Por Paloma Sá
Sempre quis saber “o que há por trás” nas canções que ouvi. Desde a composição de letra e música, parcerias, histórias, músicos, produção. Canção Contada conta sobre as canções que muito ouvimos e pouco conhecemos.
A musicagem de Thiago Pethit reconhece o desconhecido, pontua o passo, pretende despretensiosa, dramatiza a vibração, permeia norteada, afere emoção, deita e levanta, converte pensamento, enfatiza entrega, sedimenta conquista, constrói verdade, afina alma e nos leva para… O sentido o qual quisermos.
Paloma Sá: Sei que “Nightwalker tem história “empírica”. Conte-me.
Thiago Pethit: “Nightwalker” surgiu num amanhecer pós-noitada de festa. A típica noite em que nos prometemos ficar em casa, dormir cedo e descansar, mas por pura falta de vocação, decidimos fazer o contrário. E aquela saidinha que tinha tudo para ser apenas uma “meia horinha” longe de casa, apenas “um drink”, acaba virando o dia com os passos tortos na calçada. A inspiração foi basicamente essa.
O que imaginou para começar a compor?
A primeira imagem que tive ao começar a letra foram desses “sapatos”, que levam o dono a passear, quase que involuntariamente, e se tornam os responsáveis pelo que vem a seguir, na música.
“Dancing, dancing, dreaming of a neon light” é o ápice de um verdadeiro “nightwalker”.
Em “White Hat”, havia um pequeno trecho que foi editado, que dizia algo sobre “neon lights”, e eu sempre quis usar o termo “neon lights” em uma canção, mas em “Nightwalker” fez mais sentido.
E pensar que “Nightwalker” não estaria no disco… Decupe essa situação musical.
A canção foi composta por mim e meu parceiro compositor, Rafael Barion, com quem já tinha feito as letras de “Essa Canção Francesa” e “Voix de Ville”. Foi a última música a ser gravada. Já era fim de dezembro, e o álbum já estava completo, com 10 faixas. Duas semanas antes do Natal, liguei para o Yuri Kalil (produtor do disco Berlim, Texas), e disse: “Kalil, tenho uma nova. É a música que faltava no disco, animada e alegre”. Ele certamente deve ter considerado a possibilidade de me matar. Era Natal, e eu não terminava esse disco que já tinha tomado três meses de produção.
Como produzir tudo no último segundo da “virada” do disco?
Deixamos a ideia decantar até janeiro, quando voltamos todos ao estúdio, em uma tarde, criamos os arranjos e gravamos tudo. Eu, as vozes e o piano, Kalil, a bateria e as levadas no violão, gravamos as palminhas, que na minha opinião, são o charme da música. É uma das minhas preferidas. Eu amo quando surge uma canção bem na reta final e sinto que ela pode ser a faixa que faltava para completar um pedacinho da história.
Assista ao vídeo de “Nightwalker”:
Nightwalker
Thiago Pethit e Rafael Barion
My shoes They took me for a walk I guess We walked a hundred blocks When it was time to go back We were getting off the tracks They said ‘Just one more cigarette’ A drink or two would not be bad My shoes They took me to a bar Quite soon I said ‘We’re in a trap, we are’ One shot made me feel brand new Two and all I thought was you
Dancing, dancing Dreaming of a neon light Dancing, just dancing I’ve got you deep inside of my mind
How sad Is a dancer on his own? Too bad The steps they all seem wrong One shot just made me feel blue Two, I’m getting through with you One day I hope I might be right One night Like any other night Your shoes will take you for a walk And they will lead to my door
Abaixo, um texto exclusivo para NOIZE, assinado por Vera Egito, diretora do clipe de “Nightwalker”.
Eles saíram hoje de manhã daqui de casa. Mais uma madrugada adentro com a Renata Chebel e o Thiago Pethit. Fico pensando que são poucas as pessoas com quem a gente se senta às nove da noite e conversa até o dia amanhecer.
Fazia alguns anos que conhecia o Thiago. Assisti a umas tantas peças de teatro com ele no palco. Mas havíamos perdido contato. Ano passado vi um clipe lindo, uma animação do Adams Carvalho com o Thiago Pethit e a Tiê. Demorei ainda algumas semanas pra descobrir que era o mesmo Thiago do teatro, agora cantautor e com o sobrenome novo. Escrevi pra ele, apaixonada que estava pela sua música.
A Renata ele conheceu ano passado também, por conta de um dos vídeos lindos que ela faz. Nós três nos encontramos mais ou menos em outubro e não nos desgrudamos mais.
Acho que quando gosto muito de alguém, o que mais quero daquela pessoa é criar algo com ela. Parece que é o primeiro impulso. E assim foi. A gente olhou um para cara do outro e pensou: O que vamos fazer juntos?
Engraçado isso. Porque a gente poderia simplesmente gostar um do outro e pronto. E aproveitar a presença, o carinho. Mas acho que tanto pra Renata, quanto pro Thiago, quanto pra mim, a maior prova de amor que existe é entrar em uma aventura com as pessoas amadas. E depois rir, comemorar ou lamentar o feito. Em qualquer uma das opções seria, ainda assim, uma celebração do encontro.
Nightwalker foi exatamente isso: uma celebração desse encontro que rolou no final do ano passado e que parece que foi para a vida.
Muito do clipe foi criado em uma madrugada parecida com a de hoje. Onde a gente começa cozinhando o jantar e preparando uma bebida. Onde a conversa começa divertida e se aprofunda para os medos, as coisas que doem. Depois volta para o que a gente ama. Vimos no Youtube Elis sendo desafiada em pleno canto, em pleno palco, por Hermeto no Festival de Montreux de 79. Inspirador. Como na vez em que assistimos à cena de Eu te Amo, a dancinha de Band À Part. Como em uma outra madrugada adentro ouvindo Verocai, contando histórias de confusões passadas. Suspiramos. Mas aí a conversa volta pra risada. E de novo pro que é importante. Hoje falamos muito de nossos pais. Nós três que já conhecemos uns os pais do outro. Pra mim, sinal de amizade do coração.
Os verdadeiros amigos conhecem nossas famílias. Porque assim conhecem quem somos. E deixam nossas casas de manhã com ideias para um novo disco, um novo vídeo, um novo filme. Que continue.
Assista ao making of do clipe de “Nightwalker”.