Depois de lançar o primeiro disco, Ictus (2019), a artista curitibana Vivian Kuczynski imaginava viajar o país com as músicas do álbum, plano adiado para o futuro pós-pandemia. Apesar disso, o desejo de produzir ficou ainda mais forte, afinal, mais tempo em casa significa mais tempo para estudar som, técnicas de gravação e de finalização. Esses aprendizados resultaram nas quatro faixas inéditas do EP N ENTENDI NADA, lançado hoje, sexta-feira, 28.8, pelo selo Balaclava Records. O nome vem de uma brincadeira da cantora com os amigos – “ao discutirem sobre temas abstratos, falam que ‘já entenderam tudo’ sobre o mundo”.
Um breve resumo para quem ainda não conhece a Vivian: a produtora tem apenas 17 anos mas acumula experiência em estúdio desde os 13, quando decidiu registrar as composições do EP Sonder (2017). “Comecei a fazer música muito nova, então aproveitei a minha adolescência para estudar algo que eu gosto e ficar muito boa nisso”, explica Vivian à NOIZE. No momento, está no último ano do Ensino Médio, e pretende fazer faculdade de produção musical: “Nunca reprovei, mas desde o oitavo ano sabia que queria trabalhar com isso. Lembro até hoje: ler sobre como microfonar uma zabumba na aula de inglês da escola”.
Ao mesmo tempo em que desenvolve o projeto autoral, encontra tempo de produzir para outros músicos, caso do álbum Traumas (2020), début do amigo e colaborador frequente, Francisco Wolf. “Não acho que seja mais difícil produzir outra pessoa, é mais desafiador. Tem que lidar com o lado da psicologia, em como tornar o ambiente confortável, e também com a parte prática, mexer nos cabos – são mil fitas para pensar”, explica a compositora. Para Vivian, colaborar significa desapegar de ideias, imaginar caminhos possíveis para a música e desconstruir certos apegos.
“Aproveitei o tempo em casa para colocar os meus estudos de áudio em prática e fazer tudo. Mixagem e masterização foi um desafio porque não tinha ninguém para dar um toque. Precisei me resolver e ter autoconfiança. Penso se está bom porque a primeira pessoa que tem que estar feliz e satisfeita sou eu”, diz sobre a experiência do novo trabalho. Duas das quatro faixas são sobras do Ictus, mas que não se encaixam no próximo disco da cantora, que será mais pop – “em questão de letra, musicalidade e referência”. A estética de N ENTENDI NADA surge de uma pira na música de artistas como Flume e SOPHIE. “Eu estava conversando com o Francisco, porque ele tinha me mandado uma faixa doideira e lembrei que tinha uma música parada”, conta sobre o início do projeto.
O EP serve como uma ponte entre o primeiro e o segundo disco. “Quis fazer algo eletrônico e me desafiar em algo diferente do que eu normalmente faço. Um transição, algo que abriu minha cabeça para experimentar coisas novas”, explica Vivian. O processo criativo da artista começa na melodia de voz, depois chega com as bases e começa a imaginar o instrumental. “Como faço música ‘indie pop’, vejo que a voz é a coisa mais importante da música, a coisa que tem que chamar mais atenção e que precisa estar mais alta na mix”, reflete sobre a produção das faixas.
Todos os salários que recebe se tornam investimentos na carreira, em forma de clipes, fotos de divulgação, artes gráficas, entre outras despesas. “Esse ano estava focada em trabalhar como produtora para outros artistas, juntar uma grana e lançar o meu disco no ano que vem”, diz sobre o plano inicial. Há o sonho de estudar fora em algum momento, talvez tentar um mestrado e participar do meio acadêmico. Entretanto, garante que só iria pra gringa para trazer trazer conhecimento para o Brasil, lugar que conta com pouquíssimo protagonismo feminino no áudio.
Sobre gravar em casa por Vivian Kuczynski:
“Será que invisto em equipamento ou curso? Curso, claro. Equipamento bom ajuda, mas se você entender o que vai fazer, vai saber usar as suas ferramentas e tirar um som do caralho. Desde que comecei a estudar áudio, comecei a fazer compras graduais, são investimentos lentos, mas que aos poucos vão contribuindo no meu home studio, onde gravo todos os meus clientes e as minhas músicas. A primeira coisa seria computador, interface, microfone dinâmico e um lugar sem tanta muita reverberação. Tem muitas coisas que você pode fazer e que podem ajudar. Quanto mais você for entendendo, buscando conhecimento, melhor vai ser seu resultado”.