Um ponto que liga as obras de Itamar Assumpção e Naná Vasconcelos é a grande inventividade dos dois artistas ao longo de seus percursos. O paulista e o pernambucano, cada qual a sua maneira, construíram caminhos singulares, em que a exploração livre da música permitiu a criação de linguagens extremamente próprias em seus trabalhos.
Hoje, viemos relembrar alguns daqueles que consideramos pontos altos (dentre tantos outros) das carreiras destes grandes gênios da nossa música. Confira:
Beleléu, Leléu, Eu (1980) – Itamar Assumpção e Banda Isca de Polícia
Um clássico absoluto. O disco de estreia de Itamar é considerado um dos cem melhores de todos os tempos da música brasileira pela revista Rolling Stones. Com clássicos como “Nego Dito”, “Fico Louco” e “Nega Música”, o álbum é um dos mais icônicos do movimento da Vanguarda Paulista. Com a banda Isca de Polícia, Itamar levou a cabo seu projeto de experimentação na canção popular, usando arranjos de rock em reggaes e sambas, com notas dissonantes e backing vocals completamente não convencionais.
Africadeus (1972) – Naná Vasconcelos
Gravado na França, o primeiro trabalho solo de Naná traz o berimbau enquanto personagem principal. As diversas possibilidades oferecidas pelo instrumento são exploradas pelo artista, que o desloca do seu uso tradicional. A primeira faixa, que dá nome ao disco, possui 19 minutos de experimentação total com ritmos, timbres e afinações. É uma obra monumental para a percussão brasileira e mundial, além de uma ode à África e sua música.
Bicho de 7 Cabeças (1993) – Itamar Assumpção e As Orquídeas do Brasil
Na trilogia, que conta com 22 duas músicas, Itamar é acompanhado pela banda As Orquídeas do Brasil, formada exclusivamente por mulheres. O álbum é também marcado por parcerias com os poetas Alice Ruiz, como as clássicas “Milágrimas” e “Tua Boca”, e Paulo Leminski, além de contar com participações de Jards Macalé, em “Estrupício”, e Tom Zé, em “É Tanta Água”. Nos três discos, encontra-se um Itamar com harmonias mais tradicionais, em arranjos extremamente delicados e criativos.
Amazonas (1973) – Naná Vasconcelos
Gravado no Brasil, o disco é fortemente inspirado na música africana e na obra do compositor modernista Heitor Villa-Lobos. De acordo com Naná, em entrevista à Folha em 2004, o disco carrega “a fascinação que tinha por Villa-Lobos de um lado e Hendrix de outro”. Naná, com sua voz, berimbau e tambores, soa como uma verdadeira orquestra. Com produção de Fagner e arranjos de Nelson Ângelo, o percussionista pernambucano cria, em cada faixa, paisagens sonoras a tal ponto imagéticas que podemos praticamente visualizá-las.
Isso Vai Dar Repercussão (2004) – Itamar Assumpção e Naná Vasconcelos
O encontro de gênios foi eternizado em um álbum de sete músicas. Itamar e Naná reuniram-se através de um convite de Zeca Baleiro, e iniciaram as gravações do projeto em 2001. O processo foi interrompido, mas, após a morte de Itamar, o baixista e produtor Paulo Lepetit encabeçou a finalização do álbum. A sonoridade simples, com arranjos de poucos instrumentos, conta com Itamar cantando e tocando violão, enquanto Naná trabalha a percussão de forma sutil, com palmas, caxixes e a própria voz.
Isso Vai Dar Repercussão foi lançado em 2004, em formato de CD. Hoje, quase vinte anos após seu lançamento original, o álbum está sendo editado pela primeira vez em disco de vinil. Para garantir uma cópia inédita do LP, assine agora o NOIZE Record Club e aproveite!