Foto: Rui Mendes
Após uma pausa de mais de dez anos, o grupo RZO (Rapaziada da Zona Oeste), uma das principais referências no rap nacional, está de volta. Sandrão, Helião e DJ Cia, membros da formação original, junto a Negra Li, lançada por eles na década de 1990, decidiram se unir novamente após um hiato em que cada um tocava seus próprios projetos. Embora o grupo tenha se apresentado ainda no ano passado na Virada Cultural, em São Paulo, o retorno oficial do quarteto será em 2015, começando pelo show em Porto Alegre, amanhã, no Bar Opinião.
“A gente sabe da força que tinha o RZO. Eu sentia muito na pele isso porque continuei tocando pelo país e as pessoas pediam pra tocar RZO nas festas. Tocava meia hora de RZO e o público ficava louco. Hoje a gente conseguiu se reunir, estamos ensaiando, preparando a volta com mais força pra ter uma sintonia de grupo, agir como grupo. Estamos felizes pra caramba”, conta DJ Cia.
Agora, o foco do RZO é o retorno aos palcos e a reformulação das músicas antigas, mas os caras já adiantam que estão trabalhando também em cima de sons novos para o próximo álbum. “Por enquanto, estamos fazendo tudo de forma independente. Se você fala que tá numa gravadora o povo espera uma parada grande. Já quando você faz sozinho, não tem tanta cobrança. Hoje você consegue movimentar isso sozinho, se contar com gente boa, que é o que tá acontecendo agora”, explica Cia. “O nosso segundo disco [RZO (1997)] fizemos inteiro na minha laje. Esse lance do faça-você-mesmo também valoriza a música”, completa Helião.
O grupo não irá se afastar da essência que o consagrou, com forte uso de samplers e batidas sobre o vinil, mas vai trazer tendências atuais às composições. “O lance atual é mais de synths, mais bumbos 808, mais peso e pouco sampler. Nas músicas do RZO a gente sampleava muita coisa, então uma textura diferente no som dá uma diferença muito grande. Você mistura o sampler com o synth, algumas batidas novas, e dá pra tirar um som legal”, explica o DJ.
O RZO surgiu no final da década de 1980, em Pirituba, bairro da zona oeste de São Paulo. Os ensaios aconteciam na casa do Helião e reuniam várias pessoas, muitas das quais se lançaram no rap também – Sabotage, morto em 2003, foi uma delas. “O Sabotage tinha um estilo de som, um estilo bem Zona Sul. E a gente, trabalhando junto, desenvolveu uma identidade pra ele. A gente sempre procurava explorar o estilo da pessoa, e o Sabotage já tinha um estilo legal, umas letras boas. A gente só fez mesmo organizar, construir os refrões, ajudar ele nas dobras no show, dar aquele apoio”, lembra Helião.
A exemplo do Wu-Tang Clan, coletivo nova-iorquino, muito da importância do RZO veio desse espírito de coletividade para fortalecer o rap brasileiro. A maior dificuldade era a falta de meios para tocar na periferia, como explica Helião: “A gente deu oportunidade pra muitas pessoas no RZO, porque a gente tinha o espaço e estava ali todo dia, ensaiando, nós tínhamos equipamento… A gente tinha som, toca-disco, microfone, tudo mais estruturado. E aí o pessoal nos procurava, era só chegar lá em casa”. Função RHK, DBS e Calado, que assume as partes de Sabotage, são outros nomes que surgiram no RZO e colaboram atualmente com o grupo.
De lá pra cá, mais coisas mudaram além do estigma, do estilo das mixagens e do próprio discurso do rap, então mais focado na denúncia. O retorno do RZO, após diversas parcerias e projetos paralelos, também deu outra perspectiva para os caras: “O público ficou mais exigente. Hoje as pessoas têm acesso, conhecem referências de som bom, de rima. A gente se preocupa com a volta porque tem essa cobrança. Você tem que pensar que hoje o rap também é um produto”, conclui Cia.
RZO
Quando? 12 de março
Que horas? A partir das 21h30 (show de abertura: Afrocalipse)
Onde? Bar Opinião – Porto Alegre/RS
Quanto? A partir de R$40 (compre aqui)