Dinho Almeida (Boogarins) mergulha em “Águas Turvas”, sua estreia solo

01/09/2023

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Valéria Pacheco/Divulgação

01/09/2023

Durante as segundas-feiras de setembro, o Centro da Terra, em São Paulo, será inundado de som por Dinho Almeida e seus convidados. No ano em que o Boogarins completa uma década de atividade, o vocalista, guitarrista e compositor da banda irá apresentar pela primeira vez uma temporada de shows solo, batizada de Águas Turvas.

O repertório passeia por canções que respingaram para fora do grupo — como “João Três Filhos”, gravada por Ava Rocha, e “Make Sure Your Head Is Above”, registrada por Ceú —, tudo costurado por doses imponderáveis de improviso. Cada espetáculo será uma noite única: no dia 4, a estreia é completamente solo; no dia 11, Bebé e Felipe Salvego participam; dia 18, é a vez da multi-instrumentista Desirée Marantes, do artista sonoro Bruno Abdala e do duo Carabobina, formado por Raphael Vaz (baixista do Boogarins) e Alejandra Luciani. A temporada encerra no dia 25 com a participação de Flávia Carolina, cantora, compositora e irmã de Dinho. Os ingressos para todas as datas já estão à venda no Sympla da casa, com opções que vão de R$21 a R$63 (mais taxas).

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Em entrevista à Noize, o artista conta que o projeto nasceu como decorrência natural do contexto pós-pandêmico na vida dos integrantes do Boogarins: “A gente vivia muito a banda. No momento da pandemia, a gente acabou se recolhendo e cada um começou a ter uma vida própria. Benke [Ferraz, guitarrista] casou. Eu também casei, o Ynaiã [Benthroldo] foi morar com a companheira, eu tive um filho, Benke teve um filho… Então, a gente conseguiu, pela primeira vez, separar nossas vidas da banda”.

A primeira vez que Dinho tocou sozinho foi em Porto Alegre, em maio de 2022, quando houve o convite para realizar um show acústico solo na Casa Morrostock. “Meti duas horas, falando sobre as músicas, um trem que eu nunca tinha feito. Fiquei nervoso, mas foi muito bom”, lembra. Depois, Eduardo Fraga, da produtora Urubu, sugeriu que ele desenvolvesse um formato de show individual. “Começamos a trocar sobre o que seria isso, e eu sempre muito incomodado com a ideia de fazer um solo. Eu não vejo muito sentido em lançar uma carreira solo, um disco solo”, explica. A incerteza se dissipou quando o artista percebeu que, mesmo só no palco, ele nunca estava realmente sozinho, como conta:

“É muito sobre encontro, tem essa lógica de rio, de água. Eu tenho uma música, dessas que acabaram não entrando no Boogarins, que versa sobre isso. Essa música, que eu vou tocar nesses dias, acabou ganhando o nome de ‘Águas Turvas’. O jeito que acabei vindo a aprender a fazer música é muito sobre depositar no ouvinte a sua parte, que é se embrenhar e sentir alguma coisa. E essa música mostra muito isso e mostra a confusão que eu tinha pra entender que, até fazendo música sozinho, não sou eu sozinho, porque eu só toco devido aos grandes encontros que aconteceram na minha vida”.

A possibilidade de um novo formato de experimentação no palco está vindo de forma despretensiosa, para somar a tudo o que já foi construído com o grupo. “Tô fazendo dentro de uma mentalidade de poder gozar as possibilidades que essa vida me deu. Tipo: ‘Calma Fernandinho, você pode fazer um outro show, vai ser bom, você vai mostrar coisas que as pessoas querem ver, vai ganhar experiência de fazer uma parada que você não está acostumado, não precisa ter medo, não precisa achar que isso vai ser ruim para banda’. Sabe? Todos nós [do Boogarins] estamos com essa cabeça, é muito bom ter tranquilidade de fazer um movimentos desses sabendo que é pelo todo mesmo”.

A ideia de fazer uma temporada de um mês no Centro da Terra partiu de outro parceiro, Alexandre Mathias, que, além de manter o site Trabalho Sujo, trabalha com a programação da casa. Assim, o que seria um show viraram quatro, e Dinho aproveitou o fluxo para convidar mais amizades para embarcar. A cantora Bebé, por exemplo, é uma nova parceira. “Estava com uma troca muito boa com a Bebé, tinha acabado de fazer uma música bonita e mandar pra ela, ela vai fazer no disco novo dela. Nessa lógica do rio que eu sou, fui chamar essa água nova. O Felipe é o irmão dela, que também é uma doçura”.

Já a dupla Carabobina, na semana seguinte, chega trazendo ao palco uma intimidade doméstica, pois Dinho mora com Raphael e Alejandra, além de Maria Joana Chagas de Avellar, sua companheira e com quem divide a Concepção Criativa do show. Já Desirée Marantes é vizinha deles, e Bruno Abdala também é um parceiro íntimo de Dinho. A consagração dos vínculos familiares, consanguíneos ou não, acontece no encerramento da série, quando a convidada é a própria irmã do artista, Flávia Carolina.

“Na pandemia, nós fizemos uma live juntos. Nós vamos tocar algumas dessas músicas e mostrar o que a gente sempre fez em casa. Muita gente não tem noção de que a minha irmã toca, é melhor que eu, tem músicas lindas, canta pra caralho, e ela está num movimento que eu diria que é a coisa mais legal que está tendo em Goiânia. As bandas de lá continuam, mas ela está nas rodas de samba massa, está tocando na noite um forró mil grau, tem um grupo de coco… Tem várias bandas novas surgindo que são fodas, mas é massa essa outra linha acontecendo, que traz outras linguagens, não só o rock. Acho que minha irmã é um reflexo muito bom disso, para mim é um prazer imenso poder botar ela nesse show”.

Outros dos muitos colaboradores de Dinho nesse show, que soa cada vez menos “solo”, é Lê Almeida. “Pedi um loop pro Lê pra cantar em cima, vai ter isso também”, revela. Lê é um artista notório por sua relação com o formato do cassete e há mais esse elo entre ele e a temporada Águas Turvas. Danilo Sansão, responsável pelas projeções do espetáculo, também irá fazer um registro em vídeo e em fita cassete, gravada ao vivo e disponibilizada para venda ao fim do show.

Dinho conta que, por enquanto, esse será o único registro disponibilizado da experiência sem banda. “Quem quiser, leva a fita cassete gravada do show. Eu não sei dizer agora se a gente vai botar on-line, talvez a gente só venda o PIX por WhatsApp. Acho que o legal desse projeto é justamente poder brincar com esses registros. Em um primeiro momento é isso: vamos estar gravando a fita cassete e vendendo lá no dia. Vai ter a memorabilia desse grande evento. Agora, se a gente vai lançar, o que vai ser feito, aí é a parte que vamos deixar o rio correr pra saber”.

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01/09/2023

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Ariel Fagundes

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