Céu, Lenine, Criolo e Maria Rita participam de tributo a Moraes Moreira

28/02/2024

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos: Divulgação/ Pablo Savalla

28/02/2024

Enquanto estavam em turnê com Marisa Monte, os músicos Davi Moraes e Pupillo, ao lado do produtor musical Marcelo Soares, elaboraram a ideia do disco coletivo “Moraes é frevo”, onde convocaram 10 artistas para regravar canções de Moraes Moreira. Lançado em 15 de janeiro, o álbum possui versões na voz de Agnes Nunes, Céu, Criolo, Maria Rita, Moreno Veloso, Lenine, Luiz Caldas, Otto e Uana. 

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Para somar nos arranjos, convocaram nomes de diferentes gerações do frevo pernambucano: Duda, Nilsinho Amarante, Spok e Henrique Albino. O repertório foi elaborado entre os organizadores com os cantores convidados. Há versões em frevo de canções clássicas dos Novos Baianos, como “Preta Pretinha”. 

Fotos: Divulgação/ Flora Pimentel, Fábio Audi, Rui Mendes, Helder Fruteira, U H G O, Daryan Dornelles, Caroline Bittencourt e André Fofano

A relação entre Moraes Moreira com o carnaval vem de outros tempos. O músico foi a primeira pessoa a cantar em cima de um trio elétrico, pois era próximo de Dodô e Osmar, a dupla que inventou o formato. Inspirado pelo frevo e pelo carnaval de Pernambuco, o duo introduziu o trio elétrico no carnaval de Salvador. 

Convidamos Davi Moraes para dissecar as faixas de “Moraes é frevo”: 

1. “Pernambuco Meu”: 

Uma parceria do meu pai com Paulo Leminski, uma colaboração muito frequente, muito forte na carreira dos dois, e uma música linda que homenageia Recife. Ela vai se fazendo, se costurando à letra com as próprias sílabas da palavra Recife. E de cara, quando a gente decidiu fazer o disco com essa escola de sopros pernambucana, e com a escola de frevo pernambucana, me lembrei dessa música. A gente tinha que trazê-la de volta. Quando pensamos no repertório, ao mesmo tempo que ia pensando nos convidados, pensamos: “essa é do Lenine”! E quando a gente se falou, ele já entendeu tudo: “rapaz, a música é linda, tô dentro de cara”, ficou muito emocionado!

Ele falou pra mim uma coisa muito bonita, que considera meu pai um dos maiores hitmakers do Brasil, é alguém que ele segue, que ele mira. Ele colocou meu pai, Roberto Carlos, Lulu Santos, como sendo os grandes hitmakers que ele sempre se espelhava para chegar. “Não sei se consigo chegar, mas eu miro lá”. Ele cantou com uma força, com a cultura que a gente imaginava, aquele Pernambuco que tem dentro deles, que foi com toda emoção, tanto que a faixa abre o disco. E com o arranjo de Albino, que é da nova geração dos maestros de lá, essa faixa ficou uma coisa linda. 

2. “Festa do Interior”:

Logo depois, “Festa do Interior”, parceria de meu pai com Abel Silva, uma música que é um dos maiores sucessos no Brasil e que continua sendo até hoje, uma música que mistura São João com Carnaval. É uma gravação tão marcante com a Gal e com o Lincoln Olivetti, que também fez o arranjo de “Pernambuco Meu” na gravação original, e também era uma grande frevista, mas ganhou esse novo arranjo. Quando fomos dividir o disco, a gente pensou na Maria Rita também de cara – inclusive, Maria já tinha feito shows com Maestro Spock – e quando liguei, ela fez um a capella lindo pra gente. Ela gravou e mostrei pro Pupillo na hora. Estávamos na estrada, e a gente ficou emocionado com ela cantando a capella, e dali já tiramos o tom, já fizemos e ficou clássico e moderno ao mesmo tempo, com a Maria e aquele vibrato dela, aquela perfeição de execução que ela tem. Para nós, essa nova interpretação eternizou a música de novo.

3. “Preta Pretinha”: 

Para “Preta Pretinha”, Pupillo teve uma ideia genial, ele achou lá atrás a gravação em frevo que o Novos Baianos fez instrumental, muito com o objetivo de fazer um bloco de carnaval naquela época. A gente se baseou nesse arranjo de frevo, com a guitarra do Pepeu, misturando a guitarra com os sopros. O Criolo fez uma interpretação, que eu não me canso de falar, parece um cara do Novos Baianos. Ele tem um jeito de cantar, uma alegria natural, um jeito peculiar, uma voz que parece muito com aquela coisa do meu pai, do Paulinho Boca, nos Novos Baianos, então ficou maravilhoso o resultado de conseguir trazer essas músicas para o frevo, canções que originalmente não foram compostas como frevo, mas que caíram como uma luva. 

4. “Coisa Acesa”: 

“Coisa Acesa” é a presença do sangue novo, dessa nova geração que curte a obra do meu pai. Agnes Nunes escolheu essa música de cara. É uma parceria linda do meu pai com o Fausto Nilo – e que também foi grande sucesso no Brasil todo. Foi muito bonito para nós, minha irmã falou a mesma coisa, e comentei muito isso com o Pupillo, de ver essa música tão bem cantada por Agnes, com aquele sotaque maravilhoso… Isso foi incrível, uma cantora da nova geração cantando lindamente essa música tão importante na história do meu pai.

5. “Pombo Correio”:

Essa música foi a primeira letra que meu pai botou nos frevos instrumentais de Osmar. Osmar Macedo, inventor do trio elétrico, pai de Armandinho, ficou morando seis meses lá em casa, tocando todo dia. E meu pai começou a conhecer essas melodias lindas do Osmar e teve essa ousadia de começar a botar a letra. Osmar gostou e foi o primeiro grande sucesso nacional da carreira solo do meu pai. Ele mesmo dizia “eu comecei meu voo pelas asas de um Pombo Correio”. É uma música com um romantismo, aquela coisa do frevo romântico, a letra é uma coisa linda. E junto com a melodia, o arranjo que vem desde o violão, a introdução, e que é impossível tirar da música, que faz parte já da composição. Nosso grande amigo Otto, que meu pai adorava e também é nosso irmão querido, cantou com muita emoção, e se emocionou contando histórias e passagens dele com meu pai. Ele também escolheu essa música logo de cara. Dá para perceber a emoção em sua voz. 

6. “Sintonia”: 

Soube por Pupillo que a Céu adora essa música, e a gente teve a ideia de trazer ela para o frevo marcha lenta, que é uma coisa linda. O frevo marcha lenta bate muito forte na emoção. Trouxemos o Bloco da Saudade, que entra no final cantando junto com ela. Ela fez uma interpretação maravilhosa, muito elegante, como tudo que ela faz, com aquela deslocada meio para trás, ainda oitavando as vozes, ficou muito lindo. A gente, inclusive, vai tocar dessa forma agora no Carnaval. É outra música que originalmente não era um frevo, mas que ficou lindíssima como frevo. A interpretação da Céu é incrível.

7. “Todo Mundo Quer”: 

Conversando com a minha irmã, ela sugeriu “Todo Mundo Quer”. É um frevo de verdade, com a energia de carnaval, contagiante, tem um romantismo, tem uma coisa de liberdade. No carnaval todo mundo quer ser o que é. No carnaval, não importa o que é, se é homem ou mulher. Uma letra, uma música muito atual, muito bonita. Nós trouxemos meu grande parceiro, meu grande irmão, primo, Moreno Veloso. Nós que temos esse parentesco por parte de mãe, somos primos, e por parte de pai, acaba tendo também essa irmandade de parceria. Moreno foi meu grande parceiro no carnaval no ano passado e este ano não podia ficar de fora. 

8. “Eu Sou Carnaval”: 

Quando a gente chamou a Uana e falamos sobre repertório, ela disse “eu quero cantar Sou Carnaval”. A música nem estava no disco, mas concordamos. É uma música marcante por ser representativa daquela coisa que meu pai fez de traduzir o afoxé no violão, misturar a música dos blocos afros com o trio elétrico, com composições que foram feitas dessa forma, juntando a levada do Ijexá com o frevo. A letra é essa parceria com o Antonio Risério que foi eternizada. Foi mais uma música que a gente ficou emocionado em ver, cantada com o sotaque pernambucano maravilhoso de Uana e com a interpretação linda dela, porque tem muito a ver, a gente canta na Bahia: “eu sou carnaval em cada esquina”, mas quando a gente canta isso em Recife também é de arrepiar.

9. “Vassourinha elétrica”: 

“Vassourinha Elétrica” é justamente a história de como é que o frevo chegou na Bahia. Porque o próprio trio elétrico é inspirado numa banda de frevo de sopros pernambucanos, que foi tocar lá e o povo saiu andando atrás da banda. Dudu e Osmar tiveram aquela ideia “nós temos que fazer um carro que a galera possa ir atrás e a gente tocando” e tudo começou ali. Essa música explica certinho essa história. E aí a gente trazia a guitarra baiana para o disco e um outro amigo, parceiro, um irmão nosso, meu e do meu pai, Luiz Caldas, um dos maiores músicos do Brasil, compositor, cantor, um cara completo, um cara genial, que também fez essa união da guitarra baiana com os sopros. E ele que falou para mim “me considero um filho artístico do seu pai” então é muito emocionante. Todos de uma geração mais nova tem uma influência clara do meu pai. Foi uma alegria enorme ele fazer essa música, porque ninguém melhor do que ele para contar essa história também, influenciada lá pelo Vassourinha, tradicional de Pernambuco, o Vassourinha Elétrica contando a chegada da guitarra baiana, o sotaque baiano no frevo, e toda essa mistura que se deu enriquecendo mais ainda a história do frevo no Brasil.

10. “Guitarra Baiana”: 

Pra finalizar, mais uma ideia genial do Pupillo, que foi trazer a música “Guitarra Baiana”, justamente quando este instrumento começou a ser chamado como guitarra baiana, que seria o bandolim eletrificado, com distorção, o que fez começar aquela escola de tocar o frevo com a guitarra baiana, que era uma voz também em cima do trio. Inclusive, foi a guitarra baiana que começou toda essa história antes mesmo de ter cantor no trio, antes do meu pai se tornar o primeiro cantor de trio. Ele fez essa música inspirada nos duelos que fazia com Armandinho nos shows, imitando a guitarra. A gente pegou aquele a capella dele, Pupillo botou um surdo maravilhoso, colocamos a guitarra junto com a voz e foi um encontro nosso, nós três ali no disco, muito emocionante para fechar essa história toda e trazer também a voz do meu pai para o disco desta forma. Um fechamento com chave de ouro que bateu muito forte, trazendo essa história da guitarra baiana para perto de tudo também. A guitarra sempre presente, a guitarra elétrica de modo geral, sempre muito presente na trajetória do meu pai.

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