A lendária banda The Misfits, influência de 8 entre 10 bandas de punk rock e metal surgidas na década de 80, veio ao Brasil na última semana para três shows: no Abril Pro Rock, dia 15, na Virada Cultural de São Paulo, dia 16, e no Rio de Janeiro, dia 17 de abril.
O show dos caras serviu para mostrar algumas canções novas e – principalmente – para emocionar com velhos clássicos, como “Die, die my darling”, “Skulls” e “Last Caress”. Mesmo com boas 5 décadas nas costas, Jerry Only (único remanecente da formação original), Dez Cadena (ex-Black Flag) e Robo (ex-Black Flag e Misfits nos 80s) executaram canções rápidas em versões ainda mais urgentes que as originais.
Em entrevista ao telefone, um dia antes dos shows, Jerry Only foi coerente com o som de sua banda: as palavras saíram velozes, e o pedido para que ele falasse mais devagar pareceu ter efeito contrário. Rapidamente, passou por temas como a influência de sua banda na cultura pop, o disco novo Devils Rain e um posicionamento um tanto alheio ao passado, quando Glenn Danzig estava à frente do Misfits, que por sua vez era uma das bandas mais peculiares e influentes do punk rock.
Vocês tocaram no Brasil diversas veses. Dá pra dizer que têm uma relação com o país?
Sim, quer dizer, o Brasil sempre foi um lugar receptivo com a nossa músia e com a música punk em geral. Então é muito legal estar aqui para fazer estes shows. Nós temos um disco novo saindo em breve, então provavelmente voltemos para tocar no Brasil e na América do Sul.
O Dez Cadena tem tocado com você há alguns anos. Você lembra de quando se conheceram [Dez era guitarrista do lendário Black Flag nos anos 80]? Rolam uns momentos nostálgicos de vez em quando?
Sim. Você sabe que os velhos tempos eram muito bons, foi quando tudo surgiu, mas eu tendo a pensar que os novos tempos são bem melhores. As pessoas na plateia são melhores, a música em geral é melhor, as coisas mudaram bastante. Nos velhos tempos a gente tocava na minha casa, tocamos bastante com o Black Flag, mas o punk mudou muito, antes era uma cultura de garagem, underground. Agora é parte do mainstream.
Filmes de vampiro e zumbis são talvez mais populares do que nunca. Existe até uma série de TV chamada “Misfits”. Você se sente responsável de alguma maneira por isso?
O negócio é que tem sempre mais monstros para surgir, e isso é ótimo. Muitos garotos cresceram ouvindo a nossa música e quando eles crescem, fazem bandas que emulam coisas que a gente criou. E isso nos deixa muito orgulhosos. Na verdade a gente é muito diverso, tocamos horror punk, mas tocamos rockabilly, baladas. É isso que permite que toquemos de tudo e falemos de zumbis e essas coisas se popularizarem. Nós misturamos.
E você gosta desses filmes novos?
Sim, gosto muito. No disco que vamos lançar tem uma música chamada “Dark Shadows”, e pode ser que ela esteja no novo filme do Tim Burton.
[Peço pra ele falar mais devagar e ele fala mais rápido do que nunca. Algo completamente icompreensível. Fico nervoso, faço a pergunta atravessado]
E este novo disco, Devil’s Rain, está pra sair há algum tempo. Há uma previsão mais certa?
Sim, provavelmente em setembro!
Você disse em uma entrevista recente ser um entusiasta no sonho americano. Mas o punk rock não era sobre ir contra isso?
Bom, eu cresci em uma casa de classe média, gostava de música, desisti do colégio e de uma carreira de trabalho para tocar música, e me sacrifiquei muito por isso. Não tenho nenhum arrependimento, porque acho mesmo que conquistamos muitas coisas. Mas, enfim, definitivamente me identifico mais com os democratas, não sou um republicano, entende?
Os Estados Unidos são conhecidos por uma política externa intervencionista. Isso está previsto neste sonho?
Não. Mas eu acho que você deveria ajudar pessoas que estão sendo oprimidas pelo seu próprio governo. Eu acho que temos que defender os fracos. Mas eu não sou tão politicamente engajado, não acredito em política.