Em Londres desde 2000, os brasileiros Bruno Verner e Eliete Mejorado vem mostrando ao Velho Mundo que o Brasil também pode se aventurar quando o assunto é música eletrônica e experimentalismos. O projeto Tetine, que nasceu em meados dos anos 90 em São Paulo, chega agora a uma nova etapa, marcada pelo disco “In Loveland with You”, lançado no último mês de maio.
O encerramento da trilogia “Tropical Punk”, iniciada em 2010, foi definido pelos seus próprios criadores como um “disco poético de investigação sobre um suposto quarto mundo existencial e autobiográfico, como metáfora de um espaço imaginário e real”. E é esse apanhado de ideias e conceitos diferentes, que se movem entre dark sambas, post-punks e synthpops, que pedimos para Bruno Verner colocar “In Loveland with You” acima da pegada eletrônica da banda e de suas fórmulas musicais trangressoras.
“In Loveland with You” foi passado a limpo aqui no Faixa a Faixa. O disco, que é uma homenagem ao cineasta Rogerio Sganzerla, autor do filme clássico “O Bandido da Luz Vermelha”, é dono de uma beleza estranha, como a próprio duo costuma falar. E os comentários de Bruno, com direito a poemas e frases soltas, exemplificam muito bem isso.
“To Burn”: “To Burn” é barroca, lisérgica, psicodélica. Foi a melhor a maneira de misturar Arnaldo Baptista e Tetine num mesmo espaço. É cheia de órgãos dissonantes e harmonias vocais com uma levada punk funk swingada.
“Eu Tô em Chamas”: Esquisita, solar, bem eletrônica. Eu gosto muito dessa música e adoro o vocal da Eliete em especial. Ela tem uma harmonia estranha, um espaço sonoro próprio. É toda quebrada, polirítmica. E é também uma parceria com o Alex Antunes, que fez a letra lindamente.
“Call It”: É um dark samba do Tetine. A gente vem compondo sambas eletrônicos há muito tempo. Essa é da família de músicas como “Doing the Catwalk”, “Olha Ela De Novo”, “Samba de Monalisa”.
“O Bandido”:
Curto circuito na favela do Tatuapé.
Um país sem miséria é um país sem folclore
E um país sem folclore é um país sem turistas
“Burning Land”: “Burning Land” é um samba funéreo feito pra quem assiste tudo e não fala nada. O quarto mundo é agora. “And there’s war. A war without end, you just can’t remember”. Foi escrita para e sobre os “vivos”, os “mortos-vivos”. É um samba sobre genocídio. O vídeo de “Burning Land” foi gravado numa mandala com a temperatura de -4 ºC e reflete tudo isso.
“Suction”: “Suction” foi composta em colaboração com o duo de Los Angeles Howard Amb. É uma faixa bem melancólica e minimalista com muita percussão e tocada de maneira bem orgânica.
“Dream Like a Baby”: “Dream Like a Baby” é um rap, um spoken word torto comandado pelo vocal. Tem uma beleza nostálgica nela, na fusão da instrumentação com os claps e hits de early hip hop na bateria eletrônica, o vocal da Eli e a linha de baixo sintetizada.
“Shake”: É preciso pecar em dobro. “Shake” foi escrita durante os ensaios do “Tetine vs. O Bandido da Luz Vermelha” e chegamos a apresentá-la ao vivo durante a performance. Se chamava “I Want More” antes do disco sair.
“Loveland”:
In loveland with you
Where we are all strangers connected by what we reveal
And we share our beds but not our thoughts
“Tuva”: Interlúdio. Um coro meditativo.
“Joy N2”: Sol negro.
“Quick Fix”: É uma canção de amor claustrofóbica acústica com violões, harpas, percussão e um baixo manipulado. Uma das músicas mais estranhas desse disco. Gosto muito dela e é boa para ouvir com headphones também. Tem a forma de uma toada com uma harmonia quase atonal e uma melodia bem tensa… Se voce chegou até ela, é porque o disco te pegou.
“Mula”: Colaboração com o poeta Ricardo Domeneck – nos referimos a ela como “a de cascos não-retornáveis”.
Poupe-me, Popeye: longe de mim impor-me híbrida
À tua hípica – brutalmente homogênea,
Especialista em fronteiras,
Eject de habitat,
Eis-me, excelentíssimo,
Ade cascos não-retornáveis
“Epilogue”: Piano e voz.
(Foto: Pedro Ferraro)