A música do coração do Brasil vibrou forte nos últimos meses. Desde veteranos, como no caso de Caetano Veloso, que apresentou o single “Talvez”ao lado do filho Tom Veloso, ou de Matheus Aleluia, que acaba de lançar o terceiro disco solo Olorum (2020). O novo trabalho do artista, que fez parte do lendário grupo Tincoãs nos anos 1970, é o seu primeiro todo autoral, depois de Fogueira Doce (2017) e Cinco Sentidos (2010).
Escute aqui “Talvez”de Caetano e Tom Veloso!
Há também estreias, como o Traquejos Pentecostais para Matar o Senhor (2020), primeiro EP da artista multimídia Ventura Profana com o DJ e produtor Podeserdesligado. Ainda no universo dos feats, o inquieto Giovani Cidreira, depois de lançar Estreite (2020) com Josyara, apresentou o EP MANO*MAGO (2020), trabalho em conjunto do produtor Mahal Pita (ex-Baianasystem).
A nova cena musical baiana continua a tradição de seus conterrâneos: se mantém original e pulsante na voz de artistas plurais em temas, batidas e narrativas. Separamos 5 indicações para escutar agora:
Majur – “Andarilho”
A estreia da artista como compositora tem a ver com o resgate de uma paixão esquecida: o violão. “Andarilho” conta com produção da cantora, ao lado de Dadi Carvalho e Cézar Mendes, e fala sobre a amizade de Majur com Rodrigo, seu companheiro há mais de uma década. A canção também carrega um importante simbolismo: ‟Tocar violão, pra mim, significa muito. Eu sou uma pessoa trans, musicista, cantora, tocando violão. As oportunidades não chegam até nós de forma igualitária com a maioria das pessoas. A gente só tem a rua pra trabalhar, que é onde nos deparamos com a prostituição. E quando você não tem a rua, você tem a arte, e para isso, você precisa ter talento para que as pessoas te respeitem. Estar com o violão para mim é além do sentimento, é um ato político”, diz em nota. Esse é o segundo single da nova fase da cantora, que lançou “20ver”em novembro do ano passado e participou da música “AmarELO”, de Emicida com Pabllo Vittar.
Giovani Cidreira e Mahal Pita – MANO*MAGO
O universo costurado pela dupla passa pelos ritmos baianos, da mesma forma que investiga sons eletrônicos e batidas do hip hop e do trap. A produção é assinada pela dupla e Benke Ferraz, do Boogarins. Giovani e o músico e produtor goiano já haviam trabalhado juntos no disco MIX$TAKE, lançado em 2019. O novo EP, lançado no início de julho, traz ainda uma releitura da faixa “Mano Sereia”, track presente no álbum do ano passado. Essa é a segunda novidade do cantor e compositor em poucos meses: o artista apresentou o disco Estreite, oito faixas em parceria de Josyara, em abril. “O mais legal de fazer disco com outras pessoas é a surpresa. Quando você faz sozinho, você tem as suas ideias, fica fixo nelas. Quando você faz com outras pessoas, não, você sai do seu lugar porque há uma influência delas, que te mostram caminhos que você nunca pensaria”, disse à NOIZE na época.
Clique aqui para ler o faixa a faixa de Estreite!
Hiran – Galinheiro
O segundo disco do rapper conta com participações de nomes como Tom Veloso, Majur, Illy e Astralplane. Disponível nas plataformas desde 6 de julho, o trabalho fala sobre o “amor no meio do caos”. “É uma resposta à loucura que 2019 foi pra mim, onde realizei sonhos e ao mesmo tempo estive tão mal por dentro no que se diz respeito ao amor, e também à realidade que me vejo inserido, sendo corpo preto e LGBTQI+, numa conjuntura política deprimente”, Hiran explica em nota. Antes de Galinheiro, o rapper havia lançado o single “Lágrima” no ano passado, uma faixa com participação de Gloria Groove, Baco Exu do Blues e Àttooxxá. O primeiro disco, Tem Mana No Rap (2018), apresenta alguns elementos fundamentais para a estética do artista: além da forte influência dos ritmos que pulsam em Salvador, adiciona toques do grimme londrino, funk carioca e o r’n’b americano.
Jadsa – Taxidermia Vol. 1
O EP colaborativo da cantora e compositora com o produtor João Millet Meirelles (Baianasystem) apresenta quatro faixas inéditas, duas delas com participações especiais – da rapper Jéssica Caitano e do produtor Abdala. Essas músicas foram gravadas no ano passado, na mesma época em que a dupla estava em estúdio para trabalhar no primeiro disco de Jadsa, Olho de Vidro, que será lançado nos próximos meses. A artista possui apenas um registro disponível online, o EP Godê (2015), uma parceria com Meirelles e Ronei Jorge. Antes de Taxidermia Vol. 1, a artista soltou uma versão ao vivo da música “POWER”, faixa presente em seu primeiro álbum solo. Por enquanto, o EP está disponível apenas no Bandcamp, mas chega aos streamings até o final do mês.
Ventura Profana – Traquejos Pentecostais para Matar o Senhor
Poucas estreias são tão certeiras quanto o primeiro EP da dupla Ventura Profana e Podeserdesligado (Jhonatta Vicente). O trabalho demorou um ano para ser feito, ganhando atenção extra e finalização nos meses de quarentena. Parceiros criativos há três anos, começaram a se apresentar no evento Baphos Periféricos, época em que começaram a ganhar intimidade e a desenvolver a sonoridade eletrônica que aparece em Traquejos Pentecostais para Matar o Senhor. Sobre a parceria, escreveu em nota: “Conduzidas nas águas profundas espirituais, banhamos-nos em fé com canções que preparem: em tempero, armadura e poder, nossas ~almas~corpos~terra~ para a guerra. Contra o domínio cruel e colonial dos senhores, que por séculos, nos escarnece e mata. Com cantigas proféticas, de vitória e encantaria freamos o plano necropolítico e alvejante de condenação do devorador.” As influências da artista vão da cantora cristã Nívea Soares a Linn da Quebrada, passando pela música pop com Beyoncé e também pelo funk de Deize Tigrona e MC Carol. Nos próximos meses, Ventura deve soltar mais dois clipes e um livro.