Passo Torto canta o som ao nosso redor, um certo desassossego urbano que busca brechas por onde transitar. Música de imagens que o quarteto formado por Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Rodrigo Campos e Romulo Fróes apresentou no dia 27 de julho no Átrio do Santander Cultural, em Porto Alegre. Com dois discos lançados, Passo Torto (2011) e Passo Elétrico (2013), a banda combina sonoridades brasileiras com ruídos e distorções, soando por vezes como um Sonic Youth que descobriu o samba – guitarras, violão, baixo acústico e cavaquinho sendo acompanhados por efeitos de pedais.
As músicas falam de uma cidade-personagem com traços sombrios e incontroláveis, como em “O Buraco”: “Eh! Eh!/ Avistei/ A cidade te engolir/ Eh! Eh!/ Devorar/ O que você tem”. Em “A Cidade Cai”, seus percursos revelam sumidouros de paisagens e memórias, visitados por um José que corre à procura do que viveu em uma avenida que já não existe. Em meio às ruínas de “Cidadão”, um ser errante busca uma fantasia entorpecida qualquer: “Cidadão, esquizofrênico, parado em frente ao boteco/ De galocha, na avenida principal, pedindo um teco/ Ouvindo um samba na cachola, ouvindo um rap/ Vendo Bruce Lee voar”.
Solidão, breves fagulhas de esperança, desencanto e cansaço tecem o tramado emocional das crônicas de Passo Torto – um ótimo nome para uma cidade, por que não? Lugar de arquitetura desconjuntada e crescimento desregrado, que exige de seus desajustados habitantes um caminhar oblíquo, dissonante, sobrevivente.
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