Entrevista | O 3º ato do contador de histórias Pélico

24/06/2015

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Paula Moizes

Por: Paula Moizes

Fotos: Alexandre Eça

24/06/2015

Até que ponto o amor nos move? O quanto as escolhas que fizemos pelo amor interferem na vida das outras pessoas? Tudo isso pode parecer um tanto clichê, mas aposto que você nunca deixou de ouvir canções que falam do todo poderoso amor. Em seu novo disco, o terceiro, Pélico convida um time de artistas para dar corpo às composições de Euforia (2015), como ele nos conta nesta entrevista.

O estado eufórico traz consigo a pós-euforia. Na segunda metade do disco, é essa melancolia esperançosa que vai permear músicas como “Vaidoso” e “Repousar“. Algumas das primeiras faixas, mais solares, contam com o pop experimental de Curumin na bateria, além da colaboração dos músicos que acompanham Pélico desde seu primeiro disco, O último dia de um homem sem juízo (2008). As duas versões em que faixa-título aparece evidenciam essa dualidade do álbum que quando você menos perceber vai estar cantarolando as melodias.

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Pélico é um grande contador de histórias com diversas camadas sonoras. Participou de um disco de Tom Zé e cantou com Bárbara Eugênia mais de uma vez, a última em tributo a Milton Nascimento. Quem quiser assistir Pélico ao vivo, ele se apresenta no próximo dia 27 na Casa do Mancha, em São Paulo. A turnê do Euforia segue julho adentro, veja aqui as datas dos shows.

Em que momento da sua vida foram compostas as faixas do Euforia?

Eu fiz algumas viagens nos últimos dois anos. Fui pra Santa Catarina, fui pra Bahia, fui pro interior de São Paulo em um sítio… Como dessa vez eu não consegui ficar muito tempo fora de São Paulo, durante esses dois anos eu fui dando umas escapadas. Foi nesse período que eu compus bastante coisa do Euforia.

É a primeira capa de disco em que você mostra seu rosto. Foi intencional?

Foi totalmente intencional. Nesse disco, eu resolvi escancarar. “Eu vou estampar a minha cara”. O Bob fez a foto e o Filipe Catto foi lá e aproximou, deu um mega close na foto, porque eu realmente queria me mostrar. As canções também são assim. Na maior parte, são autobiográficas. Eu queria me expôr, assim como eu me exponho nas letras.

As letras falam sobre você, mas quem são as outras pessoas que fazem parte das histórias do Euforia?

São histórias pessoas, muitas delas. São pessoas que passaram pela minha vida, pessoas amigas. O samba que eu fiz, “Você Pensa que me Engana”, eu fiz pra uma amiga. “Overdose” eu fiz pra um vizinho que ficava reclamando do barulho do violão e das minhas cantorias de madrugada. Várias vezes batia na porta e reclamava… Eu adoro contar histórias, e muitas delas são minhas. No fundo, o que eu mais gosto de fazer é contar históricas.

Esse é seu álbum com menos faixas e ainda assim tem quatorze.

Eu lanço um disco a cada três anos, quatro anos. Então eu acho que é um presente pros fãs eu gravar um disco com o maior número de faixas possível. Mas nesse eu tentei economizar, acredita? Eu comecei o disco pensando em onze, doze faixas. Só que no meio do processo eu mudei. Inclusive, “Euforia” foi a última música que eu compus. Eu a escrevi já em processo de produção do disco. Na parte das composições, as coisas acontecem muito espontaneamente e vão tomando caminhos. Eu não sabia que iria gravar um disco mais solar.

Jesus Sanchez é o produtor que acompanha você desde o início da sua carreira solo. Como é essa amizade colaborativa?

A nossa parceria começou há muito tempo, em 2006, quando ele produziu meu primeiro EP. Na verdade, eu já tinha esse EP pré-produzido e ele pegou e arrumou, chamou outros músicos. De lá pra cá, nossa amizade e nossa afinidade musical aumentou. A gente tem uma afinidade musical muito peculiar, muito sintonizada. Todos os caminhos que a gente tomou nos três discos foi uma coisa impressionante, os dois queriam aquilo. Quando a gente sentou pra falar sobre os discos, a gente já tinha uma ideia pronta e era a mesma.


Fotos: Alexandre Eça

Quem fez os arranjos do Euforia?

Esse disco, especialmente, tem uma colaboração muito grande dos músicos. A gente levantou arranjos e bases com os músicos. Esse é o disco que a banda mais participou na construção. A cada disco, a gente muda a banda. Ou acrescenta. O Regis Damasceno (cordas), o Richard Ribeiro (bateria) e o Tony Berchmans (vocais, piano, órgão) estão nos três discos, mas sempre tem outros músicos. Esse novo projeto teve três bateristas, três baixistas, dois guitarristas… Junta esse experimentalismo da produção, aquela coisa técnica de tirar som das coisas, com a influência dos músicos. Eu tenho essa necessidade de buscar novas formas de compor. Como “Você Pensa que Me Engana”, que eu fiz um samba, como “Ela Me Dá”, que tem uma latinidade, como “Sozinhar-me”, que é um samba de roda com tempero africano…

O que você estava ouvindo durante as composições do novo disco?

Eu tava ouvindo bastante Gilberto Gil, sobretudo o disco Raça Humana (1984), muito Al Green, muito Marvin Gaye, muito Tim Maia, muito da música negra americana. Algumas faixas tem esse naipe do sax que costura o disco todo, tem também os sintetizadores do Raça Humana que a gente pirou muito.

Você procura fazer a mesma música popular que eles faziam?

O gosto popular tá no funk, tá no sertanejo… O que eu faço não é mais a música popular, não é mais a música de massa. Essa sensação de popular é muito mais uma memória do que o que é realmente popular hoje.

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24/06/2015

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Paula Moizes

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