas, “If You Could Really Mind” é a faixa que fez os americanos conhecerem seu nome. Inspirada pelo divórcio que o músico havia enfrentado no início de 1970, ela é carregada com um dedilhado simples e arranjos de corda, tendo chegado ao topo das paradas de easy-listening da Billboard e se tornado um hit.

Ivory Joe Hunter – “Since I Met You Baby”

Um clássico dos anos 50, “Since I Met You Baby” foi um dos primeiros hits do pianista e precursor do R&B Ivory Joe Hunter. Sua versão original era bastante minimalista, não tinha as orquestrações que as futuras baladas do gênero teriam e fugia totalmente do rock n’ roll que acabava de estourar nos Estados Unidos na época (1956). Isso permitiu a Neil Young criar sozinho uma proximidade com a faixa. Ele apresentou a canção no seu show para o Farm Aid em 2013.

Bruce Springsteen – “My Hometown”

 “My Hometown” fecha o disco de maior sucesso do The Boss, Born in the U.S.A., e é uma das canções mais sinceras já compostas por Springsteen. A canção acontece na voz de um narrador que relembra o tempo em que vivia na sua cidade natal, com os fatos narrados se encaixando com alguns relatos biográficos do músico, apesar dele negar essa característica da faixa. Um dos grandes destaques da faixa é o seu final, que ocorre como um fade-out e dá a entender que a vida na cidade natal ainda não acabou, pois a cidade ainda existe. Neil não deve emular isso, claro, mas é interessante pensar em como o músico deve apropriar a composição do Boss.

Don Everly – “I Wonder If I Care as Much”

Neil deve gravar uma versão parecida com a primeira lançada pelo The Everly Brothers, no seu disco autointitulado de 1958. A canção é uma simples composição country americana, passando um sentimento tradicional, mas escrita pelo próprio músico.

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30/04/2014

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