Entrevista Spoon | “Todo mundo quer sua alma”, desabafa Jim Eno

15/10/2015

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Por: Ariel Fagundes

Fotos: Divulgação

15/10/2015

Os tempos estão mudando para o Spoon. Após nove anos fazendo discos com a gravadora independente Merge Records, a banda do Texas lançou seu primeiro álbum com a Loma Vista, um selo do conglomerado Concord Music Group.

They Want My Soul (2014) é um trabalho importante para o grupo, pois marca a volta do Spoon após um hiato de três anos e a estreia de Alex Fischel nos teclados e guitarra. Hoje, o grupo toca pela primeira vez no Rio de Janeiro, no Sacadura 154, e, nos dia 17 e 18, a banda toca no Popload Festival, em São Paulo.

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O baterista do Spoon, Jim Eno, conversou conosco sobre o conceito do último disco, as mudanças que a banda sofreu e o desafio de equilibrar sua carreira paralela de produtor com a vida na estrada. Confira abaixo.

Vamos falar sobre seu último trabalho, They Want My Soul. Quem queria a alma de vocês quando vocês escreveram esse disco?
Todo mundo quer empurrar suas ideias pra cima de você e quer fazer você agir como eles querem que você aja. Sabe? Claro que qualquer um pode apresentar seu ponto de vista, mas quando você começa a forçar as pessoas para que elas tomem atitudes diferentes, é ruim. Tem muita coisa acontecendo agora, teve um pouco a ver com isso.

Você se refere ao público ou à indústria?
Digo mais em relação ao público. Eu sinto que isso acontece o tempo todo, as pessoas dizem o que elas acham – e todo mundo pode achar o que quiser. Mas tem a ver com levar isso a um nível mais profundo, sabe? Todo mundo quer sua alma. Isso vale para as empresas, para os anúncios, tudo isso.

Quer dizer que seu último disco é um grito de independência?
Sim, exatamente. Eu acho que esse sentimento de “eles querem minha alma” é algo que bate em mim. A gente chegou nessa ideia e queríamos uma capa que fosse misteriosa, então “They Want My Soul” era um bom título para aquele tipo de imagem.

Esse é o seu primeiro disco com a Loma Vista, depois de nove anos com a Merge. O que os levou a essa mudança?
Nós lançamos cinco discos com a Merge e nós amamos aqueles caras. São nossos amigos, continuaremos deixando nossos álbuns [anteriores] com eles e fazendo algumas coisas com eles. Mas levaram quatro anos para nós completarmos esse disco e nós sentimos que talvez seria a hora de uma mudança. Nós conhecíamos algumas pessoas da Loma Vista e pensamos que poderíamos dar uma chance. Foi mais ou menos assim que aconteceu. Nos nossos encontros com o pessoal da Loma Vista eles sempre pareceram super envolvidos com o disco, dispostos a dar todo apoio. Eu acho que foi uma movimentação boa. Acho que era uma hora boa pra mudar.

A relação com uma gravadora major é mais fácil, mais difícil?
Eu diria que é diferente. Loma Vista não tem tantas pessoas, é um selo pequeno, mas está ligado a uma grande gravadora [a dddd], então pode usar os recursos dela se precisar. Isso é bom, tem uma equipe maior, em potencial. Mas as pessoas com quem trabalhamos em geral são um grupo pequeno, então parece um selo independente, mas que está apoiado pela equipe de uma major, se quisermos usá-la.

Transference (2010) foi um disco que vocês mesmo produziram, mas em They Want My Soul vocês chamaram o produtor Dave Fridmann, que foi bem importante para o som final do disco, correto?
Sim, ele foi sim.

Como vocês lidaram com a experiência de produzir seu próprio disco e por que optaram por não fazer isso de novo?
Sempre é bom ter alguém junto que possa dar uma olhada geral no projeto porque, muitas vezes, quando você faz parte da banda, fica próximo demais pra isso. Além disso, nós já queríamos trabalhar com o Dave há um tempo, mas nossas agendas não se encontravam. Dessa vez, conseguimos agendar e, desde que começamos a trabalhar com ele, vimos que ele deveria fazer o disco todo. Foi ótimo trabalhar com ele. É um cara muito legal, muito bom em conseguir sons loucos e selvagens.

Qual foi a principal contribuição dele pro disco?
Teve muitas coisas, mas se eu tivesse que listar, diria que foram os efeitos da mixagem final. Dave é muito bom em conseguir um som distorcido, que seja muito, muito barulhento, mas também muito limpo. Você consegue ouvir bem as coisas, mas elas ainda soam pesadas.

Depois do Transference, vocês fizeram um hiato e, então, Alex Fischel entrou pra banda. O que ele trouxe pro Spoon?
Ele trabalhou muito no disco conosco. Alex é incrível ao vivo e consegue tocar tudo. Quando você toca um instrumento, muitas vezes é limitado pela sua habilidade. Por exemplo, eu toco bateria, mas eu não consigo tocar que nem o Keith Moon, obviamente as músicas do Spoon deixam isso claro. É até uma questão de estilo. Mas o Alex é um pianista clássico que toca praticamente qualquer coisa, toca rock, blues, jazz, música clássica… Então, quando chega no estúdio, você pode jogar qualquer ideia que ele sempre vai conseguir tocar. É muito refrescante ter uma pessoa como ele na banda. Ele é também uma pessoa muito enérgica que realmente eleva nosso show no palco, é bem entusiasmante.

Você e Brit Daniel trabalharam em projetos paralelos nos últimos anos. Seus outros trabalhos influenciaram o som do They Want My Soul?
Eu fiquei em estúdio o tempo todo trabalhando em outros discos de outras bandas. Então, pra mim, o que eu aprendi com isso foram algumas ideias diferentes sobre gravação. Eu fiz muitos discos em um período curto de tempo, então acho que eu fiquei bom em tocar o processo adiante, sabe? Fazer o disco ficar pronto no menor tempo possível e imaginar como ele vai soar depois. Foi pra isso que serviu esse tempo, pra mim.

Você tem uma carreira sólida como produtor, como você equilibra isso com seu trabalho no Spoon? Já recusou trabalhos de produção por causa da banda?
Ah, sim, tive que recusar trabalhos por causa do Spoon. Mas o Spoon é meu projeto principal. Pra lançar nosso último disco, estamos viajando bastante, e aí não tenho tempo pra outras coisas. Mas estamos bem, eu amo ficar em estúdio, mas também amo o Spoon. Nós temos nossas turnês… e temos que tocar na frente das pessoas! Ir pra América do Sul, por exemplo, é muito divertido, pra todos nós. Até pra vermos como ficam as músicas ao vivo.

É a primeira vez que o Spoon está vindo pro Rio de Janeiro, você está com muitas expectativas?
Cara, não tenho nenhuma. Minha ideia do Rio é apenas uma grande festa. Isso seria divertido! Vamos ver…

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15/10/2015

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Ariel Fagundes