“Antes de ser o maluco beleza, é o meu papai Raul”, diz Vivi Seixas

21/08/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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21/08/2014

A única das três filhas de Raul Seixas que trabalha com música é Vivi Seixas, a caçula filha do penúltimo casamento de Raul, com Kika Seixas. Em homenagem aos 25 anos da morte do cantor, completados hoje, batemos um papo com Vivi, que é DJ de música eletrônica.

No ano passado, conversamos com ela sobre o disco Geração da Luz: Clássicos de Raul Seixas Metamorfoseados (2013) onde ela dá uma nova roupagem a clássicos do seu pai, mas dessa vez a entrevista foi focada na relação dela com Raul, que infelizmente faleceu cedo demais para vê-la crescer e subir em um palco que nem ele fazia.

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Antes do Raul ser um ídolo, ele é o seu pai. Como você se sentia quando criança vendo as pessoas idolatrando ele?

Quando meu pai morreu eu tinha oito anos e quando ele se separou da minha mãe eu tava com seis. Então eu tenho poucas lembranças do meu pai, eu não lembro muito desse assédio com ele. Tenho mais lembranças das brincadeiras que ele fazia comigo, ele era muito divertido dentro de casa, gostava de tirar sarro com a cara de todo mundo. Eu lembro de personagens que ele criava pra mim e me divertia, tinha um personagem que era um camarão que morava no fundo do mar e usava óculos escuros, tinha o Capitão Garfo, que pegava minhas bonecas e botava no congelador. Tenho lembranças assim, gostosas, sabe? Lembro também da gente num hotel catando formiguinha e botando elas dentro de um potinho. Ele era muito engraçado, mas quando eu fazia malcriação ele ficava brabo. Lembro que um dia eu fiz uma malcriação com minha mãe e ele chamou minha atenção na frente de todo mundo em um restaurante e eu morri de vergonha. Ele era educador, sabe? E eu era filha única, né? Toda filha única é meio mimada, né? Então quando eu chegava em São Paulo pra vê-lo ele via que eu tava meio desaforada e me dava bronca. Não lembro muito do assédio dos dãs com ele, pra mim é sempre complicado porque antes de ver o Raul como mito, antes de tudo ele é meu pai. É difícil pra mim. Lógico que eu sei da grandiosidade dele, mas antes de ser o maluco beleza é o meu papai Raul.

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E ele encontrava tempo durante as gravações e turnês pra lhe ver?

Então, volta e meia ele vinha aqui pro Rio, eu lembro que ele fazia surpresas na hora do colégio, aparecia lá do nada, de surpresa. Eu saia da sala e ficava no pátio do colégio falando com ele. Ou então minha mãe me levava pra São Paulo pra gente visita-lo. Minha mãe sempre foi muito boa pra mim, foi um pai e uma mãe. Sentia falta de ter um pai perto, né? Mas eu sempre tive padrastos maravilhosos que cuidaram de mim quando era pequeninha, então nunca tive esse vazio. Mas até hoje eu sinto saudade dele, até hoje me emociono quando ouço as letras.

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O Raul é uma inspiração pra você na música, mas queria saber se você leva pra vida os ensinamentos que ele passa nas músicas.

Levo. O meu pai tem músicas maravilhosas, mas tem algumas músicas deles que realmente foram muito especiais na minha vida. Como eu escolhi ser DJ de música eletrônica, muita gente me criticou, sabe? Até hoje me criticam: “Como é que você não canta? Não toca rock? Não toca guitarra?”. Tem músicas do meu pai que serviram pra momentos da minha vida que foram muito importantes. “Por quem os sinos dobram”, que fala: “não sei onde eu tô indo, mas sei que eu tô no meu caminho. Enquanto você me critica, eu tô no meu caminho”. Teve uma época em que essa música me ajudou muito. Lógico que ele me serve de inspiração, por ser DJ, o meu bom gosto musical, meu repertório, se deve a isso: eu cresci escutando muita música boa desde pequeninha.

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Se você pudesse escolher um lado do teu pai, prefere o lado A ou…

Eu gosto do lado B! Cara, eu gosto de todas as músicas do meu pai, mas as lado B são as que eu mais curto. Até porque o lado tocou muito, eu ouvi demais, acho que satura, enjoa um pouco. Mas as músicas do lado B, que as pessoas não conhecem, são tão maravilhosas quanto.

Em algum momento da sua vida, ficou com algum tipo de ciúmes em relação aos fãs do seu pai?

Não, nunca senti ciúme dos fãs. Sempre adorei, sempre fico muito emocionada com o carinho das pessoas.

Raul e sua filha Vivi

Raul e sua filha Vivi

Tem alguma coisa que tu guarda pra ti e que os fãs nunca vão ter?

Tenho uma gravação do meu pai em que tá eu, ele e a minha mãe. Eu com três aninhos de idade falando no gravador e meu pai cantando no violão, falando pra eu cantar no tom certo. Com três anos de idade! E essa sensação é muito gostosa, eu chorando no colo dele, ele me acalmando, isso é uma coisa só minha, só eu que tenho. E quando as pessoas perdem alguém amado, elas só ficam com as fotos, né? E eu tenho esse privilégio de ter a voz do meu pai sempre cantando pra mim quando dá saudade.

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21/08/2014

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