Estar atento ao que acontece de novo no mundo da música não é uma tarefa tão fácil. Desde o surgimento da revista NOIZE, em 2007, algumas de suas páginas são marcadas pela seção “Bandas Que Você Não Conhece Mas Deveria“, passando por modificações e diversos autores durante esses 15 anos de existência. Hoje, a seção se apresenta consolidada, buscando dialogar com os artistas que o NOIZE Record Club divulga mensalmente.
Durante os doze lançamentos deste ano de 2022 foram destacados 24 artistas que estão despontando na música brasileira, dando uma aprofundada sutil nos projetos de cada um deles. Abaixo você pode conferir uma breve apresentação sobre os trabalhos de Jairo Pereira, Vivian Kuczynski, banda Bagum, Jade Faria, Irmãs de Pau e outros nomes que passaram pela seção neste ano.
Bagum
O nome BAGUM foi derivado da palavra “bagunça”, dando pistas de que ordem não é algo desejado no som do grupo soteropolitano formada por Pedro Oliveira (teclado, sintetizador e efeitos), Gabriel Burgos (bateria), Pedro Leonelli (guitarra) e Pedro Tourinho (baixo). Em seu último projeto, divulgado em agosto de 2022, a banda assinou parcerias musicais com VANDAL, Livia Nery e Paulo Pitta, que podem ser encontradas no EP 16 (2022).
Irmãs de Pau
Os caminhos de Vita Pereira e Isma Almeida coincidiram no Ensino Médio, mas a irmandade se expandiu após o período em uma das maiores ocupações secundaristas na cidade de Barueri (SP). Durante os primeiros meses de isolamento social, em 2020, a dupla concebeu o projeto musical “Irmãs de Pau” como um novo capítulo na música nacional LGBTQIAP+. O disco de estreia Dotadas (2021) foi lançado em setembro de 2021 com dez faixas e participações especiais de nomes como Jup do Bairro, A Travestis e Alice Guél. Na produção musical, Murilo Oliveira (MU540), Badsista, EVEHIVE, Brisalicia, Pov3da e APache. Ao trazerem reflexões e perspectivas sobre a vivência travesti no país líder mundial em assassinato de pessoas trans, conforme dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), a dupla faz poesia ao som de batidas de funk e mostra que as suas provocações extrapolam os limites musicais.
Jade Faria
Em situações de mudanças constantes, nós criamos novas formas de perceber o mundo, a sociedade e encontramos maneiras distintas de nos ancorar em algo para prosseguir nossa trajetória. Alguns olhares se destacam, seja pelo sucesso ou perspicácia, e é por ter esta jovem percepção, de romper com formas tradicionais, que a paulistana Jade Faria trouxe seu primeiro EP Solar (2022), mixado e masterizado por Janja Gomes. Radicada na cidade de São José dos Campos, interior paulista, Faria iniciou seus estudos de piano e sapateado ainda na infância, porém assume que se debruçou nas aulas de violão popular e práticas de canto, com ênfase em belting, somente aos 14 anos. Cinco anos depois, a cantora e compositora iniciou os estudos no Departamento de Artes Cênicas da USP.
Pesquisadora voraz, já teve aulas de flauta transversal, com Vanessa Moreno, e se aprofundou nos estudos de violão com Alfredo Del-Penho. Contemplada pela Cnpq, com uma bolsa de pesquisa acadêmica, tendo como objeto de estudo o processo colaborativo como método criativo no ramo do teatro musical brasileiro, a artista busca em seus estudos – práticos e teóricos – a união da música com o corpo dos mais diversos modos. Em 2021 Faria participou do projeto Wasabi Sessions, recompensado pela Lei Aldir Blanc, em São José dos Campos, onde lançou duas lives sessions de faixas autorais.
Jairo Pereira
Poeta, ator, cantor e compositor, Jairo Pereira leva 28 anos de carreira na bagagem musical, sendo um dos fundadores e vocalistas da banda Aláfia, da qual Xenia França já foi integrante. Mesmo com tantos anos de atividade, o artista entra nesta seção porque seu trabalho solo é parada obrigatória na música contemporânea brasileira e merece ser mais e mais ventilado. Presente no circuito cultural da noite paulistana, sempre próximo do público, o músico, natural de Suzano (SP), fez sua estreia solo com o disco Mutum (2017), lançado de forma independente, que tem produção musical de Gabriel Catanzaro. Dois anos depois, em 2019, o músico lançou Venha Ver o Sol (2019), disco de 12 faixas, gravado no Estúdio Medusa, em São Paulo, e com produção musical de Catanzaro com Janja Gomes. Seu último projeto Monocromático (2022), chegou em agosto passado em formato audiovisual.
L’Rain
Nascida no Brooklin, Taja Cheek, também conhecida como L’Rain, é uma multi-instrumentista, que traz poesia suave em som experimental. Cheek faz músicas que não consegue colocar em gêneros ou caixas. Em entrevista à Something Curated, em junho de 2021, ela afirma: “Eu me importo mais com o que a música faz para os ouvintes do que com o que estou tentando criar. Eu abordo o material de escrita para L’Rain evitando ativamente quaisquer marcadores de gênero claros”. Com dois álbuns lançados, é notório a evolução da artista. Sempre colocando áudios da vida pessoal em algumas faixas, Rain faz com que os ouvintes adentrem também as próprias memórias.
MARTTE
Matheus Gomes é um cantor e compositor paulistano LGBTQIA+ que começou a se interessar pela música ainda na infância, exibindo vocação para a composição desde muito cedo. Hoje, com nome de MARTTE, traduz em suas canções as temáticas de amor, aceitação e autoestima preta. Inserindo-se na indústria fonográfica nacional desde 2017, com o single “Uma Saída”, em parceria com Dubeat, o artista lançou, dois anos depois, seu primeiro álbum, Vem Bem Vindo (2019), indicado a álbum do ano pelo RedBull.com. Sua faixa “Sua Pele” foi eleita a segunda melhor música brasileira de 2019, também pela RedBull.
Em junho, o paulistano lançou o EP FLOR BAIANA (2022), com um compilado de quatro faixas inéditas, que estarão presentes em seu segundo álbum, AMOR É ARTE (2022), previsto para ser lançado neste segundo semestre deste ano. Em papo com a NOIZE, o artista afirmou que as influências para o novo projeto são de artistas como Bad Bunny, Burna Boy e Rihanna, além da musicalidade latinoamericana.
Vivian Kuczynski
Mesmo apesar da pouca idade, a curitibana Vivian Kuczynski, 19, já vem fazendo o seu nome desde os 14 anos, quando lançou o EP intitulado Sonder (2017). Dois anos depois, a artista divulgou seu primeiro álbum solo Ictus (2019) e, no ano seguinte, colocou no mundo o EP N ENTENDI ND (2020), ambos divulgados pelo selo musical paulistano Balaclava Records. Hoje, em 2022, Kuczynski assina como cantora, compositora, produtora e engenheira de mixagem, se mostrando nativa da Geração Z. Obtendo um vasto portfólio, ela mostra que tem fôlego para encarar diversas áreas musicais e já reúne trabalhos com Alice Caymmi, Bruno Capinan, Carol Biazin, Chamaleo, Karen Jonz, Pabllo Vittar, Scalene, Urias e outros.
No ano de 2020, foi indicada a categoria de melhor produtora musical pelo WME (Women’s Music Events Awards), sendo reconhecida nacionalmente por ser uma das profissionais mais jovens do país, tornando-se referência para jovens mulheres e membros da comunidade LGBTQIA+ que almejam destaque no atual cenário do mercado de áudio. Apreciadores de seu projeto autoral podem aguardar novidades, pois o segundo álbum de estúdio está em produção, com previsão de lançamento para o ano de 2023.
VND
Membro do coletivo carioca Covil da Bruxa, formado por jovens músicos que estão construindo novas narrativas de músicas, o rapper mostra que não começou ontem, tendo na trajetória intensas participações em faixas de artistas como Tárcis, LEALL, SD9, OG BRITTO e mais. Nascido no Rio de Janeiro, é do bairro de Honório Gurgel, Zona Norte do município, e traz referências que transitam por Jorge Ben Jor, Djavan e Chico Buarque, os dois últimos aparecem no clipe “Passarelas e Vitrines”, faixa presente no álbum, quando o artista tira da ecobag, do Biscoito Globo, os discos Lilás (1984), de Djavan, e Almanaque (1981), de Chico Buarque.
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