A genealogia oculta dos “Afro-Sambas”, obra-prima de Baden e Vinicius 

19/10/2023

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Por: Ariel Fagundes

Fotos: VM Cultural/ Divulgação

19/10/2023

Fotos gentilmente cedidas pelo acervo da VM Cultural para a edição #70 da Noize

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“Se não me engano, a história começa com um disco que Carlos Coqueijo[+1] apresentou pro Vinicius”, diz Miúcha revirando um baú de memórias em sua mente. Ela cresceu aprendendo a cantar e tocar violão com o poeta, amigo de longa data de seus pais, e lembra que Vinicius de Moraes disse em uma crônica de 1965[+2] que esse presente “foi a pedra de toque” que deu início à série de afro-sambas que compôs com Baden Powell. Diz-se que o tal disco seria Sambas de Roda e Candomblés da Bahia, de Mestre Bimba e Olga de Alaketu. Sem citar o nome do álbum, Vinicius escreveu na contracapa de Os Afro-Sambas (1966) que ouvi-lo era “uma das coisas que mais fascinava” Baden na época em que eles começaram a compor juntos, em 1962.

Não há dúvida de que houve um álbum que inspirou a dupla, mas há também todo um contexto que levou Baden e Vinicius a fazerem a obra-prima de sua parceria. Basta lembrar que o mundo religioso não era novidade para o poeta nos anos 1960. Aos 7 anos, ele foi batizado na maçonaria e a sua infância se deu em uma educação católica. Não por acaso, a primeira fase de sua obra poética, que acaba no poema “Ariana, a mulher” (1936), é frequentemente mística.

E foi unindo seu interesse pela mitologia grega ao desejo de registrar a dura realidade das favelas que ele escreveu a peça​ Orfeu da Conceição[+3]​. Ao fazer a trilha desse espetáculo, Vinicius começou a trabalhar com Antonio Carlos Jobim, com quem, poucos anos depois, criaria os pilares da bossa nova[+4].​ “Chega de Saudade”, parceria de Tom e Vinicius, lançada em 1958, é considerada o grande marco desse movimento. Porém, a precisão cirúrgica do violão da bossa talvez não fosse tão apropriada para representar a atmosfera caótica e mágica que se sente nas periferias brasileiras, algo pelo qual Vinicius sentia-se seduzido. Eis que a figura de Baden Powell surge como um raio na sua vida:

– Na bossa nova, era tudo muito doce, muito suave. O amor, o sorriso e a flor​[+5], essas coisas todas. Era o violão do João Gilberto, uma coisa muito mais harmônica. E o Baden era inteiramente selvagem. Era um violão rasgueado, muito forte, muito masculino – lembra Miúcha, que foi casada com João Gilberto. Jards Macalé, que compôs “O Mais Que Perfeito” com Vinicius, concorda:

– Exigiam um violão com muitos acordes na bossa nova, João [Gilberto] fez aquele violão muito preciso, claro, cristalino, o violão do João é praticamente um tamborim. Ele até me disse uma vez: “Macalé, não existe bossa nova, o que existe é o samba”. E o Baden é puro samba com tudo que existe dentro: surdo, cuíca, tamborim, a coisa toda. O Baden era uma pequena escola de samba.

Vinicius conheceu Powell em 1962 e houve uma química incendiária no encontro. Baden disse em 1990 ao programa Ensaio, da TV Cultura, que já na segunda vez em que conversou com o poeta saíram as primeiras músicas: “Canção de Ninar” e “Sonho de Amor e Paz”. Na época, Vinicius morava com Lúcia Proença no luxuoso condomínio carioca do Parque Guinle e não demorou até chamar seu novo amigo para passar um tempinho com o casal. “Ele foi lá pra passar três dias e, quando viram, se passaram três meses”, explica Silvia Powell, esposa de Baden entre 1975 e 1997 e mãe dos seus filhos, o violonista Louis Marcel Powell e o pianista Phillipe Baden Powell. “Compúnhamos dia e noite, com muito uísque na cuca – mesmo porque quem era que ia pensar em comer?”, escreve Vinicius no já citado texto de 1965.

Segundo Ruy Castro aponta no livro Chega de Saudade – A história e as histórias da bossa nova (1990): “O que eles beberam foi orgulhosamente calculado pelo próprio Vinícius: vinte caixas de uísque Haig’s, trazidas pela mala diplomática, num total de 240 ampolas — ou 2,666 garrafas por dia. Parece muito, mas não seria uma quantidade absurda para dois bebedores sérios como Baden e Vinícius se, no começo, também não rolasse gim, o qual não foi contado”.

“Samba em Prelúdio”, “Só por amor”, “Bom dia, amigo”, “Labareda” e “O Astronauta” foram algumas das primeiras músicas que eles fizeram, todas lançadas no disco Vinicius e Odete Lara (1963). Esse álbum da gravadora Elenco foi o primeiro registro em disco da dupla Powell/De Moraes e lançou também os clássicos “Samba da Benção” e “Berimbau”, tema que “só por ser demais conhecido não consta nesta série, embora a ela pertença”, como explica Vinicius na contracapa de Os Afro-Sambas.

Mas antes desses dois sucessos, já haviam sido escritos “Canto da Pedra Preta” e “Canto de Iemanjá”, que podem ser considerados os primeiros afro-sambas compostos. Vinicius diz naquela mesma crônica que essas músicas foram feitas pouco antes de Baden passar um tempo em Salvador (provavelmente ainda em 1962). Essa foi uma viagem iniciática que mudou a vida e a obra de Baden e, consequentemente, os rumos da música popular brasileira.

– Ele foi à Bahia porque queria saber o que era a capoeira e o que era o berimbau. Aí ele conheceu o Mestre Canjiquinha[+6],​ que vem da escola de Mestre Pastinha​[+7], e o Canjiquinha o levou pra conhecer essas coisas – conta Silvia Powell.

Chamado pelo toque do berimbau, Baden mergulhou no universo dos cultos afro-brasileiros. “Ele gostava muito de ir nas casas de candomblé porque os temas musicais são muito bonitos”, lembra sua ex-esposa. Silvia explica que o contato com o candomblé baiano ecoou fundo em Baden, que se lembrava dos pontos cantados que ouvia quando criança:

– Os pais dele tinham um amigo que se chamava Oscar Silva, que era de candomblé, frequentava muito a casa deles e cantava essas coisas. Era um baiano, e ele lembrava disso.

Ela diz ainda que Baden chegou a consultar um reconhecido babalorixá antes de compor seus primeiros afro-sambas:

– Ele foi num pai de santo muito famoso chamado João da Gomeia[+8],​ que tinha uma casa de candomblé em [Duque de] Caxias (RJ) e incorporava o Caboclo Pedra Preta. Quando Baden quis fazer sua música [“Canto da Pedra Preta”], foi perguntar ao João da Gomeia se podia fazer essa homenagem – revela Silvia.

Na época, aos 25 anos, Baden já era dono de uma técnica erudita sólida, que trouxe dos tempos em que estudou com o Meira​[+9] e, depois, na Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro. Mas o contato que teve na Bahia com a musicalidade dos cultos afro-brasileiros era o tempero que faltava para o violonista criar uma assinatura sonora inconfundível. Para Cynara Faria, uma das irmãs fundadoras do Quarteto Em Cy, isso fez de Baden “um momento único no Brasil”: “Depois dele, ninguém fez algo nem que chegue perto. É uma obra que tem um tema, você ouve as músicas e todas tem a ver uma com a outra. Parece uma suíte, é uma coisa incrível”, comenta.

Inflamado pelas possibilidades criativas que viu ao alcance de suas mãos, o violonista causou grande impacto em Vinicius quando voltou ao Rio. “Voltou a mil, inteiramente tomado pelos cantos e ritos dos orixás, e me explicava horas seguidas os fundamentos da mitologia afro-baiana”, escreveu o poeta naquele texto de 1965. Na contracapa de Os Afro-Sambas, Vinicius diz ainda: “Só sei que me deixei completamente envolver pela sábia magia do candomblé baiano e durante meses vivemos em contato com o seu grave e obscuro mundo”.

Em algum momento por volta de 1962 ou 1963, surgiram “Canto de Ossanha”, “Canto de Xangô”, “Lamento de Exu”, “Bocochê”, além de “Tristeza e Solidão” e “Tempo de Amor”. Essa última, conforme Vinicius escreveu no disco de 1966, é a faixa de Os Afro-Sambas “que menos se relaciona com o ritmo e a temática do candomblé”.

Apesar de prontas, todas essas músicas ficaram guardadas por um bom tempo. No mesmo ano de Vinicius e Odete Lara (1963), a gravadora Elenco lançou também Baden Powell Swings With Jimmy Pratt, que abre com “Deve ser amor” (parceria de Baden e Vinicius) e À Vontade, disco solo de Baden que traz versões de “Berimbau”, “Consolação”, “O Astronauta” e “Conversa de Poeta”, todas com coautoria de Vinicius – até uma versão de “Garota de Ipanema” está nesse disco.

​ Então, ele foi para Paris, onde gravou Le Monde Musical de Baden Powell​ (1964)[+10] e, no ano seguinte, o disco Billy Nencioli et Baden Powell. Entre 1963 e 64, Vinicius também morou lá, dividindo-se entre os papeis de diplomata e de artista popular. Em Paris, compôs com Baden músicas como “Velho Amigo” e “Tempo Feliz”. Nesse momento também foram feitas as fotos que seriam usadas na capa de Os Afro-Sambas. Seu autor foi Pedro de Moraes, o único filho de Vinicius e, hoje, seu filho vivo mais velho.

Desde os 14 anos, Pedro registrava o ambiente artístico ao redor de seu pai: “Aconteceu de uma forma natural, eu amava meu pai e fotografei ele”, explica com simplicidade. “O Vinicius sempre me incentivou a ser fotógrafo. Ele gostava do meu trabalho”, conta. Acompanhando o pai, Pedro fez muitas fotos suas ao lado de personalidades como Pixinguinha, Mário de Andrade, Chico Buarque e Dorival Caymmi. “Eu adorava o ambiente, não esqueço até hoje. Me tratavam feito um moleque! Um adorável moleque”, lembra. Segundo Pedro, a série de imagens usada na capa do disco de 1966 “foi feita no apartamento em Paris onde Lênin se exilou quando teve que fugir”. Aparentemente, Baden e Vinicius ficaram no mesmo imóvel em que o líder soviético morou por um alguns meses em 1908.

Somente em 1964 Vinicius voltou a morar oficialmente no Brasil, com certeza influenciado pelo sucesso crescente de suas músicas. Ainda em 1963, o selo Copacabana lançou o disco Elizete Interpreta Vinícius, de Elizeth Cardoso, que trazia parcerias suas com Baden, como “Consolação”, “Valsa Sem Nome”, “Canção do Amor Ausente” e “Mulher Carioca”. Em 1965, a versão de Elis Regina de “Arrastão”, parceria de Vinicius e Edu Lobo, foi eleita a melhor música do I Festival Nacional de Música Popular Brasileira da TV Excelsior. E, no mesmo ano, saiu Vinicius e Caymmi no Zum Zum, gravado ao vivo com coro do Quarteto Em Cy.

– Esse show ia ser só do [Dorival] Caymmi com o Quarteto Em Cy, mas aí o Vinicius tinha chegado de viagem e falou: “Ah não, eu quero entrar”. Ele exigiu isso ao Aloysio de Oliveira [dono da gravadora Elenco] – conta Cynara Faria.

Ou seja, entre 1962 e 65, tanto Baden quanto Vinicius estiveram bem ocupados e muitas de suas músicas foram lançadas. Porém, ainda não havia surgido a chance de lançar aquela série de sambas ligados aos orixás. Isso só aconteceu quando Roberto Quartin conheceu a dupla. Na ocasião, Quartin e seu sócio, Wadi Gebara,​ lutavam para manter ativa a gravadora Forma, uma iniciativa independente criada em 1964 com a proposta de lançar o que havia de melhor na música brasileira de então.

– O que antecedeu a gravação de Os Afro-Sambas foi o encontro do Roberto com o Vinicius e o Baden. Eles ficaram entusiasmados com a possibilidade de gravar essas músicas de candomblé. Eles tinham esse material todo guardado e, quando mostraram pra gente, ficamos encantados! Pô, isso aí era tudo que nós queríamos – lembra Wadi Gebara.

Ele conta que, desde a primeira reunião com Roberto até a gravação do disco, feita no início de 1966, passaram-se apenas algumas semanas. Cynara Faria, que gravou Os Afro-Sambas junto ao Quarteto Em Cy, concorda que realmente não houve muita preparação para o álbum: “Era tudo muito improvisado, a gente contava com os talentos. O Baden morava perto de mim e a gente ia pra casa dele ensaiar, mas a coisa toda foi feita no estúdio”. Durante os dias 3, 4, 5 e 6 de janeiro, o estúdio carioca Rio Som, que ficava na Rua do Senado, abrigou uma verdadeira festa organizada por Vinicius, Baden e Roberto Quartin.

– Ah, todo mundo bebia. O Vinicius primou pela festa, quis que esse disco fosse como uma sala de estar, com todo mundo cantando, com barulho. O que ele fez? Chamou a gente, o conjunto que tocou, que era a turma que o Baden escolheu, e chamou os amigos dele – conta a cantora do Quarteto Em Cy.

É bom frisar que os amigos convidados não precisavam ser cantores. Participaram do que Vinicius chamou de “coro da amizade” a atriz Betty Faria, Eliana Sabino (filha do escritor Fernando Sabino), Teresa Drummond e Nelita (companheiras de Baden e Vinicius na época), a cantora Dulce Nunes, o Dr. Cesar Augusto Parga Rodrigues (um psiquiatra) e Otto Gonçalves Filho, um amigo conhecido pelo apelido de Gaúcho, que também era músico.

– A gente não levava muito a sério essa turma porque sabíamos que eles estavam ali por uma curtição do Vinicius e do Baden. Não eram cantores, eram amigos que gostavam de cantar e que faziam o papel que o Vinicius queria, essa coisa de festa mesmo – diz Cynara.

Vale lembrar que o tal Gaúcho teve um papel importante por ter sido quem apresentou Baden Powell ao percussionista Alfredo Bessa, que gravou os atabaques de Os Afro-Sambas e, depois, acompanhou o Baden em diversos discos e turnês ao redor do mundo por décadas. Quando foi convidado para o disco da Forma, Bessa trabalhava em uma farmácia ganhando um salário mínimo, como ele conta:

– O Gaúcho me chamou: “Alfredo! O Baden tá procurando um batedor de tambor, acho que você é o cara que sabe fazer esse negócio todo aí”. Marquei com eles no dia seguinte, levei meu atabaque e comecei a tocar. Eles já começaram o “Canto de Xangô” e outras coisas mais. Na semana seguinte, recebi o pagamento [para gravar Os Afro-Sambas] e era cinco vezes mais do que eu ganhava no meu trabalho. Aí larguei tudo: “Eu vou tocar tambor”! E tô nessa vida até hoje.

Alfredo não foi convidado à toa, a questão é que ele já tocava atabaque em cultos de candomblé. “Eles sabiam que eu tinha começado a tocar numa macumba no Vidigal. Aí começou o enredo, preenchi os requisitos que estavam querendo no disco”, explica. “Eu tinha uns tambores muito primitivos, mas deu som! Fluiu”, diz Alfredo com a humildade dos grandes. Hoje, aos 82 anos e morando em Oslo, na Noruega, ele se orgulha em dizer que é “o precursor do berimbau no palco”, instrumento que levou para os shows de Baden Powell.

Além de Alfredo, a ficha técnica de Os Afro-Sambas cita ainda outros seis percussionistas (que tocaram afoxé, agogô, bongô, bateria e pandeiro). Havia também um flautista, um baixista, dois saxofonistas, Baden no violão, Vinicius, o Quarteto Em Cy e o tal “coro da amizade” nos vocais e, regendo tudo, o maestro Guerra Peixe. Imagine a cena: dezenas de pessoas se acotovelando em um estúdio pequeno, que só gravava em mono usando dois canais. Foi assim que o disco foi feito: “Naquela época era isso, dois canais. Ia todo mundo como se fosse ao vivo! Gravava e, se não dava certo, gravava tudo de novo”, conta Cynara. Apesar de tanta gente envolvida, Wadi Gebara lembra que Os Afro-Sambas “foi um disco barato” para a Forma. O design da capa, por exemplo, foi feito de graça por Goebel Weyne, que fez um acordo com Roberto Quartin. “O que custou foi o estúdio e alguns músicos profissionais”, conta Wadi.

Agora, se o disco não custou tanto, também não trouxe lucro na época. Segundo Wadi, o álbum vendeu poucas cópias em 1966 e os autores das músicas não ganharam quase nada:

– O Baden e o Vinicius entraram no risco. Do que vendesse, eles receberiam o percentual deles, que não era alto, era na base de 5% das vendas. O que eles ganharam foi uma insignificância.

Wadi, porém, faz uma ressalva importante: “O fato de não ter vendido não é culpa nossa, e sim do tipo de música que fizemos”. Cynara Faria concorda: “[O disco] não é nada comercial! As músicas são muito difíceis de cantar”. “É um disco muito especial quanto a sua criatividade, sua origem, sua brasilidade. Mas não é comercial”, completa Wadi. Na verdade, o disco já nasceu anticomercial, o próprio Vinicius avisa isso na sua contracapa:

– Quanto Roberto Quartin nos procurou, interessado em gravar esta série, combinamos com o jovem e talentoso produtor que o disco seria feito com um máximo de liberdade criadora e um mínimo de interesse comercial. Não nos interessava fazer um disco “bem feito” do ponto de vista artesanal, mas sim espontâneo, buscando uma transmissão simples do queriam nossos sambas dizer. Gravaríamos, inclusive, faixas mais longas do que gostam os homens de rádio e, consequentemente, a maior parte dos nossos intérpretes.

Cá entre nós, que bom que foi assim, né? Afinal, a cultura brasileira sofreria uma perda irreparável caso alguém quisesse, por exemplo, cortar os seis minutos e meio de “Canto de Xangô”. No entanto, segundo Cynara Faria, isso jamais aconteceria:

Em um disco gravado por Vinicius e Baden ninguém interfere. Ninguém! Baden era um louco, não deixava ninguém mudar uma nota. O Baden tinha uma coisa forte nele, de candomblé, uma coisa negroide. O Vinicius não tinha nada a ver, era um branquelo de Botafogo, mas pegou essa influência e desenvolveu isso lindamente. Por ser um grande poeta, ele soube captar esse momento do Baden. Isso que eu acho a genialidade do Vinicius. Um cara que faz poesia como ele, “Chega de Saudade”, “Eu sei que vou te amar”, depois faz Os Afro-Sambas, poxa. Que coisa incrível. Que manancial, né? Vinicius não existe.

+1: Nascido na Bahia em 1924, Carlos Coqueijo Torreão da Costa foi compositor, maestro,
jurista, jornalista, poeta, letrista, cronista, cantor e até mesmo ministro do Tribunal Superior
do Trabalho (TST). Também foi ele quem apresentou Vinicius de Moraes ao Quarteto Em
Cy, em 1963.
+2: Publicada originalmente no Diário Carioca em 1965, “Meu parceiro Baden Powell” foi
republicada em Vinicius de Moraes – Samba Falado (crônicas musicais), de Miguel Jost,
Sérgio Cohn e Simone Campos (Org.). – Rio de Janeiro: Ed. Beco do Azougue, 2008.
+3: A peça leva às favelas cariocas o mito de Orfeu e Eurídice. Sua estreia foi em 1956 no
Teatro Municipal do Rio de Janeiro com cenários de Oscar Niemeyer. Inspirado na peça,
Marcel Camus dirigiu o filme Orfeu Negro (1959). Vinicius não aprovou seu resultado, mas
esse filme ganhou o Oscar, a Palma de Ouro de Cannes e o Globo de Ouro. Em 1999, saiu
outra versão cinematográfica chamada apenas Orfeu, dirigida por Cacá Diegues e
protagonizada por Toni Garrido.
+4: Considera-se que o primeiro disco da bossa nova seja Canções do Amor Demais
(1958), de Elizeth Cardoso, feito com arranjos e violão de João Gilberto e músicas de Tom
Jobim e Vinicius de Moraes.+5: O Amor, o Sorriso e a Flor é o nome do segundo disco lançado por João Gilberto. O álbum saiu em 1960 pela Odeon.
+6: Washington Bruno da Silva, o Mestre Canjiquinha, foi um importante capoeirista que
morreu em 1994. Ele participou de vários filmes como O Pagador de Promessas (1962),
que foi premiado em Cannes, e Barravento (1962), o primeiro longa de Glauber Rocha.
+7: Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha, é uma das figuras mais
importantes da história da capoeira. Difusor da capoeria angola, fundou a primeira escola de
capoeira legalizada, o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), que ficava no Largo do
Pelourinho, em Salvador. Canjiquinha não foi aluno de Pastinha, mas foi contra mestre da
sua academia.
+8: Baiano, João da Gomeia ficou muito famoso nos anos 1940, quando se mudou para o
Rio de Janeiro. Figura constante na mídia, chegou a ser chamado de “o maior babalorixá do
Brasil”. Dizem que Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Dorival Caymmi e Cauby Peixoto
eram algumas das personalidades que frequentavam seu terreiro.
+9: Jayme Thomás Florence, apelidado Meira, foi professor de Baden Powell desde que ele
tinha sete anos de idade. Através dele, Baden conheceu músicos como Pixinguinha e Jacob
do Bandolim.
+10: Ao longo dos anos, esse álbum foi relançado por muitas gravadoras com outros títulos,
como Love Me With Guitars, El Maravilloso Sonido de Baden Powell, The Guitar Artistry of
Baden Powell, e muitos outros.

*Reportagem publicada originalmente na revista Noize #70

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19/10/2023

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Ariel Fagundes