Na noite desta terça-feira (28), MC Tha, 29, retornou com nova produção denominada Meu Santo é Forte (2022). O EP conta com cinco canções que foram marcadas pela voz da maranhense Alcione, durante sua carreira fonográfica, em temática afro religiosa que agora vem misturada com pontos cantados, funk e tambores. No disco, a cantora e compositora paulistana Thais Dayane da Silva traz regravações de “Agolonã”, “São Jorge”, “Figa de Guiné”, “Afreketê” e “Corpo Fechado”, todas sob a direção musical da artista ao lado de Mahal Pita, que também assina como produtor musical e arranjador.
O projeto se completa com produção audiovisual, que tem roteiro da própria artista, onde se reproduz um programa antigo de Alcione, “Alerta Geral”, exibido em tv aberta por mais de dois anos. A nova versão fictícia do programa de auditório se dá pelo “Clima Quente Show“, onde MC Tha canta as cinco faixas, ouve mensagens de fãs e concede uma mini entrevista para a apresentadora Daday Silva (alusão ao nome da batismo de Tha), interpretada por ela mesma.
“Gravamos em outubro ou novembro passado. Eu já tenho uma galera que trabalha comigo, por exemplo, quem cuida da minha direção de arte e stylist é o Vitor Nunes, um artista paraense. Rodrigo de Carvalho, que já cuidou de mais de cinco clipes, é o diretor audiovisual. Então essa equipe já entende que o prazo é curto, que não dá para pegar uma diária de uma semana e ficar com um tempo confortável. Por exemplo, a gente gravou aquele vídeo em um dia, dentro da minha casa. Alugamos luzes, colocamos um fundo e nos viramos com uma equipe de cinco pessoas. É triste porque a gente sabe que não é o ideal, mas é o que a condição financeira anda permitindo. As pessoas não imaginam como é difícil de fazer as coisas, é aquela coisa de fazer um vídeo incrível mas com uma equipe de quatro pessoas, onde todo mundo está acumulando uma função. Tenho sorte de ter pessoas perto de mim que topam colaborar comigo e tem uma estrela em mim que brilha em algum lugar, e que brilham nas pessoas também.”, diz MC Tha em entrevista por vídeo na última sexta-feira (24).
Com um repertório cheio de acertos, a artista reuniu músicas das décadas de 70 até os anos 2000. “Conheci esse lado da Alcione através do terreiro, até então eu conhecia a cantora somente através das músicas mais românticas dela. Fiquei com essa ideia na cabeça que só saiu do papel ano passado, quando comentei com o Mahal [Pita]. As pessoas do Twitter já faziam algumas comparações, por semelhanças estéticas, desde o lançamento do meu álbum em 2019.” Junto ao produtor, a cantora buscou redesenhar uma linha do tempo, voltando-se à criação do funk mais percussivo e dos toques afros mais digitais, além de levar uma das mais notórias sambistas do país, para dentro do processo criativo como um caminho para refletir e relembrar as raízes ancestrais do Brasil.
Abrindo com “Agolonã”, a faixa mais longa do EP, a paulistana já dá indícios de como será o projeto, quando a música começa a se intensificar com tambores e batidas rápidas, transportando a música do álbum Morte De Um Poeta (1976), de Alcione, para os tempos atuais. Recebendo a contribuição do produtor musical Mu540 na faixa “Afreketê”, a cantora interliga mais o funk ao Ijexá de Salvador: “A presença do Mu540 tem um significado muito especial, ele é uma pessoa que já trabalha comigo desde o meu primeiro álbum e que vem do funk. Com ele pensamos como seria esse funk dentro do terreiro, como seria esse funk de Xangô.”, diz a MC.
O surgimento do samba no disco é inevitável quando a seleção das faixas levaram para “São Jorge“, “Figa de Guiné” e “Corpo Fechado”, que contam com um coro da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, da cidade de Campinas (SP). A nova concepção aqui aparece com a abordagem criativa da cantora junto do pulsar do funk aos efeitos e atabaques, tocados por Alana Gabriela: “Ter a Alana, percussionista de Salvador, tocando todos os tambores gravados é muito especial, porque nas comunidades de terreiro, a maioria das pessoas que tocam são os homens. Tem essas coisas de que poucos terreiros estão se abrindo para uma Ogã mulher, então ter a Alana tocando todas as percussões do disco foi bem importante.”
Tendo uma premissa de relembrar um Brasil que já existiu e evidenciar uma parte do repertório afro-brasileiro de Alcione, a artista reflete por dias melhores sendo movida pela força da fé: “Fazer parte de uma comunidade de terreiro me faz ter o cuidado não só comigo mas também com as pessoas, é ter a fé a todo momento como um modo de vida, que se torna uma certeza de que terei dias melhores e de que eu não vou sucumbir, como diria Elza Soares. A fé me move, fé na vacina, fé de que o Brasil vai melhorar, de que as comunidades de terreiro terão mais espaços para falarem de suas vivências e culturas. Trazer o projeto da Alcione é relembrar um Brasil que já existiu, é criar esse imaginário de que, por mais que seja difícil ter esperança, existe uma janelinha que se abre.”, finaliza a artista.
As novas músicas de MC Tha chegam aos palcos no dia 30 de junho, no Cine Joia (Praça Carlos Gomes, 82, Liberdade), em São Paulo, e no dia 8 de julho, dividindo palco com Jup do Bairro no Circo Voador ( R. dos Arcos, s/n, Jardim Iracema), no Rio de Janeiro. No primeiro show os ingressos estão sendo vendidos pela plataforma INTI, com bilhetes nos valores de R$ 60,00 + taxa, a meia, ou R$ 120,00 + taxa, a inteira. Já no Rio de Janeiro, os bilhetes estão disponíveis pela Eventim com o mesmo valor.
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