Começarei, hoje, abreviando maiores apresentações do poeta do mês. Arnaldo Antunes é um grande compositor, figura ímpar na música brasileira, com discos solo, Titãs, música em Mali, Tribalistas e diversas participações nos mais variados projetos musicais, seja com sua voz, ou senão ”apenas” com suas letras e composições. Falemos, então, do poeta Arnaldo Antunes:
nada
com um vidro na frente
já é alguma coisa
nada
com um vento batendo
já é alguma coisa
nada
com o tempo passando
já é alguma coisa
mas
não é nada
do livro Agora aqui ninguém precisa de si (2015)
Arnaldo Antunes tem mais de 20 livros publicados. Obra poética vasta, que transcende a folha de papel. Qual a produção de Arnaldo não possui poesia? Sua poesia se expressa pela música e artes plásticas com a mesma destreza da poesia ”apenas” escrita na página. O limite que divide o Arnaldo poeta/escritor de suas outras facetas artísticas é tão tênue, que se tornaria uma tarefa muito árdua desmembrá-lo em seus tipos artísticos взять займ. Arnaldo é poeta acima de tudo, pois trabalha com a língua e com a palavra, portanto, é a sua forma de expressar-se poeticamente que varia.
do livro ”OU E” (1983)
Em 2015 rodou pelo país a sua exposição Palavra em Movimento, que reúne a trajetória de 30 anos do artista, contendo caligrafias, colagens, fotos, música, vídeo e objetos poéticos.
Herdeiro da visualidade e concretude de poetas como Agusto de Campos, a poesia de Arnaldo ressalta na palavra o seu estatuto de objeto plástico. O formato visual é tão importante quanto o conteúdo.
Além das canções autorais, o repertório de Arnaldo costuma, também, conter poemas musicados de outros autores. E há, ainda, poemas seus que se não vivem no limite das artes plásticas, vivem no limite com a música (o que era música virando poema, ou vice-versa), como este:
o seu
olhar melhora
o meu
do livro 2 ou + corpos no mesmo espaço (1997)
Este poema possui sua versão musical no disco Ninguém (1995) e também no Acústico MTV (2012):
Feita uma breve introdução da obra poética de Arnaldo Antunes, espero que a coluna do mês desperte curiosidade de aprofundar mais nesse outro lado da produção do artista.
A semente ensina
a não caber em si
do livro Palavra Desordem (2002)
Lucas Krüger é psicólogo, psicanalista e poeta, autor do livro O sonho da vírgula (2015): http://www.lucaskruger.com | arteseecos@lucaskruger.com