Noah Lennox é um músico peculiar. Seu nome artístico, Panda Bear, significa literalmente “urso panda” porque, quando era criança, ele gravou uma fita K7 e fez uma capa para ela com a foto de… um urso panda. Desde 1999, o músico inglês já lançou cinco discos solo e outros nove com sua banda, o Animal Collective – ele é uma máquina de compor.
O último disco solo dele, Panda Bear Meets the Grim Reaper (2015), saiu no início do ano carregado por críticas positivas da imprensa internacional. Há alguns anos, ele mora em Lisboa com sua mulher Fernanda Pereira, e nós conversamos com ele por Skype. Nesse papo, descobrimos que agora nesno ele está trabalhando nas músicas novas do Animal Collective. Ninguém sabe disso, mas a banda já está trabalhando no disco sucessor ao Centipede Hz (2012), veja o que ele contou pra NOIZE:
Você sabe, o Brasil foi colonizado por Portugal por séculos, então nós temos uma conexão muito forte com Portugal aqui. Fiquei curioso, por que você escolheu Lisboa para morar?
Eu moro aqui desde o início de 2004… Na época, eu estava querendo muito sair de Nova Iorque, mas não sabia para onde eu queria ir. Aí o Animal Collective veio tocar aqui e eu realmente gostei muito da cidade. Tem alguma coisa com a atmosfera daqui que eu gosto… A velocidade da cidade me agrada… E eu conheci uma garota daqui com quem eu amo estar junto. Mais do que qualquer outra coisa, eu diria que foi ela quem me fez ficar aqui.
E a vida na capital portuguesa influenciou a sua música de algum jeito?
Eu tenho certeza de que o local onde se está influencia não apenas o que eu crio, mas também a forma como eu penso e ajo no meu cotidiano mesmo. Mas ao mesmo tempo é muito difícil para mim identificar essas influências todas de uma forma mais tangível, mais reconhecível.
Li em uma entrevista sua que você não conhece tantas pessoas aí em Portugal e, por isso, passa um bom tempo dentro do estúdio. É isso mesmo?
Realmente, eu passo boa parte do meu tempo trabalhando, mas eu também dedico muito do meu tempo para a minha família aqui. Eu tento equilibrar isso da melhor forma que eu posso.
E o que você tem gravado recentemente?
Ultimamente eu tenho trabalhado em novas músicas do Animal Collective. Nós vamos reunir a banda mais tarde, mas ainda nesse ano, para trabalhar em alguma coisa… Nós ainda não temos um cronograma de gravações em estúdio, mas já começamos a pensar nas novas músicas, nos tipos de coisas que nós estamos querendo tentar fazer agora. Estamos vendo quais ideias são compatíveis e quais não são.
E vocês já têm planos de lançamento? Alguma chance de sair algo ainda em 2015?
Sim, nós vamos lançar alguma coisa. Dizer que será em 2015 é meio ambicioso, eu acho… Meu palpite é que será em 2016, mas quem sabe. Eu sou péssimo para antecipar o tempo que as coisas levam para serem feitas.
E com o Panda Bear? Você já está pensando em um próximo disco solo?
Nesse momento, não… Eu ainda vou continuar fazendo shows com as músicas do Panda Bear Meets the Grim Reaper (2015) até o final desse ano. Mas agora mesmo eu quero apenas me focar nas coisas do Animal Collective. Bem, para ser honesto, eu tenho tido algumas ideias pra carreira solo, mas eu ainda vou deixar elas maturando por um tempo… Se elas forem realmente boas, ainda vou poder trabalhar nelas daqui a um ano, ou mais.
Os seus discos soam bem diferentes um do outro. Como você vê isso? Cada álbum é uma obra fechada em si mesma ou cada um deles é um capítulo de uma mesma narrativa?
Eu sinto que os últimos três discos estão todos meio unidos apesar de soarem diferentes entre si, pelo menos para os meus ouvidos. Embora, às vezes, um grupo de músicas na verdade não tem nenhuma conexão entre si… Por exemplo, meu disco que se chama Young Prayer (2004) eu não consigo relacionar com mais nada do que eu já tenha feito.
E o que fez com que Young Prayer fosse assim?
Eu acho que o contexto da época tem muito a ver com isso. Às vezes nós atravessamos coisas nas nossas vidas que são como explosões. Muito poderosas, mas muito breves. Outras experiências são menos intensas, mas vão queimando devagar…
Isso me lembra que muita gente se refere ao seu som como uma música psicodélica. Era isso que você queria? O que é uma música psicodélica pra você? E, na sua opinião, por que está havendo um boom de novas bandas psicodélicas? É um movimento musical? É uma moda? Ou é só coincidência?
Provavelmente é um pouco de todas essas coisas… É claro que as definições se transformam com o tempo, mas eu gosto de pensar na música psicodélica como sendo um som que contém elementos de surpresa… de confusão… e que borre os limites e fronteiras entre os sons. O que eu quero é criar músicas que tenham um efeito positivo em mim mesmo e nos outros. Isso é obviamente um objetivo muito amplo. Mas acho que eu não quero limitar a maneira como alguém interpreta minha música.
Além das suas músicas, seus clipes são importantes também. Como você enxerga a relação audiovisual entre o som e a imagem?
Para nós isso sempre foi uma coisa vital, especialmente porque nós sentimos dificuldade para descrever a música para nós mesmos de uma forma mais técnica. Então nós costumamos definir nossas ideias de som em temos visuais. Também, muitas vezes, a imagem é a porta de entrada para a música. Imagino que a maioria das pessoas vê a imagem da capa de um disco antes de ouvir o som que o disco tem… Por isso, garantir que a imagética defina e amplie o efeito da minha música é algo tão importante para mim.
Alguns críticos disseram que Panda Bear Meets the Grim Reaper é um álbum mais fácil do que seus trabalhos anteriores. Você concorda com isso?
Depende do que você quer dizer com “fácil”. Se é porque a música surge com uma falta de conteúdo ou de poder, então eu falhei em algum nível. Mas em geral eu tento criar coisas que sejam estimulantes para mim. Eu concordaria que há elementos no Grim Reaper que fazem ele ser mais convidativo do que Tomboy (2011), por exemplo. Mas eu não acredito que isso defina o valor do disco.
Para você, é mais fácil fazer um disco do Panda Bear do que um do Animal Collective?
Por um lado sim, mas por outro não. Talvez seja mais fácil sim porque tem menos obstáculos. Mas também é menos surpreendente. E menos revelador.