Em junho, passei aqui pelo site da NOIZE pra contar minha aventura ramoníaca em Nova Iorque. Viajei com o objetivo de ir ao Joey Ramone Birthday Bash e assistir a shows do CJ Ramone. Conforme contei no post (que você lê aqui), falei com ele lá e disse que o esperava no Brasil.
Passados quatro meses, CJ desembarcou por aqui pra uma série de shows. Como moramos em Porto Alegre, eu e meu namorado já estávamos decididos a assisti-lo na cidade, mas lembramos que poderíamos reviver aqueles dias em Nova Iorque e compramos ingressos pra ver os três shows que rolariam no Rio Grande do Sul, encerrando a tour brasileira. Bom, vale dizer que eu iria só por ser fã de Ramones, mas também curto muito a carreira solo do CJ. “Reconquista” (2012), considerado melhor álbum de um ex-Ramone, foi o disco que mais escutei no ano passado, e agora ele ainda está lançando mais um, “Last Chance To Dance”, que sai em novembro.
Show 01 | Rock and Roll Bar @ Novo Hamburgo
O primeiro show rolou em Novo Hamburgo, no dia 6 de setembro, e era lá que eu tinha um encontro marcado com CJ pra uma entrevista – obrigada, NOIZE! Ele nos receberia no camarim, mas antes disso, encontrei Steve Soto e Dan Root, ambos guitarristas da banda, circulando pelo local. Fui falar com eles.
“Vi vocês em Poughkeepsie”, disse, e fui surpreendida com um “A gente lembra de você”. Pudera, afinal, nosso encontro anterior havia rolado nesta pequena cidade do interior do estado de Nova Iorque, e por incrível que pareça, naquele dia, as pessoas de lá estavam mais entusiasmadas com a nossa presença do que com a da própria banda. “Por que raios vieram de tão longe para ver um show?”, nos perguntavam.
Depois da minha rápida conversa com Steve e Dan, fomos encaminhados ao camarim. Eu estava ansiosa mas, como já contei inúmeras vezes aos meus amigos, CJ é um cara simples, nada arrogante, então fica fácil se acalmar ao seu lado. E foi olhando nos meus olhos e sorrindo o tempo todo, que ele me concedeu a entrevista que você lê a seguir.
Seu primeiro álbum solo é considerado o melhor de um ex-Ramone. Isso deixa você ansioso em relação à repercussão que este segundo álbum vai ter?
Não é tão fácil tentar fazer um álbum tão bom quanto o “Reconquista”. Cada um é e sempre vai ser um pouco diferente do anterior, mas a pressão que eu sinto vem mais de não querer decepcionar os fãs.
Em maio, estive em Nova Iorque e assisti a dois shows seus: um no Bowery Eletric e outro na cidade de Poughkeepsie. Percebi que o clima do show lá é muito diferente daqui. Você sente isso também?
Nos Estados Unidos, o punk rock não é mais tão grande quanto costumava ser, está realmente muito menor do que era. As pessoas simplesmente não estão mais interessadas como costumavam ser. Já no Brasil, parece que o punk rock ainda é novo. As pessoas ainda gostam muito dele, e nós apenas tentamos sempre fazer melhor quando chegamos aqui.
Estive presente no Joey Ramone Birthday Bash deste ano. Em 2012, Tommy estava lá. Em 2013, você. Em 2014, porém, você não conseguiu ir. Pretende estar lá ano que vem?
É difícil no momento saber isso. Esse ano, eles entraram em contato comigo depois de eu já ter agendado os shows a que você assistiu. Vai depender de quando e se eles entrarem em contato comigo. Eu ficaria muito feliz com isso.
Você sempre dá atenção aos fãs. Mesmo assim, situações constrangedoras acabam rolando. Agora, no Brasil, roubaram um boné seu. Até que ponto vai sua paciência?
Isso não me incomoda. Aconteceu. Os shows no Brasil eram grandes e tinham mais gente do que nos anos anteriores. Então, eu relevo, essas coisas simplesmente acontecem.
O brasileiro Tiago Kamming fez um baixo pra você. Ele é de uma cidade aqui perto, São Leopoldo. Vai usar o baixo hoje?
Ah, sim, mas hoje eu usarei o meu baixo Mosrite.
Vamos falar um pouco dos Ramones? Quais as melhores lembranças que você guarda da banda?
As melhores memórias provavelmente são as mais óbvias: meu primeiro show e o último show, quando tocamos com Lemmy Kilmister, do Motörhead. Eu sinto falta das pessoas, dos meus amigos e de alguns shows específicos. Mas você sabe, sinto mais falta desse lado pessoal do que do profissional.
Como é a sua vida hoje? Sabemos que você dedica bastante tempo a sua família e ainda tem a música. Sobra tempo pra outras atividades?
No tempo livre, eu costumo andar de moto, mas realmente passo mais tempo com meus filhos. Nós plantamos vegetais, temos galinhas em casa. Enfim, a maior parte do meu tempo, eu passo com a minha família.
Show 02 | Cond Show Bar @ Caxias do Sul
Ainda estávamos com as músicas do show da noite anterior na cabeça, quando pegamos a estrada rumo a Caxias do Sul. Bom, sei que você não vai acreditar, mas a verdade é que sem querer acabamos reservando lugar no mesmo hotel da banda. Inclusive, esbarramos com os caras no hall, mas preferimos não incomodá-los, embora eu tivesse mesmo era com vontade de chamar CJ pra comer una bella polenta. A brincadeira surgiu na noite anterior, quando percebi que, assim como eu, uma autêntica representante da “gringolândia gaúcha”, ele fica vermelho no calor.
Depois do show, de volta ao hotel, Dan nos viu e veio conversar com a gente. Foi quando ele me deu um apelido: Poughkeepsie, claro.
Show 03 | Bar Opinião @ Porto Alegre
Domingo, dia 7, foi a vez da capital receber o derradeiro show desta tour, e foi quando tive a certeza de que CJ e sua banda prepararam um set list diferente pra cada cidade do Rio Grande do Sul.
Em Porto Alegre, o que mais me chamou atenção foi que eles tocaram “Danny Says”, que até então eu não tinha ouvido nem nos shows dos Estados Unidos. Já em Caxias, a música mais romântica do álbum “Reconquista”, “You’re The Only One”, ficou de fora, assim como “Cretin Hop”, dos Ramones. Mas hits como “Blietzkrieg Bop”, “Judy Is A Punk” e “I Wanna Be Your Boyfriend” estavam nos três shows.
A propósito, incluir músicas do período anterior à sua entrada na banda é muito bacana por parte do CJ, que acaba nos proporcionando um passeio pela carreira dos caras. O ponto ramoníaco mais alto, no entanto, rola em “Strenght To Endure”. “Se tu fechar os olhos, dá pra imaginar que está escutando o álbum”, comentou meu amigo Diego. Verdade, a voz de CJ continua igual, mesmo após 22 anos… E isso emociona.
Outro momento emocionante é quando rola “Three Angels”. Inicialmente composta por CJ em homenagem a Joey, Johnny e Dee Dee, a faixa agora também lembra Tommy, morto em julho.
O público ainda pode ouvir ao vivo pela primeira vez três músicas do novo disco, que sai em novembro: a faixa-título, “Last Chance To Dance”, “Understand Me?” e “Carrie Me Away”.
Não dá pra dizer que teve um show melhor que o outro. Em todos, o público estava empolgado, cantando junto e demonstrando carinho por CJ. Nada mais justo, afinal, ele é um Ramone, mas é justamente isso que diferencia os shows no Brasil dos que assisti nos Estados Unidos. Nós somos fãs muito mais efusivos, demonstramos muito mais carinho e isso é nítido pra cada um da banda.
Isso fica bem claro em momentos como o que vivi ao final do show do Opinião. Estava na pista, com o pessoal, quando Dan voltou ao palco, que já estava sendo desmontado. Ele me viu, e eu acenei de volta, mas pra minha surpresa, ganhei mais do que um tchauzinho. “Vou descer aí pra dar um oi pra vocês”, disse. E não é que ele veio mesmo?
Nos cinco minutos em que conversamos, Dan elogiou o show de Porto Alegre. “Bem mais legal que o de Poughkeepsie”, disse, feliz e ainda me chamando pelo nome da cidade. Ele ainda me contou que o próximo destino da banda é o Panamá e, depois, eles vão pro Japão. Por pouco não respondi com um “te vejo lá”, mas fiquei com receio. Vai que ele não entende a brincadeira e me responde com um “mas de novo?” apavorado, né?
Fotos show: Ariel Fagundes
Foto entrevista: Lidy Araujo
Foto hotel: Arquivo Pessoal