Cumprindo o rito de passagem obrigatório para qualquer banda que se torna maior do que o seu underground, o Pública fizeram as malas e se mudaram para São Paulo em meados de 2009. Quase quatro anos depois, parte da banda está de volta à sua cidade natal, Porto Alegre, para a gravação daquele que será seu quarto trabalho de estúdio.
Com três Prêmios Açorianos e um VMB no currículo, todos eles conquistados em 2009, o Pública lançou em 2011 o álbum “Canções de Guerra”, que refletia muitíssimo bem o momento que a banda vivia na época, após toda a euforia de uma nova vida na capital paulista. O trabalho, que revelava um quinteto mais maduro e consciente da sua arte, foi fundamental para que se estreitasse ainda mais o elo entre a banda e o seu público. Tudo o que sucedeu foi incrível. Mas era preciso mexer em alguma coisa.
A estrutura musical do Pública, extremamente particular e distinta daquilo que o rock brasileiro criou nos últimos anos, é uma das poucas características que se repete no próximo álbum, que já tem título definido. “Despedida” está em fase de gravação e revela, como o próprio nome indica, uma banda ainda mais introspectiva e confessional.
Só não significa que o fim está próximo. “Na verdade, a temática do disco retrata um período que foi de mudanças para todos nós”, adianta o vocalista e guitarrista Pedro Metz, com exclusividade à Noize. “É bem diferente de tudo o que a gente estava fazendo, daquele retrato da luta da banda em São Paulo. O álbum é muito mais pessoal, pois fala da vida de todos nós.”
E não é por acaso que as músicas de “Despedida” refletem tanto sobre a vida dos integrantes do Pública. “Parece que o ano passado foi muito bom ou muito ruim para as pessoas. Muitos dos meus amigos se separaram, eu também me separei, a gente morava junto e agora não mora mais, eu voltei para Porto Alegre. Muita coisa aconteceu. Foi um período difícil, para refletir”, reflete. “De certa maneira, todas essas reflexões levaram a gente a tratar a banda de um jeito diferente. E, no final, eu acho que vai dar tudo certo.”
E se “Canções de Guerra” era nitidamente um passo à frente, o novo álbum é o que mais aproxima o Pública das suas raízes, sem o peso nas costas de um grupo que busca o seu espaço em um novo mercado.
O prazer de tocar é o que mais parece reverberar nas paredes do estúdio escolhido para gravar “Despedida”, o qual visitamos, para saber o que vem por aí. “A gente está terminando a parte das guitarras que o Guilherme tinha composto. Ele é o baixista da banda, mas está gravando várias guitarras também”, conta Metz. “Estamos superadiantados em relação ao que tínhamos pensado. Está tudo indo muito bem, mesmo que a gente ainda não tenha uma estimativa de até quando vai isso. A verdade é que não temos nenhuma pressa”, salienta o vocalista.
Se, instrumentalmente, o Pública não deve apresentar nenhuma surpresa, repetindo a mesma fórmula dos pianos, do violino e do cello incorporado ao rock’n’roll, “Despedida” é também uma ruptura com a antiga maneira de trabalhar. Pedro e Guilherme Almeida assinam, pela primeira vez, a produção de um disco da banda. “Trouxemos muita coisa pronta e encaminhada para o estúdio. É por isso que o processo está todo mundo rápido”, conta o baixista.
Pela primeira vez, o Pública pode gravar e voltar para casa depois de cada sessão. Mas a liberdade de trabalhar do seu próprio jeito não quer dizer que ambos não sigam um cronograma. “A gente é muito rígido com o nosso trabalho. Entramos aqui de manhã e só saímos à noite, para comer alguma coisa e dormir. No outro dia, já estamos aqui de novo, fazendo música”, complementa Metz.
Parece que a vida do Pública está mais leve. E, assim, a banda vai continuar trabalhando no estúdio. A despedida é, na verdade, um novo início.
(Fotos: Rafaela Bublitz)