Tricky fala sobre o Massive Attack, The xx, home-studio e o conflito na Palestina

16/09/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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16/09/2014

Blue Lines (1991), do Massive Attack, é considerado o primeiro disco de trip hop gravado no mundo e, se não fosse pela figura de Tricky, esse álbum com certeza seria bem diferente. Bem no início do grupo, o músico estava bem próximo à banda, mas logo após o lançamento desse aclamado disco de estreia, Tricky se afastou do Massive Attack e seguiu uma carreira solo elogiada por outros músicos e pela crítica especializada. Seu primeiro álbum, Maxinquaye (1995), foi eleito o melhor do ano pela NME e o segundo melhor do ano pela Spin.

Seu currículo nesses 20 anos de carreira é no mínimo eclético. Tricky já trabalhou com artistas tão diferentes quanto Yoko Ono, John Frusciante, PJ Harvey, UB40, Beyoncé, Pete Doherty e Garbage. Foi ator no filme O Quinto Elemento (1997). Teve um caso com Björk (que também chegou a participar de um disco seu). Agora, ele está lançando seu décimo primeiro disco intitulado com seu nome real, Adrian Thaws (2014). O álbum está saindo pela gravadora que ele criou, False Idols, e nós fomos trocar uma ideia com ele sobre o seu passado e seu presente:

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Você esteve próximo do início do Massive Attack, vocês tinham noção de que estavam fazendo algo inovador na música quando gravaram o Blue Lines?

Não, acho que não. Acho que o Blue Lines foi uma coisa meio colaborativa. Eu participei de algumas faixas dele, ele tem samples que eu fiz, tem a minha voz no disco… mas eu nunca me senti parte do Massive Attack. Nós sempre trabalhamos juntos pela música. Eles sempre estiveram muito focados em conquistar seu lugar no mundo da música, e eu não estava exatamente junto com eles. Eu tive uma participação importante no disco, meus beats estão lá, mas eu me sinto um artista convidado. Eles pegaram alguns dos meus beats, algumas faixas minhas, algumas vozes, e usaram como queriam. Mas eles eram difíceis, tinha um clima de: “Me dê algum dinheiro, ou vá embora”. Então, acho que eu realmente não era parte daquilo.

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E logo depois disso você seu primeiro disco solo fez bastante sucesso. Agora, quase 20 anos depois, você está lançando mais um álbum. Como você reinventa a si mesmo com o passar do tempo?

Acho que é muito mais uma questão de ser quem você é. Se você faz as coisas por você mesmo, as escolhas que toma ficam impressas em tudo que você faz. Então eu não fico tentando reinventar a mim mesmo. Tanto quando eu viajo, quando estou em turnê, não importa se estou no camarim ou não, eu não tento ficar me reinventando, é tudo muito natural. Eu sou o que sou.

A capa do último disco de Tricky, "Adrian Thaws" (2014)

A capa do último disco de Tricky, “Adrian Thaws” (2014)

O título do seu novo disco é o seu nome de verdade, isso é sinal de que o álbum mostra um lado mais íntimo seu?

Não, eu acho que tem mais a ver com a questão de que eu não sou um personagem. Meu primeiro disco Maxinquaye (1995) ganhou o nome da minha mãe e, naquela época, eu estava começando uma relação com uma gravadora [Island]. Maxinquaye foi o nascimento da minha carreira e, agora que tenho minha própria gravadora, estou parindo Adrian Thaws (2014). Quando você está em um grande selo, tudo fica mais difícil. Estou feliz agora que posso lançar minhas músicas sem me preocupar com a gravadora, já que a gravadora é minha. E eu acho que isso me ajuda muito a ter criatividade.

Como você sente gravando seus discos dentro de sua casa?

Todos meus discos foram gravados no meu home-studio, nunca fiz um disco que não fosse assim. Eu acho que é melhor porque, se você está gravando em um estúdio, você está pagando por isso. Você tem que ficar de olho no relógio porque cada hora que você passar do horário será cobrada! Como eu sou dono do meu espaço de trabalho, só pago pela eletricidade. E no estúdio tem toda a pressão para fazer rápido algo que dê certo. Quando eu trabalho em casa, posso ficar o dia inteiro trabalhando em uma coisa e, se nada der certo, se nada funcionar, tudo bem. Não tem problema, não interessa. Em um estúdio que cobra por cada hora, tem muito mais pressão.

Parte da mesa de trabalho de Tricky

Parte da mesa de trabalho de Tricky

Os instrumentos mais orgânicos, como as guitarras, parecem que têm se tornado cada vez mais dispensáveis para algumas bandas novas. O que você acha disso?

É, eu acho que é assim mesmo, especialmente com quem começou na música eletrônica há pouco tempo. Eu não entendo isso. Eu gosto de pianos elétricos, baixo, guitarra… As pessoas me identificam com a música eletrônica, mas eu só gravo instrumentos eletrônicos em último caso. Não entendo muito bem porque tem gente que só faz música assim. Para mim, é coisa de quem não sabe de onde vem nem pra onde vai.

O que você acha de bandas mais novas como The xx, Disclosure…

Eu não ouço muito eles… Acho boa a música, mas não é uma música nova. É uma música boa, é legal que as pessoas falem a respeito, mas não é nada que eu já não tenha ouvido. É bom, só não é uma coisa nova. E eu sei de onde que vem o som deles.

Seu novo disco tem uma faixa extremamente política, “My Palestine Girl”. Qual é sua posição sobre esse tema?

Eu acho que é terrível, todo esse conflito é muito horrível. Eu não acredito na guerra, não acredito mesmo, não acho que resolva nada. Pra mim, isso tudo é muito triste. É triste para as pessoas que têm que viver nessa realidade.

E você sente que é seu papel enquanto artista se posicionar sobre coisas assim?

Enquanto artista, você vive em evidência e pode falar com um número enorme de pessoas. E se você tem algum conhecimento que acha importante passar ao público, eu acho que deve fazer isso. Acredito que os artistas devem falar sobre temas como esse até porque, muitas vezes, são os artistas quem têm mais sensibilidade para falar com o publico sobre o que está acontecendo no mundo. Eu gosto de fazer isso, sinto que eu devo me envolver com esses assuntos.

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