Com imagens em escombros, refletidas por espelhos quebrados, se abre a representação do que vem a ser o primeiro álbum solo de Fernando Catatau. Aos 50 anos, o artista tem uma vasta passagem pelo campo da música, que se iniciou em Fortaleza (CE), sua cidade natal. O álbum, que leva seu nome, traz firmemente o sentimento de nostalgia, daquelas que nos remetem aos tempos de “pré-fim do mundo”.
Fundador da banda Cidadão Instigado, que completa 26 anos, e conhecido por seu notório toque de guitarra, Catatau teve seu primeiro contato na música através do samba, já que a família possui um histórico na capital cearense. O interesse seguiu após um tempo, incentivado pela mãe, quando ingressou em estudos de piano, que não tiveram continuidade. Porém, por volta de 1985, com a primeira edição do Rock in Rio no Brasil, o músico simpatizou com o rock e teve o início, um pouco frustrado, com a guitarra.
O cearense só passou a encarar a música enquanto um projeto de vida quando viu as composições do amigo Junior Boca, com quem formou a banda de blues Companhia Blue, que perdurou por quatro anos. Em entrevista à NOIZE, ele explica: “Eu vi as composições dele [Boca] e foi quando eu me animei mesmo, que foi quando eu disse: ‘Cara, eu quero fazer isso”, quero ter uma banda’. E ai voltei a tocar”.
Entre passagens por São Paulo e Rio de Janeiro, Catatau iniciou as composições do que viria a ser a banda Cidadão Instigado, criada no retorno para a capital do Ceará, com quem divide até hoje com Regis Damasceno (guitarra, violão, teclado e voz), Dustan Gallas (teclado e voz), Rian Batista (baixo e voz) e Clayton Martin (bateria).
Com O último show da banda realizado em janeiro de 2020, ele afirma que não sabe se o grupo terá prosseguimento, mas que uma coisa é certa: o Cidadão Instigado não será como antes. “Se a gente continuar, depois deste tempo, o que for surgir pela frente, na Cidadão Instigado, será diferente, entende?”, assume.
Em sua temática, o álbum Fernando Catatau (2022) é permeado por um olhar intimista, indo do horror ao amor e à melancolia. Produzido e arranjado pelo próprio Catatau com Gallas, parceiro antigo do Cidadão Instigado, o disco tem 11 faixas e traz participações de Uirá dos Reis, YMA, Juliana R e Giovani Cidreira. A última dupla colabora na faixa “Nada Acontece”, single divulgado em 14 de janeiro.
Concebido no período de 48 meses, o álbum homônimo nasce no regresso do músico para Fortaleza, após residir por 15 anos na capital paulista. Totalmente influenciado pelo cenário artístico atual, e atento aos movimentos de sua cidade natal, ele afirma: “Fui me adaptando, me recolocando na cidade, me reconectando com minhas raízes, que é a coisa que eu mais queria. Foi importante a troca com a cena local, comecei a me inspirar muito no que a galera esta fazendo atualmente, porque sempre fiquei muito apegado ao passado, e isso me trouxe muito mais perto do que sou de essência, de ser de Fortaleza”.
Em meio a composição, o artista afirma que pegou recortes e que tinha material abundante para a produção: “O meu processo de composição é bem diferente, eu vou pegando muitos recortes, mas tive que pegar pra organizar, porque sempre fui muito bagunçado. Todo dia fui gravando coisas no celular, durante 4 anos, então tive muita ideia, tinha bastante coisa, então parei, sentei e organizei”. Na pandemia, o artista também teve sua estreia solo com o single lançado em parceria com Juçara Marçal, na faixa “Lembranças Que Guardei”, do disco Delta Estácio Blues (2021), segundo álbum em carreira solo de Marçal.
O show de lançamento do disco Fernando Catatau será no Sesc Pompéia, no dia 25 de fevereiro às 21 horas. Os ingressos serão vendidos em site online a partir de terça-feira (22) e em formato presencial, nas bilheterias do Sesc na quarta-feira (23).
Catatau enxerga com ansiedade e esperança o retorno aos palcos “Passei muito tempo esperando, ele já estava gravado e mixado antes da pandemia. Então, estou bem empolgado, foi muito tempo sem tocar, então quero voltar aos palcos, quero voltar a ativa, estou empolgado demais”, finaliza o cearense.