“Acho bom se conformar porque essa cena é das minas”. É com esse verso que a rapper carioca Anna Ferreira, mais conhecida como N.I.N.A dá o papo e ilustra a presença feminina crescente no cenário do rap brasileiro, na música intitulada “Poetisas no Topo 3”. Além dela, a faixa conta com Ajuliacosta, Mac Julia, Budah, Maru2D, Sodomita e Mc Luanna.
Entre idas e vindas de uma cena majoritariamente composta pelo gênero masculino, as mulheres chegaram para roubá-la de vez. Diferentemente do que é cantado por homens, elas impõem limites e desafiam regras.
Contudo, antes de destacarmos os grandes nomes que fazem sucesso Brasil afora nos dias atuais, vale relembrarmos quem veio primeiro — sem demérito aos fortes nomes que pavimentaram e seguem construindo e fortalecendo a cena brasileira.
Rap/trap à brasileira
No início dos anos 1990, as mulheres desempenharam papeis cruciais na construção do rap nacional. A primeira geração de mulheres no rap brasileiro, a exemplo da MC Sabrina, abriu as portas para a participação feminina em um gênero predominantemente masculino.
Já na década de 2000, as rappers Negra Li, Dina Di, e Flora Matos se destacaram como figuras fundamentais na cena do rap nacional, cada uma trazendo sua própria voz e estilo ao gênero.
A paulista Negra Li se destacou por seu talento lírico e sua capacidade de abordar temas sociais e políticos em suas músicas. Seu álbum LI (2006) é um marco na história do rap feminino no Brasil.
A campinense Dina Di é conhecida por seu estilo agressivo e letras que exploram questões de empoderamento e resistência. Sua contribuição ajudou a estabelecer um espaço mais visível para as mulheres no rap, desafiando normas e expectativas.
Com um estilo único que mistura rap com elementos de música brasileira, a brasiliense Flora Matos ganhou notoriedade por suas letras introspectivas e sua abordagem inovadora. Seu álbum Semente (2012) consolidou sua posição como uma artista influente no rap feminino.
Geração atual
Atualmente, o cenário do rap feminino brasileiro continua se expandindo com uma nova geração de artistas que estão, graças às suas bases de fãs e streaming, ganhando destaque e mostrando “ao que vieram”.
“Sou atração que eles pagam menos, mas quem é que dá sold-out na festa?”, questiona Duquesa na música “Set AJC 2”. Na faixa, ela expõe e reflete sobre o “valor” da participação feminina no cenário cujo valor agregado é, historicamente, dado aos homens.
Contudo, a mudança já chegou. Prova disso é a recente lotação da casa de show Audio, em São Paulo, que reuniu cerca de três mil espectadores para apreciar o show de estreia do álbum Taurus Vol 2 (2024) da rapper baiana. Expondo, assim, a importância de, cada vez mais, se valorizar tanto financeiramente quanto intelectualmente o trabalho das minas. Abaixo, listamos alguns nomes que valem a pena serem acompanhados de perto. Confira:
B.I.O.N.E
Julia Bione, mais conhecida como B.I.O.N.E, é uma rapper pernambucana emergente, conhecida por suas letras incisivas e sua habilidade em explorar temas sociais e pessoais com autenticidade. Com uma trajetória marcada por influências da cultura local, a rapper se destaca pela originalidade e pelo impacto de suas mensagens. Sua música combina elementos do rap tradicional com sonoridades contemporâneas, refletindo uma voz jovem e disruptiva no cenário musical brasileiro.
Bell Puã
Nascida no Recife, ela é conhecida por sua abordagem autêntica e crítica sobre temas sociais e culturais. Bell Puã mistura influências do rap tradicional com elementos modernos, criando uma sonoridade que ressoa com uma nova geração. Sua presença marcante nas redes sociais e suas performances energéticas consolidam seu lugar como uma voz inovadora no rap brasileiro.
AJuliaCosta
Nascida em Mogi das Cruzes, na grande São Paulo, Julia Costa – conhecida como “Ajuliacosta” ou “Aju”-– combina influências do rap com temas introspectivos e sociais, refletindo sua visão pessoal. Sua música é marcada por uma sonoridade contemporânea e uma forte presença nas redes sociais, estabelecendo-a como uma promessa no cenário do rap brasileiro.
Duquesa
Nascida e criada em Feira de Santana, interior da Bahia, Jeysa Ribeiro, mais conhecida como Duquesa, aborda temas como empoderamento, desigualdade e identidade nos seus versos. Sua presença marcante no cenário musical é reforçada por performances enérgicas e um engajamento profundo com questões sociais.
MC Luanna
Aos 28 anos, a baiana Luana Santos Oliveira, mais conhecida como MC Luanna, transforma suas vivências em música, fazendo dela sua verdadeira vocação. Ao participar da faixa “Poetisas no Topo 3”, a baiana expõe as idiossincrasias da sociedade, trazendo luz às questões de gênero, luta e desigualdade social.
N.I.N.A
Cria da Cidade Alta, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Nina do Porte, mais conhecida como N.I.N.A é uma rapper brasileira que se destaca por suas letras intensas e seu estilo ousado. Com uma abordagem crítica e reflexiva, ela explora temas como resistência e identidade, oferecendo uma perspectiva única no cenário do rap.
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