Dona Ivone Lara era uma daquelas pessoas de presença marcante. Justamente por isso, da noite da última segunda-feira (16) em diante, sua morte, aos 96 anos, nos faz sentir uma ausência tão profunda.
Cria da capital carioca, Yvone (batizada com Y mesmo) trilhou uma vida acompanhada pelo Samba e pelo Carnaval. Compôs sua primeira canção aos 12 anos de idade, foi uma das mulheres e negras pioneiras na cena dos compositores de samba e construiu uma carreira brilhante que a eternizou na MPB e na cultura brasileira.
Para celebrarmos a obra da Rainha do Samba, reunimos cinco composições que ajudam a contar a sua trajetória:
1. Tiê, Tiê (1934)
“Quando eu comecei no Samba… nem sei se eu comecei, viu? Quando eu nasci já tava todo mundo sambando e eu também comecei a sambar”, é o que conta a própria Dona Ivone após a performance de “Tiê,Tiê”, que você assiste abaixo. Composta em 1934, quando Ivone tinha apenas 12 anos, esse partido alto ganha um status histórico como sua primeira composição. A inspiração é um retrato específico de sua infância: traz o nome do seu pássaro de estimação e a expressão “Oialá-oxa”, vocabulário herdado da avó moçambicana. A canção tem parceria de Mestre Fuleiro e Hélio dos Santos.
2. Os cinco bailes da história do Rio (1965)
A composição é o símbolo de um de seus feitos mais emblemáticos: ser a primeira mulher (e negra) a fazer parte da Ala de Compositores da escola de samba carioca Império Serrano e uma das primeiras a ser reconhecida em escala nacional. O samba-enredo foi feita ao lado de Silas de Oliveira e Bacalhau.
3. Alvorecer (1974)
“Alvorecer” foi o primeiro grande sucesso de uma parceria duradoura – e igualmente bem-sucedida – entre Dona Ivone e Délcio Carvalho. A canção foi popularizada pela sua primeira intérprete, Clara Nunes, no álbum de mesmo título.
4. Minha Verdade (1974)
Mesmo vivendo e respirando samba desde criança, foi só em 1974 que Dona Ivone lança seu primeiro disco solo Samba Minha Verdade, Samba Minha Raíz . Três anos depois, ela se aposentaria da carreira de enfermeira e assistente social para se dedicar à música. Desse trabalho, destacamos outro clássico feito com Délcio: a faixa “Minha Verdade”.
5. Sonho Meu (1978)
De acordo com biografia Dona Ivone Lara – A Primeira-Dama do Samba (2015), a inspiração para a canção realmente veio durante um sonho. Bastaram quatro versos iniciais e a melodia de Délcio para que a inacabada composição ganhasse a admiração de Maria Bethânia – e um espaço no seu disco Álibi, lançado no mesmo ano. O que na época era sucesso, hoje em dia é consagração. “Sonho Meu” é um dos sambas mais clássicos e populares da música brasileira.