Uma experiência de quase morte muda qualquer um. No caso de Jason “Spaceman” Pierce, afetou sua música também. O líder do Spiritualized, e principal compositor, está a caminho do Brasil sem nenhum amplificador na bagagem. Pierce e seu violão, acompanhado por um quarteto de cordas e um coral gospel, vão fazer você atingir outros planos no dia 28 de agosto, no Audio Club.
Caso não esteja familiarizado com o Spiritualized, talvez você lembre-se melhor das canções de Pierce pelo definitivo Ladies And Gentlemen We Are Floating In Space (1997). Apesar de ainda ser o disco mais lembrado do Spiritualized, é Songs in A&E (2008) o álbum mais inspirado e mais bem escrito de Pierce. Lançado quando ele ainda estava se recuperando de uma pneumonia dupla quase mortal, o registro fala em um tom cru sobre encontrar a paz e sobreviver.
Jason Pierce viaja na música há mais de 30 anos. Tudo começou com o Spacemen 3 nos anos 80, banda formada junto com o amigo Peter Kember (Sonic Boom). Diferente da “psicodelia caos” do Woodstock, os dois desenvolveram sua própria sonoridade psicodélica minimalista. O quarto disco do Spacemen 3, Recurring (1991), demorou para chegar e foi lançado só quando a dupla já tinha se separado e Pierce agora era Spiritualized e estava gravando seu primeiro álbum, Lazer Guided Melodies (1992), um registro seminal e inovador da banda que muda constantemente, exceto Pierce. Depois de sete discos, chegamos ao último, e prestes a ser substituído, Sweet Heart Sweet Light (2012), com coros e instrumentos orquestrais que ficaram mais evidentes desde Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space.
Esses elementos também vão estar no show de Jason Pierce no próximo dia 28, em São Paulo. Com o projeto Acoustic Mainlines, Pierce vai trazer as canções do Spiritualized em forma acústica e quase gospel. Quer saber mais sobre o universo de Jason Pierce? Conversamos com a mente brilhante por trás do Spiritualized sobre sua luta contra uma pneumonia dupla, ciência e drogas. Veja abaixo a nossa entrevista com o músico.
O último disco do Spiritualized, Sweet Heart Sweet Light, tem músicas para cima e outras mais introspectivas. Você é uma pessoa diferente da que era nessa época? O que mudou?
Eu não estava muito bem quando gravei esse disco. Eu estava em tratamento para hepatite. Não era um tratamento bom. Quero dizer, é um tratamento ótimo se você fica bem, mas os efeitos colaterais não são bons. Eu estava em uma fase bem pra baixo. Mas esse disco não é sobre o tratamento. Eu não escrevi um disco sobre uma doença. Mas, sim, muita coisa mudou. Eu sempre tive essa ideia de que depois que você fica doente, você volta mudado. Você se torna uma pessoa mais honesta.
Você está se sentindo melhor hoje em dia?
Sim. O tratamento foi muito duro e seria muito decepcionante se não tivesse sido um sucesso.
Há muito da música gospel em suas canções. O que te inspira tanto na devoção?
Um monte de gente cantando seu amor para Deus. Existe uma verdade nisso, sabe?
Acredita que a música pode curar?
Eu não sou religioso, não ouço nenhuma mente religiosa. Acredito que a música é incrivelmente poderosa. Mais poderosa do que as pessoas pensam. Como uma máquina do tempo, você consegue acessar pontos de sua vida ligando-os com a música.
Você tem experimentado musicalmente por mais de 30 anos. Há alguma coisa que você ainda não tentou e gostaria de?
A cada novo disco eu tento evoluir um pouco. Eu já elaborei muita música desde que saí daquela cidade pequena [Rugby], e isso mudou a minha vida. Mas a evolução da minha própria música é pequena, parece que estou fazendo o mesmo disco há 30 anos, só que com algumas diferenças. Eu gasto meu tempo tentando fazer algo novo e ainda mais além do que eu já fiz. Mas eu não acredito em grande mudanças solo, acho que a música é sobre trocar ideias.
Você disse uma vez que a música mais psicodélica de todos os tempos era “Slippin And Slidin” de Buddy Holly, porque ela o lembra da experiência de tomar LSD. Com qual droga você compararia o som do Spiritualized?
Infelizmente, ou felizmente, acho que nós cobrimos todas as drogas.
A psicologia e a astrologia aparecem muito em suas letras. Que relação você faz entre essas ciências e a música?
Eu gosto da verdade. Eu gosto de saber como as coisas são. Infelizmente, é como eu sou. E eu sou obcecado por fazer música. Eu não estou interessado em gravar um disco, estou interessado em fazer isso certo. E isso é uma das razões pelas quais eu gosto de psicologia, astrologia e astronomia, eu diria. Essas coisas que têm um senso de verdade muito profundo, sabe?
Um novo disco está nos planos do Spiritualized?
Sim, eu já estou trabalhando em três faixas e pretendemos lançar um disco no ano que vem.
Você já esteve no Brasil antes?
Não, estou tentando ir ao Brasil há cinco anos! Demorou tanto para chegar aí. Eu lembro de ter feito um show na Argentina três anos atrás, e eu deixei essa porta aberta.
Spiritualized Acoustic Mainlines @São Paulo
Quando: 28 de agosto
Onde: Audio Club
Quanto: ingressos à venda por R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia- entrada) clicando aqui ou na bilheteria do local