Wiu retorna às origens do trap e da noite em Fortaleza em “808 Club”

26/03/2025

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Por: Damy Coelho

Fotos: Divulgação

26/03/2025

Wiu atendeu nossa ligação de vídeo enquanto trançava os cabelos vermelhos, em sua casa em Fortaleza (CE), que também é sua cidade natal. A agenda vem sendo cada vez mais apertada, especialmente após o lançamento de 808 Club, em janeiro deste ano, que agradou fãs logo de cara: tornou-se a quinta maior estreia do Spotify global na semana de lançamento.

A mixtape — a quarta de sua discografia — mergulha em referências diversas: no beat grave e desacelerado dos primórdios do trap, na vida noturna da “Fortal City” e na estética dos videogames de 8 bites. Todas essas referências apontam para uma mesma intenção: retomar raízes e falar de suas origens.

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Wiu se mostra devoto das origens do trap e pesquisa profundamente essa história: seja por evocar a cultura das mixtapes ou pelo próprio título do trabalho — 808 remete ao sintetizador Roland TR-808, que deu origem ao grave característico do estilo. “Foi muito usada nos anos 1990, muitos beats que lembro de criança saíram dele”, comenta, mostrando que sabe bem do que está falando.

Para além disso, a mix tem um quê de nostalgia. “Existe uma parada meio cinematográfica de outros clipes que eu via quando era criança, sabe? Do rap dos anos 2000, que eu ouvia muito, e também dos CDs de black e R&B que meu pai ouvia. Busquei trazer isso pro meu som”, explica.

A mixtape também é sobre colar junto, o que se reflete nas parcerias escolhidas. “Eu sempre deixo um segundo verso aberto para algum artista que surja na minha mente. Pode ser para alguém que merece a oportunidade de fazer um som irado, ou que eu admire, tá ligado? Botei o Japa, o Alee… Tem também o [rapper norte-americano] Lil Mosey, a vibe dele casou muito com a minha”, comenta. “Todo mundo envolvido nessa mix teve muita vontade de fazer, isso faz o resultado valer a pena”, complementa.

808, na essência, é uma balada que pode ser em qualquer lugar do Brasil. “Um rolê que todo mundo quer colar. Que você dá com os amigos pra se divertir, onde você se sente bem”, define.

Confira faixa a faixa de todo esse rolê pelo próprio Wiu abaixo:

“Mundo do Will”: Essa quase entrou na versão deluxe do Vagabundo de Luxo (álbum com influências reggaeton lançado em 2024). É bem freestyle. Fala um pouco do meu contemporâneo, de como vejo a minha vida agora, dentro da indústria e conhecendo como que ela é. Na letra, falei muito sobre coisas que me trouxeram o conforto e paz, de poder correr atrás do que realmente importa e não só ficar tão vidrado no trampo como eu era antes, tentando ganhar meu espaço na cena. Porque, por mais que exista espaço para todo mundo no trap, a cada ano que passa, parece que ele estreita mais.

“Freestyle de luxo”: Essa eu quis mandar a realidade do jogo. Tem várias linhas que eu falo sobre isso: que “ninguém vive pra sempre/de onde eu vim não tem simpatia para ninguém/do mesmo lugar que os bandidos vêm”, tá ligado? Então, tem um pouco sobre como é manter as pedras vindo do lugar de onde vim, de Fortaleza, de uma região mais afastada do game. Mas tudo isso com muito orgulho, porque esse lugar me moldou pra ser o cara que sou hoje. Isso é um tema recorrente em todo álbum: a maneira como a gente encontra a nossa forma de poder usufruir de coisas que a gente não tinha. Falo também de pessoas que estão comigo, que me acompanharam desde baixo também, meus amigos, a galera que tá sempre comigo em Fortaleza.

“Ruas de Fortal”: Feat com meu maninho Brandão, daqui de Fortaleza também. Quem me conhece tá ligado que comecei com batalha de rima, no freestyle. Curtia brincar com as palavras mesmo, fazer as pessoas darem risada. E junto a isso, queria trazer umas influências de Don L, do Costa a Costa. Essa foi produzida por um maninho meu de Belém, Eric D, vale muito a pena deixar esse salve. Eu tava achando o beat muito simples, mandei pra ele, expliquei as sensações que queria passar, uma atmosfera meio etérea. E cara, ele me devolveu a música 20 minutos depois, um beat incrível.

“Oxigênio”: O Lil Mosey sempre me inspirou muito, via muito vídeo dele no YouTube. Ele amassou na música. E “Oxigênio” é uma metáfora. Fala assim: “Meu mano do lado já tá apagado, precisando de oxigênio”, que é quando tem muita gente fumando no carro, sabe? Então, foi um som que falei muito sobre estilo de vida, também. Fiz quando morava em São Paulo. Quem produziu foi o Trick, ele é um beatmaker baiano, a gente confiou muito nele pra produzir essa vibe.

“Luísa Sonza”: Gosto muito da ideia de colocar nomes de pessoas numa música. Fiz essa depois de ver um story da Luísa dançando numa festa, e no final ela fala: “Gente, vou abaixar o som só um pouquinho porque tá vindo a polícia, tá”? [risos]. Esse foi o motivo do nome. Já a letra foi inspirada num rolê real que dei com amigos.

“Chick”: Ia ser “Balada Chique”, mas achei assim mais bonitinho. Eu sempre tô pesquisando os beats que a galera cria com meu nome e jogam na internet, sabe. Aí achei esse beat, do TDK. Achei muito foda, uma atmosfera meio Justin Bieber, Skrillex. Essa eu quis fazer, tipo, brincando com a voz. Falo sobre uma menina que é poderosa, a mais gata do baile, que sabe disso e usa isso a favor dela. Sou eu colocando uma personagem no pedestal.

“Puto”: Essa eu gravei na estrada, indo pra Balneário [Camboriú, SC]. Falo sobre amores passageiros, amores líquidos. De quando você se envolve e a última causa desse envolvimento é o amor. Tipo, me convença que isso vale mais que uma noite, sabe? É uma cultura de desapego, também. De ser um puto, de se proteger de uma possível catástrofe amorosa se tornando um bad boy [risos]. Outro beat que saiu super rápido, amei a participação do Alee.

“Porquinho da minha vibe”: Essa encerra o ciclo, quis resgatar um pouco de certos clichês do trap. Coisas que sabe, é muito fácil hoje em dia, com a rapidez que a gente consome coisas, falar que é uma ideia “batida”. Só que existem pilares que fundamentaram esse som, tá ligado? Eu fiz uma parada mais calminha, mais sussurradinha, diferente da voz rasgada que faço sempre.

E acho que essa é a vibe que a pessoa sente durante o álbum todo, na real: de que, independente de qualquer coisa, eu tô muito bem, de que a minha arte me abraçou, me fortaleceu mais do que nunca nesses últimos tempos.

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26/03/2025

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Damy Coelho